Tem 67 anos, é reformado, membro da Comissão Concelhia de Paços de Ferreira, da Direcção da Sub-região do Vale do Sousa e Baixo Tâmega e da Direcção Regional do Porto do Partido Comunista Português.

Armando Amorim foi o escolhido para liderar a candidatura da CDU à Câmara Municipal de Paços de Ferreira. A Coligação Democrática Unitária apresenta também candidaturas à Assembleia Municipal e às 12 assembleias de freguesia do concelho.

Em entrevista, Armando Amorim salienta que a CDU faz muita falta nos órgãos executivos do concelho e diz não entender como é que, no século XXI, continuam por resolver vários problemas que considera prioritários, como a rede de saneamento básico ou das más infra-estruturas da rede viária, ao mesmo tempo que Paços de Ferreira tem uma das câmaras mais endividadas do país.

A ambição passa por eleger, no mínimo, representantes para a Assembleia Municipal.

Porque aceitou ser o candidato da CDU à presidência da Câmara de Paços de Ferreira?

Como é normal no partido, há uma discussão, um levantamento de nomes. Chegaram ao meu nome e aceitei, tendo consciência da responsabilidade do que isso representa, mas, também, com a consciência política de a CDU ter candidatos a todas freguesias, à assembleia municipal e à câmara.

Aceitei como mais uma tarefa do partido. Nunca tive pretensão de ser candidato.

 

O que seria um bom resultado para a CDU nestas eleições autárquicas?

Aumentar o número de votos é o objectivo principal da CDU. Há quatro anos tivemos um ligeiro aumento. Pelas nossas contas, se não houvesse a agregação das freguesias, teríamos elegido um membro para a Assembleia Municipal, que era eu precisamente.

Pretendemos ter mais votos que os que tivemos há quatro anos. Queremos eleger o maior número possível de pessoas tanto às assembleias de freguesia, como na Assembleia Municipal como na Câmara Municipal. Temos consciência que a CDU faz falta. É uma força política que faz falta em Paços de Ferreira pelo conhecimento de gestão autárquica que tem em muitas autarquias e com resultados excelentes.

Verificamos que, desde o 25 de Abril, quem tem governado, com maus resultados, é um centrão político que, também a nível nacional, deu maus resultados. Entendemos que é fundamental uma representação da CDU seja na Assembleia Municipal, seja na Câmara Municipal. O povo de Paços de Ferreira é que irá decidir no dia 1 de Outubro.

Mas o que é que esta candidatura traz de novo?

A minha recandidatura traz um projecto renovado, traz uma equipa nova, com mais motivação, mais força, mais energia, com gente nova, quer para as juntas de freguesia quer para a câmara e assembleia municipal.

Conseguir um representante na Assembleia Municipal já seria uma vitória?

Seria uma vitória, porque há dezenas de anos que não temos representante na Assembleia Municipal, e nunca tivemos ninguém no executivo camarário.

O único eleito que temos no concelho de Paços de Ferreira é na Assembleia de Freguesia de Freamunde e isso é insuficiente. Entendemos que a CDU é uma voz indispensável, uma voz dos trabalhadores e do povo na defesa da melhoria das condições de vida dos trabalhadores, ajudando a resolver uma série de problemas que existem em Paços de Ferreira. É fundamental a eleição de gente da CDU, mas para isso vamos fazer o trabalho que é preciso fazer, o contacto porta-a-porta e a distribuição de documentos.

Não fazemos uma grande diferença entre o PS e o PSD. Enfermam do mesmo populismo, da mesma demagogia, das mesmas promessas fáceis e não cumpridas

Como é que caracteriza os últimos quatro anos de liderança do PS em Paços de Ferreira?

Não fazemos uma grande diferença entre o PS e o PSD. Enfermam do mesmo populismo, da mesma demagogia, das mesmas promessas fáceis e não cumpridas.

Em 2013, uma das promessas que fizeram passava pela remoção dos telhados de amianto do Bairro do Outeiro, em Freamunde, e isso até ao momento não foi removido.

Apesar de o PS só há quatro anos ter chegado à gestão da autarquia, desde o 25 de Abril esteve sempre na Assembleia Municipal que é, por excelência, o órgão fiscalizador, o órgão mais importante. O que é que eles estiveram lá a fazer? Nada. Vemos que houve a privatização da água, que a CDU contesta, houve a entrega da recolha dos resíduos sólidos à SUMA, com problemas. É frequente verem-se dias e dias os contentores cheios. É prejudicial à saúde.

 

Está a dizer que o concelho de Paços de Ferreira foi sempre mal gerido?

Foi. É a conclusão óbvia que temos de tirar. O concelho tem uma das maiores dívidas municipais e tem problemas que já não se admitem em pleno século XXI, como a cobertura do saneamento básico, falta de médicos de família, redes viárias em muito mau estado que foram, agora, remendadas, em véspera de eleições, mas durante três anos estavam quase intransitáveis. Se isso acontece, por que razão há uma dívida tão grande? A CDU não está na Assembleia Municipal e no executivo para questionar directamente. A ETAR de Arreigada é um foco infeccioso de doenças, com um cheiro nauseabundo, que devia ter sido resolvido há muitos anos e não foi. Aonde é que foi feita a dívida?

O concelho tem uma das maiores dívidas municipais e tem problemas que já não se admitem em pleno século XXI

A oposição não soube fazer o devido escrutínio, não só nos últimos quatro anos mas também no passado?

Exacto. Quando foi da privatização da água, que foi um acto muito lesivo para os pacenses, o PS absteve-se, salvo erro, nessa votação. Nunca se viu o PS a movimentar-se sobre isso. Um serviço público essencial como o fornecimento de água ser entregue de mão beijada a uma empresa que não sabemos onde tem o escritório ou quem são os administradores.

Foi feita uma privatização das águas e o PS não tomou as devidas iniciativas como entendemos que devia tomar e nós tomaríamos, que é mobilizar-se contra esse desígnio, essa intenção de privatizar.

Mas uma das promessas do PS nas últimas autárquicas era resolver esta questão.

Pois claro. Pronto, foi em vésperas de eleições. Baixou a água, mas o preço de água hoje, mesmo com essa baixa, é superior ao praticado antes da privatização. O mau capital foi a privatização. Por isso é que CDU se bate contra a privatização desses serviços essenciais.

Se a CDU fosse poder em Paços de Ferreira o que é que faria em relação à concessão?

Iríamos estudar. Na altura, foi dito por Humberto Brito que a reversão da privatização trazia custos muitos elevados para a autarquia. Isso é o que ele diz. Nós não sabemos. Íamos averiguar isso. Se fosse possível revertíamos.

 

O preço da água baixou mas ainda é preciso pagar uma indemnização de cerca de 50 milhões de euros à concessionária.

São as tais negociatas. É o tal centrão, o negócio à volta destes partidos que não alteram absolutamente nada enquanto estiverem no poder e tiverem estas práticas. Só com a CDU poderíamos contribuir uma maior transparência autárquica.

Dizem que reduziram a dívida. A transparência está em dizer como reduziram a dívida. À custa de quê?

Essa é uma das vossas reivindicações, mais transparência na autarquia. Não há transparência actualmente?

Acho que não. Dizem que reduziram a dívida. A transparência está em dizer como reduziram a dívida. À custa de quê. Do investimento na saúde, à custa de não investir na escola pública, permitindo que a SUMA em vez de fazer a recolha do lixo todos os dias ou de dois em dois dias, faça a recolha do lixo de quatro em quatro dias, pelo aumento de impostos. Aí há uma falta de transparência. Têm que nos dizer como chegaram à redução da dívida. A população não sabe.

Quando baixar o preço da água obedece a uma entrega de 50 milhões à empresa… O PS não esclareceu isso. O PS só pôs nos outdoors que Paços de Ferreira já não tem o preço da água dos mais elevados de Portugal. Não sei se isso é verdade ou não.

 

Notou diferença na sua factura da água?

Tenho um camarada que se está a debruçar sobre isso e que me diz que o preço da água baixou e, também, a taxa de disponibilidade foi abolida, mas, em contrapartida, há uma sobrecarga para pessoas que queiram mudar de casa, ir para outra casa no concelho de Paços de Ferreira, para pôr o contador a funcionar, terá de pagar à volta de 40 ou 50 euros. Portanto, há um custo elevadíssimo para ter acesso à água pública. Mas é uma questão que estamos a estudar melhor e não me queria alongar muito sobre isso.

O concelho ganhou ou perdeu protagonismo na região em termos económicos e de atracção de empresas?

Durante os quatro anos do Governo PSD/CDS temos conhecimento que fecharam imensas micro e pequenas empresas. Tivemos uma reunião, há uns meses, com a Associação Empresarial de Paços de Ferreira, com deputados à Assembleia da República, onde foi dito que estas exposições que antes tinham movimento de pessoas, tanto locais como de outros concelhos e distritos, que vinham comprar aqui os seus móveis, já não o têm. A única coisa que safa, neste momento, a indústria do mobiliário são as exportações. Não há assim uma grande dinâmica.

Mas as empresas continuam a ter grande volume de exportações.

Continuam a exportar, mas não vejo dinâmica nenhuma. Aliás, o concelho de Paços de Ferreira, e sou natural de Gondomar, é também um concelho muito apagado em termos de oferta cultural. Não há dinâmica nenhuma.

 

De que forma é que, caso fosse eleito, procuraria atrair investimento para o concelho?

Para atrair investimento, temos de saber que investimentos é que pretendemos atrair, quais os objectivos desse investimento. É a procura de trabalho barato e trabalho precário? Cabe ao executivo desenvolver contactos para atrair esse investimento.

Falta fazer um escrutínio do trabalho do executivo. Esse escrutínio não é feito. É nesse sentido que dizemos que a CDU é uma força essencial e indispensável para o concelho de Paços de Ferreira./span>

Concorda com o processo de insolvência da PFR Invest?

A CDU é sempre, por princípio, contra a criação de empresas municipais. Dão mal resultado. As empresas municipais são um ninho de ‘boys’ dos partidos maioritários do município e com maus resultados. Foi isso que se concluiu da PFR Invest. Há, até quem, levante a questão – não sou eu que estou a levantar – que aquilo poderá ter implicações tanto jurídicas como criminais.

É por isso que a CDU faz falta neste município, porque estas questões iam ser levantadas. Ninguém as levanta porque há um centrão de interesses à volta disto tudo. Falta fazer um escrutínio do trabalho do executivo. Esse escrutínio não é feito. É nesse sentido que dizemos que a CDU é uma força essencial e indispensável para o concelho de Paços de Ferreira.

 

Em que é que a CDU pode ser alternativa ao actual executivo?

A CDU representa 3% do eleitorado. Não somos irrealistas de dizer que vamos, agora, ganhar a câmara municipal. Não é impossível mas, se isso acontecer, será por etapas. Aquilo em que a CDU pode ajudar este concelho é nas suas propostas, no seu escrutínio baseado em trabalho, honestidade e competência e baseado na sua experiência autárquica de inúmeros concelhos de gestão CDU.

 

Quais são as prioridades da CDU para o concelho?

A área social é uma questão que deve merecer a atenção. Não é por acaso que Paços de Ferreira faz parte da sub-região com os menores índice de desenvolvimento humano. O trabalho precário, quase escravo, a falta de mobilidade das pessoas… Uma pessoa que esteja em Sanfins e que queira vir a uma consulta ao Hospital Padre Américo ou ao Centro de Saúde, tem que vir de táxi, porque há poucos autocarros. São questões que devem merecer a nossa atenção.

Além disso, não existe oferta cultural. É um deserto completo. Os miúdos se quiserem ter algum espectáculo têm de ir para fora do concelho porque não há oferta.

Não existe oferta cultural. É um deserto completo.

Por falta de espaços ou de dinamização?

Há muitos espaços. Se passar no centro de Paços de Ferreira vê espaços desocupados. Não sei porque é que estão desocupados. O que falta é dinâmica ao executivo.

O executivo camarário tem de ter opções políticas e prioridades. Uma pessoa que se disponibiliza para se candidatar a um órgão autárquico tem que ter consciência para servir, para ir fazer um serviço público e cívico. Não é para ser transformado numa feira de vaidades ou numa passerelle.

Importa definir prioridades, como esta e a questão da ETAR, da mobilidade, do centro de saúde, uma vez que há centenas de pessoas sem médico de família.

 

O actual executivo diz que todos os utentes têm médico de família?

Mas a CDU tem conhecimento que não. Temos testemunhos de que, no Centro de Saúde Paços de Ferreira, não tendo médico de família, os utentes são muito maltratados.

 

Nos últimos anos, houve coisas que a CDU teria feito de forma idêntica?

Não sei se teríamos feito de forma idêntica ou diferente. Depende das circunstâncias, do tempo. Há infra-estruturas importantes, como as piscinas de Paços de Ferreira, que no Verão são uma forma de muitos pacenses terem acesso a uma praia.

O nível de endividamento é muito grande para um município que nem sequer tem o saneamento

A Câmara de Paços de Ferreira está entre as mais endividadas do país e é uma das que mais demora a pagar a fornecedores. Qual seria o caminho da CDU para reduzir a dívida?

É evidente que estamos a falar de uma dívida muito grande. Os municípios existem para fazer face às necessidades das populações. Há sempre endividamento, agora, o nível de endividamento é muito grande para um município que nem sequer tem o saneamento. Em pleno século XXI ainda não estão resolvidos esses problemas. O problema da ETAR que é um problema grave…

 

Que está prestes a ser resolvido com a construção de uma nova ETAR.

Vamos esperar para ver, mas não está ainda resolvido. São coisas que deviam ter sido resolvidas há 30 ou 40 anos. Perguntamos: como é que foi feito o endividamento? Foi com a piscina megalómana? Não estou a falar da piscina exterior que é muito útil, no Verão, aos pacenses. Foi só por aí? Foi pela feitura de pavilhões em todas as freguesias? Isso não justifica a dívida toda. Tem de haver outra razão. Mas não temos conhecimento. Não fazemos parte da Assembleia Municipal. Só fazendo parte é que poderemos exigir respostas sobre essas questões. Agora, não compreendemos uma dívida tão grande.

Culpa a actual gestão ou a gestão do passado?

Se a Assembleia Municipal é, por excelência, o órgão de fiscalização do executivo, e o PS sempre esteve na Assembleia Municipal…

Portanto, culpa tanto o PS como o PSD?

Claro. É evidente. Nunca vi o PS a mobilizar, a esclarecer, a população sobre questões importantes. Tratam-se de coisas que as pessoas precisam de saber. No campo das hipóteses, essa dívida pode estar justificada, mas não sabemos. A CDU faz falta nos órgãos municipais.

 

Concorda com a ideia do actual presidente da câmara de integrar Paços de Ferreira na Área Metropolitana do Porto?

Defendemos a regionalização e a regionalização poderá resolver isso. Fazer parte da Área Metropolitana do Porto não sei se vai resolver as questões de Paços de Ferreira.

 

E com a ideia de ter linha férrea no concelho?

Pois, é interessante. Há quatro ou cinco anos que já ouvi esta ideia.

O povo de Paços de Ferreira deve usar o voto em seu proveito, vencendo preconceitos e combatendo a ideia feita de que os únicos partidos que conseguem governar o concelho são o PSD e o PS

Mas agora é um compromisso.

A oferta de manuais para o primeiro ciclo. Isto já está. Foi uma proposta do PCP. Vemos outdoors por aí com oferta de manuais gratuitos até ao 12.º ano. Para aí há cinco anos que o PCP anda a falar nisso. Essa é uma bandeira do PCP.

Não passam de promessas. São estas práticas, esta demagogia e este populismo que afastam as pessoas da política. As pessoas podem ter só a quarta classe, mas não deixam de ser inteligentes.

 

Está a dizer que a promessa de linha férrea é mais uma proposta populista que não vai ter concretização?

Já viu o traçado? Por onde é que passa linha? Sobe por onde? A CDU não alinha nessas promessas. É preciso saber em concreto, o que é que se pretende com isso.

Para a CDU, a marca Capital do Móvel tem tido o tratamento que merece? É uma marca que vale a pena preservar?

É uma marca que vale a pena preservar. Paços de Ferreira é conhecido pelo nome Capital do Móvel.

 

Mas tem-se procurado incutir uma nova marca que seria a Capital Europeia do Mobiliário. Faz sentido?

Não sei. Deve haver regiões com mais indústria mobiliária que Paços de Ferreira. Capital do Móvel já é muito bom, mas se quiserem podem avançar com a Capital Mundial do Mobiliário. Não são essas frases bonitas que vão resolver os baixos salários dos pacenses, a falta de médicos de família, a falta de mobilidade das pessoas, a falta de saneamento básico em várias zonas de Paços de Ferreira, o cheiro nauseabundo que as pessoas de Arreigada têm devido à ETAR. É preciso é solucionar estes problemas e, por isso, é que defendo que temos de definir prioridades políticas.

O povo e os trabalhadores de Paços de Ferreira devem usar o voto em seu proveito, com utilidade para si próprio, vencendo preconceitos e combatendo a ideia feita de que os únicos partidos que conseguem governar Paços de Ferreira são o PSD e o PS.

O povo deve exercer o seu voto com responsabilidade e olhando para as suas necessidades mais prementes que são muitas.