Em Portugal, foram detectados 5.382 ninhos de vespa velutina em 2018 e destruídos 4.085, uma ligeira descida em relação ao ano anterior. Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Floresta, que gere a questão em conjunto com a DGAV – Direcção Geral de Alimentação e Veterinária e o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, os concelhos mais afectados situam-se nos distritos de Viana do Castelo e Braga, seguidos dos concelhos do distrito do Porto.

Só nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo foram eliminados, segundo os serviços municipais de protecção civil, 1.403 ninhos de vespa asiática em 2018, seguindo a tendência de descida nacional, já que em 2017 tinham sido 1.580.

Olhando aos últimos cinco anos, foram destruídos 4.500 ninhos deste animal exótico, de maiores dimensões que a vespa comum, nos concelhos da região. Penafiel e Paredes são os concelhos mais afectados. Isto tendo em conta o número de casos reportados, já que muitos outros não o serão, por não serem vistos ou por serem destruídos pela própria população.

As pessoas estão mais informadas e o alarmismo é agora menor, garantem os municípios. Ainda assim, o combate ao problema é constante e mobiliza equipas em cada uma das autarquias que tentam controlar o crescimento de um problema que não tem fronteiras.

Equipa de Paredes tem saído quase todos os dias

A vespa velutina, mais conhecida como vespa asiática, chegou a Portugal em 2011. Foi criado um plano de combate, o Plano de Açcão para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina, e a eliminação dos ninhos tem vindo a ser feita, localmente, pelos serviços de Protecção Civil das câmaras municipais.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Acompanhamos no terreno a equipa de Paredes que tem saído para resolver casos “quase todos os dias”, que é como quem diz noites, já que o método utilizado, a queima, deve acontecer quando as vespas estão recolhidas no ninho, para evitar a sua propagação e o surgimento de novas colónias.

A época é de trabalho para o engenheiro Miguel Rodrigues, coordenador da Protecção Civil da Câmara de Paredes, e para Joaquim Castelo e José Babo. “É uma fase com muitas comunicações porque com a queda da folha os ninhos estão mais visíveis. Dia sim dia não saímos com certeza”, explicam. A prioridade é dada às zonas habitacionais.

Assim que há uma comunicação há uma primeira ida ao terreno para identificar o vespeiro, confirmar se é de vespa asiática e perceber quais os meios necessários para a eliminação. O extermínio é agendado para o próprio dia ou dias seguintes, dependendo da complexidade. É que há ninhos no solo, em muros e arbustos, mas também em telhados e árvores. Isso também determina o número de casos resolvidos por noite, mas, em média, diz Miguel Rodrigues, são destruídos seis a sete ninhos. “Mas já tivemos situações de resolver 14 ninhos numa noite”, afirma.

Cada vespeiro pode ter mais de mil vespas. Já foi avistado um que teria dois metros de diâmetro

Muitas vezes os locais repetem-se, como aconteceu no local em que se realizou uma queima, a 12 metros de altura, numa árvore, em Aguiar de Sousa, na última segunda-feira, com os Bombeiros de Cete presentes, para ajudar a controlar qualquer possível foco de incêndio que pudesse surgir. “Os bombeiros são chamados sempre que tecnicamente é necessária a presença. A nossa equipa dedica-se ao extermínio, eles à segurança”, refere.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Maioritariamente os ninhos são queimados, mas há também o recurso a insecticida sempre que isso não é possível.

O número de comunicações de ninhos em Paredes está estabilizado, mas não reflectirá o problema total. “Estamos a falar do que nos foi comunicado. A realidade não é bem essa. Começa a haver muita gente que tenta resolver sozinha as situações. Uns resolvem outros nem por isso”, salienta Miguel Rodrigues.

Anualmente, há sempre entre 15 a 20 ninhos que ficam por resolver. Alguns estão a 50 metros ou mais e nem com auto-escada ou cesta elevatória têm acesso. “O ciclo de vida de vespa é de um ano e tipicamente, nesses casos, a colónia morre e o ninho fica desactivado e acaba por cair por ele próprio”, dá como exemplo.

Dependendo da dimensão, cada vespeiro pode ter mais de mil vespas velutinas. “O diâmetro pode ir de oitenta centímetros a um metro. O maior que já vi teria cerca de dois metros e estava junto ao Rio sousa em Parada de Todeia há dois anos. Foi complicado de exterminar porque estava numa zona de difícil acesso e depois o nosso queimador não conseguia abranger a totalidade do ninho para o queimar de uma vez”, conta o coordenador da Protecção Civil de Paredes.

Rebordosa, Lordelo e Paredes são habitualmente as freguesias com mais casos reportados. “São zonas mais densamente povoadas em que os ninhos são mais facilmente comunicados. No meio das serras ninguém vai ver se tem vespas ou não. Acredito que haja muitos que não são reportados”, sustenta Miguel Rodrigues. As pessoas continuam a ficar assustadas, mas há menos “alarmismo”, garante.

Já foram picados e já viveram situações caricatas

A equipa, composta por quatro elementos, já passou por situações caricatas e também já sofreu na pele as picadas deste insecto.

“Tivemos situações em que o nosso fato é que nos protegeu porque elas nos atacaram, casos em que os ninhos estão partidos e elas quando percebem a nossa aproximação defendem-se, são muito territoriais”, afirma Miguel Rodrigues.

“Eu fui picado em Duas Igrejas. Estava o ninho partido e eu tinha o fato por cima de uma tshirt e ela picou-me no braço. É uma dor terrível e inconstante. Ficou um hematoma três a quatro dias, mas não houve problemas de maior”, dá como exemplo Joaquim Castelo.

José Babo também já foi picado, durante o dia, enquanto foi fazer uma verificação. “A senhora assustou-se com as vespas e começou a esbracejar. Elas ficaram agitadas e fui picado na cabeça, mas ficou só um galo a doer durante uns dias. Felizmente não sou alérgico e não foi preciso nenhum tratamento. Foi a primeira e única vez que fui picado em muitos ninhos”, conta.

Já tiveram que rastejas em sótãos e espaços pequenos e também não esquecem o dia em que, ao vestir o fato, o senhor Joaquim tinha uma vespa lá dentro. “Andava lá uma vespa a voar em frente dos olhos dele por dentro do fato”, diz José Babo. “Esmaguei-a logo lá dentro. É dura. Ruim de partir”, explica Joaquim Castelo.

“Este trabalho tem sido sempre uma prioridade para o Serviço Municipal de Protecção Civil. O nosso objectivo é manter a segurança das pessoas e prevenir qualquer acidente. Nestas situações que afectam directamente as pessoas e a apicultura temos sempre essa postura de tentar resolver rapidamente”, frisa Miguel Rodrigues.

1.087 ninhos em cinco anos em Paredes

Paredes continua a ser um dos concelhos mais afectados. Em cinco anos foram eliminados neste concelho 1.087 ninhos de vespa asiática. A maioria nos últimos dois anos. Em 2017 foram reportados 339 vespeiros e eliminados 365, já que alguns eram de outras espécies e outros estavam inacessíveis. O mesmo aconteceu em 2018, com 392 ninhos identificados e 351 destruídos.

“O Serviço Municipal de Protecção Civil tem a perceção que muitas situações não são reportadas. Há também uma clara tentativa dos munícipes de resolver a situação, por vezes erradamente”, sustenta o vereador da Protecção Civil da Câmara de Paredes, Elias Barros. Em Paredes, é usado sobretudo fogo e insecticida. “Não existem orientações no sentido de uniformizar a actuação dos municípios. No entanto, com o aumento do conhecimento do comportamento da espécie antevê-se uma melhoria das técnicas de extermínio e consequentemente da sua eficácia”, diz o autarca.

No concelho, a população está mais sensibilizada. “Conhecem melhor os hábitos da vespa, conseguem identificar com maior facilidade, e conhecem melhor os constrangimentos que podem estar associados à sua presença”, afirma o vereador.

Concelho a concelho

Ninhos de vespa asiática eliminados por concelho
201320142015201620172018
Lousada---694151249223
Paços de Ferreira---94954191131
Paredes---9126239365351
Penafiel---189239596562
Valongo4396103122179136

223 ninhos destruídos em Lousada em 2018

Desde que os primeiros ninhos de vespa asiática foram identificados em Lousada, em 2014, já foram destruídos pelos serviços de protecção civil da autarquia 723 ninhos (até ao final de 2018).

O número de ninhos reportados cresceu exponencialmente até 2017, quando foram identificados e eliminados 249 ninhos. Já no ano passado, o número baixou ligeiramente, sendo destruídos 223 ninhos de vespa velutina no concelho.

Segundo o vereador do pelouro da Proteção Civil da Câmara Municipal de Lousada, existem três freguesias do concelho que apresentam um maior número de ninhos identificados: Meinedo, Caíde de Rei e Vilar do Torno e Alentém.

António Augusto Silva acredita que haverá casos que não chegam a ser reportados. “Julga-se que poderá haver ainda uma percentagem em que os ninhos não são detectados pelas pessoas, devido a diversas razões. Contudo, a grande maioria dos casos são identificados e eliminados”, explica. A população, diz o autarca, está mais sensibilizada. “As situações são reportadas, mas com menos alarmismo”, garante.

Em Lousada, há uma equipa de duas pessoas que sai dois a três dias por semana para tratar da eliminação desta vespa invasora.

A autarquia diz que se mantém a preocupação sobre o tema. “Os concelhos não têm barreiras físicas que impeçam a circulação das vespas e parece-nos que só uma política concertada a nível regional e nacional pode dar resultados mais duradouros”, defende António Augusto Silva.

Menos ninhos eliminados em Paços de Ferreira no ano passado

À semelhança do que acontece com os restantes municípios, em Paços de Ferreira houve menos ninhos eliminados em 2018. No total, já foram destruídos no concelho 434 ninhos de vespa asiática.

O número de ninhos reportados é mais elevado que o número de casos que são efetivamente resolvidos pelos serviços de protecção civil porque, em algumas situações, não se tratava de vespa velutina, refere a autarquia.

Por exemplo, em 2017 foram identificados 205 ninhos, mas eliminados 191, “sendo que, alguns foram tratados pelos munícipes/juntas de freguesia e outros ficaram regularizados por conta das condições meteorológicas adversas”, diz o município. Em 2018 aconteceu o mesmo: foram reportados 173, mas apenas eliminados os de vespa asiática, 131 ninhos no total.

Nos últimos anos, o problema passou a afectar todas as freguesias, de forma transversal. “Mas temos mais casos em Freamunde, Frazão, Paços de Ferreira, Carvalhosa, Meixomil, Eiriz, Seroa e Sanfins de Ferreira”, elenca a Protecção Civil de Paços de Ferreira.

“Estão sempre a aparecer novos ninhos e o desafio para os eliminar é constante. Este é um tema que nos preocupa”, sustenta a mesma fonte.

Neste concelho, a população está atenta e sensibilizada para o aparecimento desta invasora e o principal método de eliminação é a queima, por ser “rápido e eficaz”.

A missão de identificar e exterminar os ninhos em Paços de Ferreira está entregue a uma equipa que envolve o veterinário municipal, a Polícia Municipal, o Gabinete Florestal e os serviços municipais de Protecção Civil assim como um técnico que vai ao terreno. “Esta missão tem sempre o envolvimento de 4 a 5 pessoas. A frequência com que a equipa sai para a rua depende do número de ninhos que são reportados e da sua exequibilidade”, explica a autarquia.

Penafiel é o concelho com mais ninhos destruídos: 1.577

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Entre os cinco concelhos desta região, Penafiel é o que tem mais ninhos destruídos nos últimos cinco anos. Ao todo, 1.577.

Só em 2017 e 2018 foram eliminados 1.158 ninhos de vespa asiática. Em 2017 foram identificados 679 casos e resolvidos 596. Já no ano passado, mostram os dados da autarquia, foram reportados 635 ninhos de vespa velutina e destruídos 562.

O problema é transversal a todas as freguesias e o “número de ninhos participados tem estabilizado”, referem o Serviço Municipal de Protecção Civil, apesar de assumirem que haverá casos não reportados.

“O plano de acção para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina não sofreu qualquer alteração em termos de estratégia, contudo no Serviço Municipal de Protecção Civil de Penafiel, o método de destruição foi alterado, passando do método de queima para o método de aplicação de insecticida, podendo assim eliminar ninhos no período diurno”, explica a mesma fonte.

Mantém-se uma equipa de duas pessoas dedicada à eliminação dos ninhos que sai, em média, três dias por semana.

Segundo a autarquia penafidelense, o conhecimento da população sobre o tema tem vindo a aumentar. Ainda assim, “a vespa velutina tem provocado algum ‘alarme social’ junto das populações”, reconhece o Serviço Municipal de Protecção Civil de Penafiel, acrescentando que “não é indiferente a essa situação” e tenta “dar resposta tanto à eliminação dos ninhos de vespa velutina que são participados, bem como tranquilizar as populações em relação à sua segurança”.

Uma média de 150 ninhos de vespa asiática por ano em Valongo

Em Valongo, adiantam os Serviços Municipais de Protecção Civil da Câmara Municipal, o problema “tem estabilizado na média dos 150 ninhos de vespa por ano no concelho”. Mas, reconhecem, pode haver casos “não detectados pela população nem pelos serviços”.

Desde 2013, altura em que foram encontrados os primeiros ninhos de vespa velutina nas freguesias de Valongo, já foram exterminados 679 ninhos.

Em 2017, foram reportados aos serviços 212 casos, mas apenas 182 eram de vespa asiática, sendo os restantes 30 “falsos alarmes”. Foram eliminados 179. Já no ano passado, fora os casos de ninhos que não eram desta espécie invasora, foram identificados 138 ninhos de vespa asiática e destruídos 136. A maioria são reportados em Valongo, Ermesinde e Alfena, freguesias “mais urbanas e com mais população” onde “existe naturalmente maior detecção de ninhos”, justificam os Serviços Municipais de Protecção Civil.

As estratégias de intervenção mantêm-se: os ninhos são queimados ou as colónias exterminadas com recurso a substâncias químicas quando a queima não é possível.

“Em Valongo existem duas equipas dedicadas à vespa asiática. Uma equipa de três elementos do Gabinete de Medicina Veterinária identifica e isola o ninho para posteriormente a equipa da Protecção Civil Municipal proceder à sua destruição em segurança”, explicam os serviços.

Apesar de a população valonguense estar mais desperta para este problema, a autarquia reconhece que “muitas vezes é necessário o esclarecimento da população para evitar alarmismos desnecessários e para que sejam tomadas as medidas correctas em termos de protecção”.

“Por estar em jogo a saúde das populações é um tema que tem tido muita preocupação por parte da autarquia”, garante o município de Valongo.