A vida trocou as voltas a Cristiano Bessa que aspirava tirar um curso na área da cyber segurança, mas a pandemia foi o impulso que o transportou até à robótica industrial. E ainda bem, porque, a par com Paulo Ramos, este formando conseguiu conquistar a medalha de ouro no Campeonato Nacional de Profissões que decorreu, recentemente, em Portimão.

Formando do Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica – o CENFIM, em Amarante, Cristiano Bessa é natural de São Mamede de Recezinhos, em Penafiel, e, em entrevista ao Verdadeiro Olhar confessou que, quando decidiu participar neste campeonato “queria apenas terminar a prova”, estando longe de imaginar que iria subir ao topo da competição.

Durante três dias, Cristiano Bessa esteve em Portimão com cerca de 400 jovens, altamente qualificados, e que competiram em mais de 50 profissões, numa verdadeira prova de competências.

É uma espécie de Jogos Olímpicos, onde os participantes são atletas de alta competição nas áreas profissionais que representam, sendo que podem participar formandos entre os 17 e os 25 anos, que frequentam ou concluíram um percurso de qualificação na área da educação e formação profissional.

Paulo Ramos e Cristiano Bessa

Para chegarem ali, os concorrentes passaram por fases de pré-selecção e provas regionais disputando, depois, o título de campeões nacionais em cada profissão. As áreas representadas vão desde a cyber segurança, condução de drones, cloud computing, cad construção civil, desenvolvimento de jogos digitais, electrónica, gestão de redes informáticas, jardinagem paisagística, padaria, reportagem TV editor de imagem, cerâmica criativa, joalharia, entre outras.

Cristiano Bessa tem 21 anos e quando era criança gostava de “tudo o que estivesse ligado à informática” e todo o seu percurso profissional e académico “tem sido uma feliz coincidência”. Depois de ter estudado no Externato de Vila Meã, fez uma formação em electromecânica de automóveis e de computadores. Depois de estagiar numa empresa de Penafiel, que opera na área de equipamentos de ventilação e ares condicionados, acabou por ficar e ali trabalha até hoje.

Após a pandemia, decidiu matricular-se no CENFIM, em Amarante, altura em que a sua vida e as suas opções mudaram. Fez uma formação de técnico Especialista em Tecnologia Mecatrónica e, mais tarde, aventou-se “a possibilidade de participar neste campeonato”, contou.

Como não tinha bases nesta área da robótica industrial, aplicou-se. Foi-lhe dada a oportunidade de fazer uma formação na FANUC, uma empresa de engenharia mecânica e eletrónica japonesa, especializada, entre outros, na construção de robôs industriais, muito utilizados na indústria automobilística.

E “aos sábados ia para as aulas”, sendo que no pouco tempo livre que lhe restava preparava-se para a prova, o que aconteceu “ao longo de um mês e meio”. Foi então a este 45.º Skills Portugal “e correu muito bem”, aliás, “não podia ter resultado melhor””, frisou ao Verdadeiro Olhar.

A par da prestação deste jovem estudante penafidelense, os formandos do Núcleo do CENFIM de Amarante arrecadaram mais duas medalhas de ouro, uma de bronze e duas de excelência.

Grupo da CENFIM que participou no Campeonato Nacional de Profissões

Cristiano Bessa refere que estas distinções “acabam por ser uma montra para as empresas” e, a verdade, é que desde que ganhou a prova tem “recebido contactos”. Reconhece que a formação profissional “não é uma área muito valorizada em Portugal”. “As pessoas têm uma visão muito distorcida destes cursos”, mas “são válidos e há que realçar que há muitas saídas profissionais, somos sempre alunos muito requisitados”.

Em relação ao futuro, Cristiano Bessa diz que vai “continuar a apostar na formação e aquisição de conhecimentos”, de forma a conseguir voos mais altos ao nível de realização profissional.

Região faz “formação profissional de excelência”

Instado sobre estes prémios arrecadados pelos formandos do CENFIM, o director daquele estabelecimento de ensino destacou que provam que “a região está na linha da frente e que faz formação profissional de excelência, temos os melhores jovens do país”, sublinhou. José Silveira defende que, com estas iniciativas, “ganham todos, os alunos e as empresas”, realçando o “esforço e dedicação destes formandos que abdicaram do seu tempo livre para se prepararem para as provas”. O dirigente reconhece que, de ano para ano, este Skills Portugal “é cada vez mais exigente” e é ali que estão presentes as marcas líderes mundiais nas mais variadas áreas.

José Silveira não deixa de sublinhar a importância destes alunos da CENFIM de Amarante para “o Tâmega e Sousa”, porque esta região tem um denso tecido empresarial. Mas, também defende que “é preciso mudar as mentalidades” sobre estes cursos, de forma a atrair cada vez mais jovens e adultos, porque “a indústria é a roda da sociedade em que vivemos e é preciso ter cada vez mais profissionais qualificados”.

O próximo passo destes medalhados passa por representar Portugal na Europa, em Setembro deste ano, na cidade de Gdansk, na Polónias, seguindo-se o Campeonato do Mundo, marcado para Lyon, França, e que vai decorrer em 2024.