A ideologia do género – considerações sobre as malformações congénitas

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Ficamos às vezes admirados pelos preconceitos que afetam as conclusões de cientistas. A New Atlantis, Revista da Universidade de Johns Hopkins[1], em artigo sobre sexualidade, de Lawrence S.Meyer e Paul R.McHugh afirma […]  ” que não há evidência científica de que a orientação sexual seja uma propriedade biológica inata» e “que ninguém nasce assim determinado”. O artigo continua sempre nesta orientação e termina com a conclusão: “Quando os conceitos determinam os preceitos, a ideologia deturpa os factos e a ciência sofre.” [2]

E eu diria: quando a ideologia deturpa os factos, a ciência sofre e os preconceitos determinam os conceitos.

Vamos descrever algumas malformações congénitas e verificar como afinal as alterações de genes durante o processo da organogénese[3], por alterações cromossómicas provocadas pela falta de disjunção na meiose dos gâmetas [4], têm como consequência não apenas malformações anatómicas[5] mas também graves deficiências psicológicas. Na realidade os genes determinam não só a anatomia mas também a “psique”, isto é o psiquismo e, queiram ou não, os homens nascem determinados pelos seus genes.

Isto fica perfeitamente claro no estudo científico das malformações genéticas.

Eis algumas.

Síndrome de Kleinfelter. [6]

Normalmente as células humanas têm 46 cromossomas. Por vezes na meiose dos gâmetas[7] não há a normal separação ou disjunção dos dois cromossomas X e na última meiose um óvulo em vez dos 22 cromossomas autossómicos e 1 cromossoma X, fica com 22 autossómicos e dois X. Quando o óvulo é fecundado pelo espermatozoide com os seus 22 cromossomas autossómicos e 1 cromossoma Y, o zigoto ou a primeira célula embrionária fica com 44 cromossomas autossómicos e 3 cromossomas sexuais, XXY, isto  é  47 cromossomas, Esta malformação aparece 1/ 500 casos de embriões, que tem sexo masculino. Apresentam atrofia testicular e ginecomastia.[8] Temos neste caso dois fenótipos no mesmo indivíduo, masculino e feminino. São claramente determinados por alterações dos genes, não tendo a educação ou o ambiente social qualquer intervenção.

Síndrome de Turner[9]

Neste caso as células do zigoto ou embrião por alterações semelhantes às do caso anterior, têm, além dos 44 cromossomas autossómicos, apenas  um cromossoma X ou um cromossoma X e outro  X incompleto, isto é 45 cromossomas  e um X incompleto ou ausente, em vez de 46.

Nestes casos, com a frequência de 1/3000 o embrião é feminino mas há ausência de ovários e atraso mental.

Síndrome do X triplo

Neste caso há 3 cromossomas X, a trissomia X. O sexo é feminino e os carateres sexuais não se desenvolvem bem. É frequente o atraso mental. [10]

Síndrome de Down.

Há 3 cromossomas n.º 21. Frequência 1/600. Atraso mental e mongolismo.[11]

Trisomia do cromossoma 18.[12]

Frequência 1/3000. Atraso mental e deformações diversas. Habitualmente não sobrevivem mais que 4 meses.

Temos assim claramente, além de uma anatomia, uma “psique” ou psiquismo profundamente alterados por defeitos genéticos.

Os genes determinam sem qualquer dúvida o psiquismo e  os instintos, que se definam rigorosamente como tendências inatas, não aprendidas, que condicionam a conservação individual e da espécie.

Negar que “a orientação sexual seja uma propriedade biológica inata” é o mesmo que negar o instinto e os instintos. Sem  os instintos nenhum recém nascido vivia nem nenhuma sociedade humana se mantinha. As crianças morriam pouco depois de nascerem e as sociedades humanas extinguiam-se, por falta dos instintos da sobrevivência e sexual.

Nem os recém nascidos são ensinados a mamar[13] nem  os animais aprendem a reproduzir-se. E os homens de pouca ou nenhuma aprendizagem necessitam. O instinto da conservação e sexual são inatos com todo o rigor científico.

Termino com uma passagem de Bento XVI, exatamente sobre a ideologia do género, segundo a qual não é a natureza mas a liberdade humana que constrói os sexos.

«Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência de seu ser.»[14]

Luís Sena Esteves

 

[1] Baltimore,Maryland.

[2]  Em “Born This Way”, Scentific American , December 2016.

[3] Período da vida embrionária em que se formam os órgãos humanos, desde a quarta à nona semana da gravidez.

[4] Óvulos e espermatozoides,  durante o processo de meiose,  ficam com metade do número dos cromossomas humanos, como resultado de uma separação prévia dos componentes cromossómicos. Por vezes não se verifica a separação.

[5] Embriologia humana y del desarrollo, Bruce M.Carson, Editor Elsevier España, 2014, pag.8.

[6] Embriologia Humana, Luis Maria Gonzalo e Marian Lorente, Ediciones Eunate, 2004, Pamplona., pag 63 e seg.

[7] Ver artigo anterior. Óvulos e espermatozoides.

[8] Aumento das glândulas mamárias.

[9] Op.cit. Embriologia Humana, pag 64

[10]  Ibidem pag. 64

[11] Ibidem, pag. 64

[12] Ibidem pag. 64

[13]  Quem vive no campo observa como um cordeiro, recém nascido, imediatamente se levanta, é cheirado pela ovelha, procura o teto e começa a mamar. O recém nascido humano basta que a mãe o ponha ao peito para que ele imediatamente mame. É o instinto inato, sem aprendizagem.

[14] Discurso do Papa Bento XVI à Cúria Romana na apresentação de votos natalícios, 21 de Dezembro de 2012.