Não foi uma, mas duas vezes que a Padaria Panfino, de Campo, conquistou o prémio de melhor regueifa do concelho no concurso realizado na Feira da Regueifa e do Biscoito de Valongo. Agora, os irmãos António Cunha e Filipe Cunha querem mais.

Na próxima edição vão tentar ganhar novamente. “Para o ano se ganharmos outra vez o primeiro lugar está batido o recorde. Já houve outra padaria que teve por dois anos seguidos o primeiro prémio, três anos seguidos não. Vamos ver se conseguimos ser o Cristiano Ronaldo das regueifas!”, assume António.

A Padaria tem mais de 30 anos de história e o objectivo dos irmãos, que lideram agora este negócio familiar, é aumentar o negócio e ter um outro balcão de venda mais bem localizado.

Uma tradição de família e um pão que ainda tem segredos

“Eu nasci na padaria do meu avô, na Padaria Cunha, e nunca fiz mais nada na vida se não trabalhar na padaria. Gosto muito daquilo que faço, apesar de ter horários difíceis”, explica António Cunha, de 43 anos, enquanto põe a mão na massa. “Sinceramente, acho-me uma pessoa muito realizada porque todos os dias me levanto para fazer aquilo que gosto”, acrescenta com um sorriso.

Vem de uma família de padeiros e os pais criaram a Panfino, em Campo, há 32 anos. “Eles trabalharam aqui até há cerca de três anos, quando decidiram que era tempo de passar o negócio para os filhos”, refere, contando que agora gere o espaço com os irmãos, onde os pais – José Cunha e Maria Margarida Pinto – continuam a dar uma ajuda e a ser bem-vindos. A esposa e a cunhada também ajudam, assim como funcionários.

Apesar da experiência acumulada, António Cunha garante que o pão ainda lhe reserva segredos. “A padaria está sempre a evoluir. Hoje há técnicas novas e máquinas novas e tem de se dar até atenção às temperaturas de várias matérias-primas, inclusive a da água. Ainda hoje, às vezes, as massas pregam-me partidas”, diz.

Já produzir um produto de qualidade não terá segredos para qualquer padeiro que se preze, acredita. “Segredos há e não há. Primeiro passa pela selecção da farinha. Pode-se fazer regueifa com qualquer farinha, mas para ela ter a qualidade, o brilho e a textura e cor depois de ir ao forno, isso passa pela escolha da melhor farinha do mercado. Depois é preciso muitos cuidados. A regueifa precisa de uma temperatura especial de água, diferente do resto das massas que conhecemos de pão. Com qualquer descuido o resultado é diferente. Isto para quem não é padeiro pode-se chamar segredos, mas todos os que são padeiros sabem que o que se exige é dedicação e aposta em ingredientes de qualidade”, resume.

Padaria ficou “famosa” devido à Feira da Regueifa e do Biscoito

Todos os dias saem da Panfino cerca de 1500 pães. “Hoje amassamos 110 quilos de farinha. Ao sábado fazemos a regueifa para domingo e amassamos à volta de 170 quilos de farinha. Enchemos 30 tabuleiros. São centenas de regueifas”, comenta.

Mas nem só de regueifa vive a Panfino. Os pães são de todo o tipo, desde a alfarroba ao trigo e centeio escuro, sementes, pão de água, pão integral, mini cacetes, umbigos ou peões, entre outros. “Os pães de centeio escuro estão a ganhar terreno, nota-se que as pessoas hoje estão mais viradas para a qualidade da sua alimentação do que para o preço. Antigamente era difícil aumentar um cêntimo ao pão pela critica do cliente. Hoje as pessoas não se importam de pagar mais quando vêem que o pão tem mais qualidade”, garante António Cunha.

Depois produzem “segundo os clientes”, um dos melhores bolos reis da região, pão-de-ló afamado, húmido ou seco, uma grande variedade de doçaria e bolos para festas.

Além do balcão em Campo fazem entregas ao domicílio. “O nosso território vai desde Susão (Valongo) até Baltar (Paredes). Temos duas vendas que se iniciam de madrugada até às 8h30 da manhã”, refere.

“Somos bastante procurados aqui no balcão. Vêm pessoas de locais distantes, ao domingo, por exemplo, por causa da regueifa. Depois de termos ganho os prémios, os primeiros lugares, temos tido até encomendas fora do normal. Pedem regueifas com uma dedicatória”, diz.

A Padaria ficou famosa graças à Feira da Regueifa e do Biscoito e aos prémios conquistados, admite.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Ficamos famosos pela regueifa, pelos dois prémios consecutivos. Quando o meu pai passou a padaria para nós eu vi nisto uma oportunidade de mostrar o nosso produto. Sair fora daqui. A Feira foi um marco”, garante António Cunha.

O padeiro acredita que desde o primeiro ano em que participaram houve “uma lufada de ar fresco”. “Se calhar estávamos aqui presos mentalmente ao espaço e satisfeitos com o que fazíamos e a Feira obrigou-nos a desenvolver bastante. Olhando para trás foi algo muito bom termos começado a participar”, atesta.

A Padaria também já ficou em primeiro e em segundo lugar nos concursos de melhor biscoito, embora não seja a sua especialidade.

Com os cerca de 50 mil visitantes estimados no certame o nome Panfino começou a ser falado pelas cidades vizinhas, onde há potenciais clientes.

“No último ano aumentamos consideravelmente os pontos de revenda. Não fomos tanto nós que fomos à procura, mas fomos procurados e achamos que isso se deve à publicidade que a padaria teve nos últimos três anos. Este foi o quarto ano que participamos. No primeiro ano ficamos em terceiro lugar, no segundo lugar não ficamos no pódio. Daí para cá ficamos sempre em primeiro”, descreve o sócio da Panfino.

A regueifa estava a cair em desuso mas tradição voltou “à tona”

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

A responsabilidade começa a pesar. E António Cunha já só pensa em voltar ao pódio, de preferência ao primeiro lugar. “Este ano notei que a diferença da minha regueifa para algumas que lá estavam não era muita. Notei que houve um esforço de algumas padarias para se destacarem o que faz com que eu para o ano vá ter de me esforçar mais para tentar ter um prémio, primeiro, segundo ou terceiro”, acredita.

O padeiro de Campo também não tem dúvidas de que esta competição está a aumentar a qualidade do produto no concelho. “A regueifa, há uns anos, caiu em desuso. Esta padaria antigamente precisava de três carros que eram cheios de regueifas de quilo e meio quilo. Entretanto começou-se a fazer o cacete e o cliente começou a gostar e para nós foi mais simpático, porque faz-se mais rápido o cacete. O cliente começou a esquecer a regueifa”, recorda. “Esta feira trouxe outra vez à tona a tradição. Temos clientes que vêm de Valongo e de Susão aqui de propósito buscar regueifa ao domingo. E há quem encomende pelo Facebook e por mensagem escrita. Está-se a criar novamente o gosto pela tradição de ao domingo ter a regueifa redondinha em cima da mesa”, realça.

Esta “competição”, cada vez maior e saudável só leva a um caminho: “quem sai a ganhar é a regueifa e o município. Porque fala-se muito de Valongo e não se consegue evitar de falar da famosa regueifa”.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Impulsionados também por este sucesso, os irmãos Cunha querem fazer crescer o negócio, com aumentos “na quantidade e na qualidade”.

Grande parte passa por ter um balcão, mais bem localizado, no centro de Valongo, sem perder as instalações actuais da padaria. “Queria ver se em 2020 daria um salto na produção e também um aumento das vendas”, explica António Cunha. “Ter um aumento de mil pães diários, não é difícil nem impossível”, admite, falando em crescer também no número de funcionários, porque estão “a chegar ao limite” do que conseguem fazer.