A menos de duas horas de cessar funções como presidente da Câmara Municipal de Paredes, Celso Ferreira decidiu fazer três homenagens controversas.

As duas primeiras foram a atribuição da Medalha de Ouro do Município ao ainda seu vereador Pedro Mendes e ao seu chefe de gabinete Luciano Gomes. A Medalha de Ouro tem como objectivo distinguir os cidadãos e instituições que se destacam pelos seus méritos pessoais ou feitos cívicos. E é exactamente sobre a evidência da existência destes méritos nos dois homenageados que poderá haver genuínas dificuldades em confirmar. Como a decisão terá que ser ratificada pelo actual executivo, já se verá se as medalhas terão que ser ou não devolvidas ao Município.

A terceira homenagem foi a Jorge Malheiro. No seu último acto como presidente da Câmara, Celso Ferreira elaborou um despacho que altera o nome da rotunda à entrada da cidade de Paredes de “Rotunda 25 de Abril” para “Rotunda Jorge Malheiro”.

Para que se compreenda a importância deste despacho é importante lembrar que Jorge Malheiro foi presidente da Câmara pelo CDS-PP durante 17 anos (19 de Agosto de 1977 a 30 de Dezembro de 1993).

Quando assumiu a presidência da Câmara Municipal, já vivia na Quinta D’Além, onde continua a residir. Não é conhecido por ter enriquecido durante os seus 17 anos de autarca, nem tão-pouco foi alguma vez acusado de negócios menos sérios. Foi sempre um adepto fervoroso do União Sport Clube de Paredes, mas diz-se que fazia questão de ir ver os jogos fora no seu próprio carro. Se estamos todos sujeitos a que sobre nós se diga tudo, é de justiça que se diga que, durante 17 anos, serviu sem nunca se ter servido.

No seu último mandato, conseguiu que fosse construída uma ligação da cidade de Paredes à Auto-estrada n.º 4. Nessa altura, construiu-se uma rotunda para servir esse acesso e, por unanimidade, os vereadores decidiram atribuir o seu nome a essa rotunda. A proposta foi votada na Assembleia Municipal e o resultado foi o mesmo: os representantes dos partidos votaram por unanimidade que a rotunda à entrada da cidade haveria de chamar-se Jorge Malheiro.

Pouco tempo depois, Jorge Malheiro perdeu as eleições para o PSD e o novo presidente da Câmara, Granja da Fonseca, na primeira oportunidade, tratou de mudar o nome à rotunda, renomeando-a “Rotunda 25 de Abril”. Na altura, à excepção dos eleitos pelo PSD, ninguém compreendeu a atitude de Granja da Fonseca.

Entretanto, passaram-se quase 24 anos, o clima de crispação foi-se aliviando e, hoje em dia, provavelmente Granja da Fonseca não teria tido a mesma atitude. Até porque o mesmo Granja da Fonseca aceitou ter ruas e avenidas no concelho com o seu próprio nome. Por isso, repor o nome original da rotunda, para além de um acto nobre, é uma questão de justiça.

É certo que podemos questionar-nos por que é que Celso Ferreira esperou 12 anos para proceder a esta alteração, mas mais vale tarde do que nunca. Esperemos que nesta decisão, que também terá que ser ratificada pelo novo executivo municipal, impere a justiça e o bom senso, até porque, pelo que parece, a medida agrada à população da cidade.