Juliana Azevedo não tem familiares ligados aos bombeiros, mas a paixão pelo trabalho dos soldados da paz começou a manifestar-se, inexplicavelmente, desde criança. A mãe conta-lhe que “quando parava em frente ao quartel ficava fascinada”. E se em criança sonhou em fazer parte da corporação, quando cresceu conseguiu integrar esta estrutura e, no início deste mês, foi promovida a adjunta de comando dos Bombeiros Voluntários de Valongo, uma função que, pela primeira vez na história desta instituição, é assumida por uma mulher.

Assim, o sonho tornou-se realidade, confessou ao Verdadeiro Olhar, sublinhando ainda que se orgulha de todo o seu percurso e do facto de estar ligada a esta instituição em particular.

Os pais de Juliana são de Penafiel, mas Juliana nasceu há 36 anos em Campo, Valongo. Com cerca de 16 entrou para os bombeiros e tem feito ali o seu percurso de serviço à causa pública. Progrediu na carreira, tendo-se ainda licenciado em enfermagem, uma actividade que exerce no Hospital de São João, no Porto, na Unidade de Cuidados Intensivos.

Casada e com um filho de dois anos e uma enteada de 11, recorda que quando, no início deste ano, recebeu o convite para assumir funções no comando, foi uma surpresa, apesar de ter feito “todos os cursos inerentes a esta responsabilidade”, de forma a estar capacitada para assumir este cargo.

Actualmemnte, a corporação de Valongo está praticamente equiparada a nível do número de elementos masculinos e femininos. Juliana fez parte do primeiro grupo de mulheres que integrou a corporação, mas, lembra, que sempre foram “bem acolhidas por todos os elementos”.

Aliás, todos defenderam que são “uma mais-valia para a corporação”, porque “têm mais sensibilidade para determinadas áreas de actuação”, como seja, por exemplo a pré-hospitalar.

“Somos a junção de duas formas de pensar e abordagens diferentes”, o que torna o trabalho desta corporação ao serviço do município de Valongo “único”, destacou.

Instada sobre a forma como vê este seu trabalho, Juliana nem pensa, atirando de imediato: “é o amor à camisola, à causa pública”. E é esse sentimento que a faz vibrar com todas as situações onde tem acorrido, mostrando, no entanto, fascínio quando opera em cenários de incêndios urbanos e industriais. “É gratificante saber que, em determinado momento, podemos fazer algo por uma pessoa ou pelos seus bens e minimizamos os riscos de uma má situação”.

Mas o relacionamento com o doente, sobretudo o crítico ao nível do seu trabalho na área hospitalar, também pesa no encanto que esta bombeira sente pelo trabalho desenvolvidos em prol dos outros.

É evidente que este é um trabalho com “muitas adversidades”, reconheceu, tanto mais que “as pessoas parece que só se lembram que os bombeiros existem em tempo de catástrofes”. Mas o segredo para manter estes corpos activos no terreno é mesmo a “resiliência”, porque mesmo sabendo que não existem muitos apoios “conseguimos ajudar e todas as conquistas motivam-nos, cada vez mais, dando-nos vontade de continuar”, sustenta.

E são os bombeiros que que nos tiram do inferno das chamas, do terror das cheias e, se bem recordamos, que nos foram buscar a casa em tempo de pandemia. Guiam-nos nas ambulâncias e zelam pelas populações, pelos seus bens e pelos nossos municípios. Sacrificam-se e, em muitos casos, tentam debelar muitas imprudências cometidas pelas pessoas. E, no final, quando sentem que contribuem para o bem estar dos outros, vem à tona uma “imensa gratidão” por fazerem parte desta equação.

Juliana Azevedo tem sentido isso inúmeras vezes e não deixa de enaltecer o trabalho dos Bombeiros de Valongo que “é reconhecido e é uma boa referência” a todos os níveis em que opera. “Temos bons profissionais e temos muito orgulho” naquilo que conquistamos no dia-a-dia, referiu ao Verdadeiro Olhar.

E se nunca foi olhada de maneira diferente pelos seus colegas bombeiros por ser mulher, também no terreno nunca houve diferenciação. “Às vezes as pessoas brincam e questionam como, por exemplo, duas mulheres vão conseguir descer uma pessoa em cadeira de rodas de um terceiro andar”. Mas, talvez o amor à causa lhes confira forças extra.

Sobre esta matéria, Juliana Azevedo revela que o quartel de Valongo está muito bem estruturado ao nível da organização de serviço e, como tal, as equipas enviadas para as ocorrências são constituídas em conformidade com o trabalho a realizar. Por exemplo, se houve um caso de agressão “não vão ao local só mulheres”, contou.

Contas feitas, a verdade é que esta é um grupo “equilibrado”, com um corpo activo, independentemente do sexo, que se “complementa”, tendo sempre em mente que “este é um trabalho de equipa”, frisou.

Em relação ao futuro, a adjunta do comando revela que todos dentro das quatro paredes do quartel querem continuar a lutar pela “criação de melhores condições, quer a nível de infra-estruturas e de equipamentos quer na área da formação, de forma a que toda a comunidade se sinta “em segurança”, porque “temos os meios necessários para proteger todas as pessoas e bens”. E essa é, sem dúvida, a prioridade de Juliana Azevedo que zelará também pela “segurança” de todos os elementos que fazem parte da corporação.

É evidente que existirão sempre “entraves a nível monetário”, mas com “determinação e resiliência”, a bombeira, que tem pela frente uma comissão de serviço cinco anos, acredita que “todos os obstáculos serão ultrapassados”.

E quando terminar esta sua função, pretende olhar para trás e pensar que fez parte de um projecto que “contribuiu para melhorar as condições de trabalho dos bombeiros de Valongo”, elevando-os a um “patamar superior”.

E ao contribuir para melhorar os bombeiros de Valongo, Juliana Azevedo vai fazer parte de uma luta nacional que pretende que os nossos bombeiros nunca sejam esquecidos, porque são heróis que dão o melhor de si e arriscam a vida por nós. Sendo homens ou mulheres têm coragem e sacrificam-se pelo próximo. E Juliana Azevedo acredita que, um dia, todas as pessoas, sem excepção, os saibam honrar.