Na análise dos resultados eleitorais desta semana, torna-se essencial olhar detalhadamente para os números, que revelam tendências e mudanças significativas tanto a nível regional como nacional.

Na nossa região, o Partido Socialista (PS) emerge como vencedor em concelhos como Lousada, Penafiel e Valongo. No entanto, esta vitória é marcada por uma perda acentuada de votos. Por exemplo, em Lousada, apesar da vitória, o PS sofre uma redução dramática, perdendo mais de 17% dos votos em relação às últimas eleições legislativas.

Em Valongo, o PS alcança o seu melhor resultado na região, com 31,82% dos votos, contrastando com o desempenho da Aliança Democrática (AD), que aqui obtém o seu pior resultado regional, com apenas 25,36% dos votos, bem abaixo dos 32% que regista na média dos restantes concelhos.

Interessante notar que em Paços de Ferreira, apesar da AD ter vencido, regista-se a maior queda comparativa a 2022, quase 3%. Paralelamente, é neste concelho que o Chega consegue o seu melhor resultado regional, alcançando 19,35% dos votos. Em contraste, em Penafiel, o Chega obtém o seu resultado mais baixo na região, com 15,33%.

Olhando para o panorama nacional, duas forças políticas destacam-se claramente: o Chega, que quadruplica o seu número de deputados, e o Livre, que não só aumenta o número de deputados, mas também é o único partido à esquerda a registar crescimento.

O Partido Socialista, enfrentando uma noite eleitoral desfavorável, perde significativamente tanto em termos de votos quanto em representação parlamentar, com uma redução aproximada de 40 deputados. Este resultado coloca o PS como o grande derrotado das eleições. Do outro lado do espectro, a Aliança Democrática celebra uma vitória, mas com moderação. Embora tenha vencido, o aumento do seu apoio é modesto, com um acréscimo de pouco mais de 100 mil votos em comparação aos resultados de 2022. Este crescimento limitado da AD, em contraste com a perda de mais de 542 mil votos do PS e o aumento de 576 mil novos eleitores, indica uma potencial migração direta de eleitores descontentes para o Chega, refletindo uma mudança notável na dinâmica eleitoral do país.

Este cenário eleitoral não nos permite inferir uma base eleitoral predominantemente racista, xenófoba ou fascista. Pelo contrário, indica uma procura por alternativas fora dos partidos tradicionais, reflexo de um descontentamento generalizado com as opções políticas disponíveis.

Não é possível falar nestes resultados eleitorais sem falar de Marcelo Rebelo de Sousa. A performance do Presidente da República nestas eleições transcende a mera observação passiva, assumindo um papel ativamente disruptivo na paisagem política. As suas contínuas e, por vezes, controversas intervenções na esfera política ultrapassaram os limites do seu papel constitucional, criando um clima de incerteza e desconfiança entre os eleitores. A sua conduta, que muitos considerariam mais adequada a um comentador político ou líder partidário do que a um chefe de Estado, resultou numa erosão significativa da estabilidade governamental. Esta postura não só desafiou as fronteiras da neutralidade presidencial como também pavimentou o caminho para o cenário tumultuado que enfrentamos agora, potencialmente precipitando a necessidade de futuras eleições legislativas. Nestas circunstâncias, o Presidente da República emerge não como um árbitro imparcial, mas sim como um protagonista controverso e, para muitos, o verdadeiro artífice desta crise política.

O momento atual parece-me grave e complexo. É crucial que todos os atores políticos ajam com responsabilidade, tendo em vista o futuro do país. Estamos perante um período de incerteza, onde as decisões tomadas agora podem definir o panorama político português nos próximos anos.