A regueifa e o biscoito constituem dois dos ex-libris do concelho de Valongo. Na Padaria e Pastelaria A Tradicional há espaço para ambos. Segredos, não há, garante o proprietário Abílio Lopes. “A minha regueifa não tem segredo nenhum. É como toda a gente faz. Depois é o carinho que a gente dá às coisas se calhar”, explica.

Todos os domingos são confeccionados, nas instalações de Valongo, cerca de 600 quilos de regueifa, o que se traduz entre 900 a 1.200 regueifas, dependendo do peso. Diariamente são ainda produzidos entre sete a oito mil pães e centenas de pastéis.

“Nunca trabalhei em mais área nenhuma. A única coisa que sei fazer é pão e biscoitos e pastéis”, brinca o valonguense.

Começou na pastelaria aos 15 anos

Abílio Lopes tem 46 anos e é natural de Valongo. Na família não havia qualquer ligação à panificação. Só o pai chegou a ter uma fábrica de biscoitos. Começou na pastelaria aos 15 anos e não parou mais. Diz que não sabe fazer outra coisa. Das suas mãos saem, diariamente, centenas de pães e pastéis ou biscoitos. A pastelaria é a sua área preferida, não esconde. Formação? Não teve. “Nunca estive em nenhuma escola de hotelaria nem nada. É a formação da vida”, conta.

A Tradicional nasceu em 1999, na Rua Vasco da Gama, pela mão dele e da esposa. “Quando viemos para aqui era só padaria, não tinha a parte da pastelaria nem biscoitaria, consoante passou o tempo fomos adaptando a casa às condições do mercado”, recorda Abílio Lopes.

“Passado meio ano fizemos cafetaria, que isto nem cafetaria tinha, era um simples balcão de madeira de padaria”, acrescenta. Foi crescendo e surgiram duas novas casas sob o mesmo nome, uma em Alfena, na Rua Primeiro de Maio, e outra em Cete, Paredes, na Avenida Pinto Lopes. “Quando começamos tínhamos dois funcionários, actualmente somos vinte”, dá como exemplo.

Nas instalações de Valongo há trabalho de dia e de noite. “Começa-se à meia noite no fabrico da padaria e pastelaria até às 8h00, 9h00 da manhã, depois trabalha a cafetaria até às 21h30”, diz o proprietário.

Na A Tradicional há todo o tipo de pão, pastelaria e biscoitos. “O que se produz mais é o pão bijou ou molete. Fazemos uma média de sete mil a oito mil pães por dia”, refere Abílio Lopes. O pão-de-ló e o bolo rei mesmo fora da época também são muito procurados, acrescenta.

Depois há a regueifa, “o pão do domingo”, dos feriados e também dos sábados. “Estamos a amassar actualmente uma média de 400 quilos de farinha ao domingo. Isso dá cerca de 600 quilos de regueifa. Se for em regueifas de meio quilo dá 1.200 regueifas, se forem de um quilo e de meio são cerca de 900 a mil que fazemos ao domingo”, conta o padeiro.

Feira da Regueifa e Biscoito veio revitalizar produto “quase esquecido”

“A regueifa é uma massa simples, com pouca água. Leva entre 45 a 50% de água. É uma massa que precisa de certo tempo de fermentação para sair boa regueifa, de resto não há segredo nenhum a fazer regueifa”, começa Abílio Lopes, antes de nos guiar, passo a passo, pelo processo de fazer uma regueifa.

“A gente começa por amassar depois deixa a massa estancar normalmente três quartos de hora. Depois vai a um sovador, para lhe tirar a fermentação. Então é feita a regueifa e leva mais três quartos de hora para fermentar para depois poder ser cozida, por 20 a 25 minutos”, descreve. Na altura das festas, é sempre enfeitada.

O padeiro e pasteleiro reconhece que este produto, que marcou a história de Valongo, estava “esquecido”. “Quando apareceu a Feira da Regueifa e do Biscoito e a Confraria da Regueifa e do Biscoito ajudou muito a divulgar este produto que estava quase esquecido”, argumenta.

A indústria do pão e do biscoito é, a par da lousa, “uma das principais indústrias do concelho”. Há muita concorrência, assume, mas é saudável.

E a fama do pão de Valongo traz muita gente ao concelho. “Isso nota-se principalmente na Feira da Regueifa e do Biscoito. Vem muita gente de fora à procura do pão e do biscoito”, conta. A Tradicional participa todos os anos, porque é uma feira que ajuda a divulgar o produto e que compensa, assume. “Já ganhamos um segundo prémio no melhor fidalguinho e um terceiro prémio no biscoito de milho”, refere com orgulho.

Nessa altura, afirma, há “triplo ou o quádruplo do que é habitual” de procura pela regueifa e pelo biscoito. “No domingo da festa a gente não consegue dar vazão à regueifa. Há sempre alguém que não leva regueifa por não haver”, garante Abílio Lopes.