O que antes foi um aterro – 19 hectares de terreno que receberam, durante mais de 30 anos, cerca de 2,5 milhões de toneladas de resíduos – deu lugar a um lugar onde a população pode entrar em contacto com a natureza e praticar desporto. Todos os anos, milhares de pessoas visitam o Parque Aventura e o Trilho Ecológico da Lipor – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, em Ermesinde (Valongo) e Baguim do Monte (Maia). Prosseguindo essa política de devolver o espaço à comunidade foi também criado o Moinho do Rio – Centro de Interpretação Ambiental do Rio Tinto.

“Integrado naquilo que é a política de recuperação de passivos da Lipor e dos seus municípios associados não podíamos deixar este espaço fechado e tínhamos de o devolver à comunidade. Foi isso que procuramos fazer. Transformar este espaço, recuperá-lo, adaptá-lo e garantir que a comunidade pudesse novamente usufruir dele, garantir que ele deixasse de ser um passivo e passasse a ser um activo neste território que ocupamos”, explica o gestor da Unidade Educação e Formação Ambiental da Lipor, Emanuel Monteiro.

Espaço de lazer e aprendizagem com várias vertentes

Um espaço de promoção de cultura, desporto e responsabilidade ambiental. Foi nisso que a Lipor procurou transformar um local antes conhecido por muitos como a origem de maus-cheiros.

“Quando as pessoas aqui chegam deparam-se com um espaço desportivo, lúdico-pedagógico, com um parque infantil, um Parque Aventura, Trilhos Ecológicos, percursos ambientais que podem explorar, explorando não só aquilo que é a actividade física, mas também aquilo que é a capacidade que nós temos, com este espaço, de promover uma consciência ambiental mais forte junto do cidadão”, refere Emanuel Monteiro.

O trabalho desenvolvido é no sentido de garantir “uma aproximação da comunidade cada vez maior ao ambiente, à prática de desporto saudável e de uma alimentação saudável”. “Procuramos garantir que saem daqui mais informados do que o que chegaram”, sustenta ainda o gestor da Unidade Educação e Formação Ambiental.

Depois da selagem do aterro, em 2009, começaram a dar-se passos no sentido de criar o Parque Aventura. Já o Trilho Ecológico da Lipor tem raízes em 2015, com a meta de fazer uma ligação entre o apeadeiro da Palmilheira e o Parque Aventura. “Fizemos um caminho pedonal que no ano seguinte foi complementado por um passadiço junto ao Rio Tinto”, conta o técnico da Lipor. “Nos anos que se seguiram o que procuramos fazer foi fazer o alargamento desse passadiço, criando o trilho, percorrendo e utilizando o Rio Tinto como um activo natural que promove o próprio trilho e garantindo que este activo natural passa a ser mais respeitado, passa a ser mais conhecido, e de alguma forma conseguirmos que seja devolvido à comunidade”, acrescenta.  

Dar a conhecer o “lado B” da Lipor

O Trilho Ecológico tem quatro quilómetros, sendo 300 metros “exclusivamente dedicados à preservação e monitorização contínua do Rio Tinto”. “Em 2017, fizemos uma parceria com o projecto Laboratório Rios Mais onde fizemos uma renaturalização das margens com práticas de engenharia natural que promovem o aumento claro da biodiversidade neste mesmo espaço”, perfazendo mais uma etapa do processo de aproximação daquele curso de água à comunidade.

“O que nós queremos é que as pessoas olhem para este espaço como um espaço de incentivo àquilo que são práticas de sustentabilidade e que olhem para o activo natural que temos à nossa disposição como algo que pode ser potenciado e que valoriza o território”, afirma Emanuel Monteiro.

Já em 2018, um ano mais tarde, nasceu o Centro de Interpretação Ambiental do Rio Tinto “com o objectivo de trazer mais informação à comunidade” e de criar “um elemento físico que as pessoas reconheçam não só como informativo, mas também como colaborativo dentro do projecto de aproximação ao Rio Tinto”. “Toda a gente conhece o lado ‘A’ da Lipor, que somos uma grande empresa de gestão de resíduos com grandes preocupações ao nível da gestão ambiental, mas queremos que as pessoas conheçam também o lado ‘B’ da Lipor, o da promoção da biodiversidade, preocupação da valorização do território, e é com esse objectivo que surge este centro de interpretação”, defende o gestor da Unidade Educação e Formação Ambiental.

Um ‘peixe’ com duplo sentido

Na fachada é ostentada a escultura do artista Bordalo II, “Peixe”, que simboliza todo o processo de renaturalização e recuperação que está a ser levado a cabo no troço do rio Tinto que passa no Trilho Ecológico da Lipor, e por outro os princípios da Economia Circular e da reutilização, em que os resíduos passam a ser olhados como matéria-prima. “O Peixe representa duas coisas fundamentais. A nossa vontade de voltar a ver peixe neste rio, mas também é um reflexo do que é o consumo nos nossos dias já que é feito de materiais reutilizados e reflecte o descarte” que acontece no dia-a-dia, sustenta.

As actividades organizadas, não se cingem ao Trilho ou Centro de Interpretação, mas espalham-se pelos 19 hectares de terreno.

Desde 2019 têm sido organizados eventos dirigidos especialmente ao público escolar, chamando-a a fazer parte do projecto e a meta é intensificar essas acções para que os mais novos abracem o Rio Tinto.

“O objectivo é que as escolas que estão relativamente próximas a este curso de água o valorizem mais, percebam qual é o impacto natural que tem e que participem na sua renaturalização”, adianta Emanuel Monteiro. “As crianças são um veículo essencial na nossa estratégia de promoção da biodiversidade e de formação ambiental. Temos consciência que é através das crianças que temos de chegar aos adultos”, apesar de os pais serem também convidados a vir conhecer e a participar no projecto, refere.

Já existe também um guarda-rios, esclarece, que faz diariamente a monitorização do curso de água naquele local para avaliar parâmetros de qualidade, identificar possíveis descargas ilegais e accionar rapidamente as autoridades.

Trilho muito visitado

Nos últimos anos, o Parque Aventura e Trilho Ecológico recebe, em média, a visita de cerca de 70 mil pessoas ano (à excepção do que aconteceu durante este período de pandemia).

“São cerca de 60 pessoas diárias a circular no Trilho, 1800 pessoas que mensalmente vêm caminhar, correr, partilhar o seu dia-a-dia neste trilho e que depois se juntam ao conjunto de actividades que desenvolvemos no Parque Aventura”, explica Emanuel Monteiro. Mais que isso, é um espaço aberto a um público dos oito aos 80 chegando a todas as idades.

Quem visita é quem mora perto, mas também há quem venha de fora, com a vontade específica de percorrer o trilho. “São essas pessoas que nos fazem também tentar inovar e trazer mais informação ao trilho, comunicá-lo de outra forma. Temos uma rede wi-fi neste espaço, um roteiro virtual do Trilho Ecológico disponível onde as pessoas podem, antes de nos visitarem fisicamente, perceber o que podem encontrar aqui de forma virtual. Isso tem sido um chamariz para trazer pessoas de todo o mundo a este espaço”, acredita.

A meta passa agora por lançar um plano de actividades directamente relacionado com o rio e o Centro Interpretativo garantindo que são promovidas actividades de investigação, de monitorização ambiental de exploração da biodiversidade existente no espaço.

(Nota: Estas imagens foram recolhidas antes da pandemia)