Tudo se pode conquistar, mas isso só se consegue “com muito trabalho”. Esta é a mensagem que o penafidelense António Rocha, vencedor da Web Summit, gosta de passar aos jovens. Esta semana, um dos fundadores da start up Smartex e que venceu o prémio Pitch da Web Summit, subiu ao palco da Escola Secundária de Penafiel, cidade de onde é natural, e falou aos alunos do 12º ano, dos cursos de Economia, Informática e Electro-Mecânica, sobre a sua empresa e o mercado de trabalho.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, reconheceu que a região do Vale do Sousa “tem muitas potencialidades, “porque as pessoas têm pulso firme e levam tudo à frente”. E são precisamente a garra, a determinação e muito trabalho, os ingredientes para que “as coisas aconteçam”. E estas são características “herdadas dos nossos pais e que se revelam nos filhos”. Depois, no dia-a-dia, “conta ainda a atitude que se tem perante os desafios”, afirmou. E não é por “estarmos em Penafiel e não no Porto ou em outro qualquer lugar do mundo que as coisas não se fazem”.

“Não é por “estarmos em Penafiel e não no Porto ou em outro qualquer lugar do mundo que as coisas não se fazem”

António Rocha tem 27 anos e ao fazer uma retrospectiva do seu percurso, lembra que na Secundária de Penafiel “era um aluno dedicado, tinha boas notas”. Na escola também é lembrado pelo seu sucesso escolar e pela sua prestação na natação. Aliás, o professor Henrique Silva recorda-o como “um aluno que era sempre o melhor em tudo. E na natação, ganhava todos os primeiros prémios”.

O jovem empresário lembra-se bem desses tempos e destaca que esta modalidade lhe deu foco, porque “tinha que trabalhar por objectivos”. E para a vida trouxe estes princípios, “muito foco e metas bem definidas”.

Quando foi para a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, para tirar Engenharia Física, percebeu que era um curso “muito complexo e teórico”. Aliás, faz questão de referir que dos “30 alunos do seu ano, apenas cinco, terminaram em tempo devido”.

E foi na faculdade que conheceu Gilberto Loureiro e Paulo Ribeiro e, em 2018, criaram a Smartex, que mais tarde viria a receber o cobiçado prémio do concurso Pitch, da Web Summit. A empresa, sediada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) desenvolve sensores e câmaras que detetam, através de um software de inteligência artificial, defeitos nos tecidos desde o momento da tecelagem. Uma solução que pretende reduzir o desperdício a quase zero por cento.

Com presenças no Porto, em Shenzen, na China, e São Francisco, nos EUA, a Samartex pretende continuar a apostar em Portugal, onde o mercado tem um peso na empresa de “40 por cento”. Mas a startup já exporta para “Itália e está a crescer na Turquia”, não descurando o mercado asiático.

A empresa começou a trabalhar com 25 pessoas. Três anos depois, tem “42” e pretende, dentro de um ano, “ter entre 70 a 80”, especificou ao Verdadeiro Olhar. E além dos teares, está virada para a utilização de novos produtos, apostando “nas indústrias do papel, do plástico e do metal”.

Sobre o prémio conseguido, revela ao Verdadeiro Olhar que “não era expectável”. Mas que contribuiu para que a empresa saltasse do anonimato para o estrelato. “Foi interessante começarmos a ter candidaturas a emprego que surgiam de forma espontânea” e, além disso, “quando apresentávamos a Smartex já não tínhamos que explicar o que fazíamos”. Também conseguiram “validação por parte dos nossos clientes” e, do ponto de vista interno, esta distinção “motivou a equipa”.

Mas conseguir sucesso profissional não passa apenas pelo trabalho. António Rocha quer deixar bem claro que “a auto-confiança e acreditar que não somos inferiores aos outros, são também fundamentais”. Infelizmente, “Portugal sofre desse problema, de falta de confiança”. E, nesse aspecto, urge “mudar a mentalidade”.

Para além do trabalho, o jovem de Penafiel confessa que gosta de fazer “actividades normais” e que não tem hábitos extraordinários. “Gostava de fazer mais desporto”, mas, talvez, os afazeres profissionais, não lho permitam. Ainda assim, refere que “viajar” é a sua “grande paixão”.

A residir em Vila Nova de Gaia, gosta de regressar à sua terra natal. Tal como fez agora, quando marcou presença na Secundária de Penafiel. Aliás, é ali que tem “a família e amigos”. E reconhece que não se devem descurar estas visitas, porque os sítios onde nascemos e crescemos, representam a “nossa identidade e as nossas raízes”.

Talvez Penafiel devesse apostar “apostar mais no Turismo, de forma a atrair mais pessoas e empresas, que vão criar outras possibilidades

Sobre Penafiel, refere que é uma cidade que, e ao contrário de outras à volta, “tem muito gente que se fixou ali, onde há tudo e é perto de tudo”. Mas “pode fazer-se melhor”, disse ao Verdadeiro Olhar. Talvez “apostar mais no Turismo, de forma a atrair mais pessoas e empresas, que vão criar outras possibilidades”. Se calhar, era preciso “capitalizar esta área que iria, de certeza, ter impacto em novas oportunidades de emprego e que fossem melhor remunerados”.

Sobre esta visita à escola de Penafiel, António Rocha considera que “é importante para os alunos e pode ter um impacto positivo no futuro, não só para eles, como para a empresa” que dirige. É que, nestas incursões, o fundador da Smartex está atento e procura também talentos. Porque é política da  start up “apostar nos mais novos”. E estas acções são uma forma de “semear para colher. Conhecemos e damo-nos a conhecer”. Porque, e apesar do sucesso da Smartex, António Rocha não esquece que se está onde está, “é porque alguém apostou” na sua empresa. E é essa a conduta que pretende seguir, mantendo as portas abertas para quem quer entrar para o mercado de trabalho.