Hoje, decidi embarcar numa aventura quase mítica: descobrir o horário de um autocarro da rede UNIR na Área Metropolitana do Porto. Partilho convosco esta jornada digna de Homero – se Homero tivesse a desdita de precisar de transportes públicos no século XXI.

Ao entrar no site da UNIR, sou recebido com promessas dignas de uma utopia de transporte: ligações frequentes, cobertura ampla, tempos de espera reduzidos – enfim, a panaceia da mobilidade urbana. Encorajado, avanço para o passo lógico seguinte: “Descubra o Horário”. Eis que me deparo com o primeiro enigma desta odisseia: escolher entre cinco “Lotes” ou uma “Linha”. Opto pela “Linha Paredes”, esperando informações claras e directas. Em vez disso, abro um documento em PDF onde encontro uma lista de números de autocarros, sem ideia de origem ou destino. Aparentemente, a UNIR espera que eu seja versado em adivinhação.

Regressando aos “Lotes”, tento a minha sorte com o “Lote 2” de Paredes. O que encontro é um documento em PDF com 168 páginas de texto minúsculo. Sim, para descobrir o horário do próximo autocarro tenho de percorrer um documento com 168 páginas, um verdadeiro labirinto de informações – se o Minotauro existisse, estaria certamente escondido na página 137. Este documento, impraticável em qualquer ecrã de computador e menos ainda num telemóvel, leva-me a questionar: por que não existe uma ferramenta simples, idêntica à que existia nos anteriores operadores, onde bastava escrever onde estava e para onde queria ir e me mostrava os vários autocarros e horários disponíveis?

A UNIR, concebida como solução para os problemas de mobilidade, transformou-se num paradoxo ambulante (ou deveria dizer “rodante”?). Desde autocarros-fantasmas que jamais aparecem até horários tão fictícios quanto as personagens da mitologia, a experiência do utilizador comum assemelha-se mais a um episódio de uma série de comédia de erros do que a um serviço de transporte público eficiente.

Mas a falha não é apenas da empresa. Os autarcas, aparentemente alheios ao caos que ajudaram a criar, parecem esquecer que a mobilidade urbana é um direito, não um luxo. Talvez, em vez de se deixarem transportar nas viaturas camarárias – mesmo que tal prática desafie a legalidade –, devessem experimentar, por um dia que fosse, a realidade do cidadão comum: apanhar um autocarro da UNIR à porta de casa para irem para a câmara municipal. Tal experiência, garanto-vos, seria mais elucidativa do que qualquer reunião em gabinetes confortáveis.

Fico por aqui, ainda a tentar decifrar o roteiro para uma viagem simples de autocarro, algo que deveria ser trivial, mas na realidade é uma tarefa digna de um herói mitológico. Quem sabe, talvez um dia, a UNIR e os autarcas desta região finalmente compreendam que facilitar o acesso à informação não é apenas uma questão de conveniência, mas uma obrigação para com a população que servem.