Região: É em Lousada e Penafiel que se perdem mais litros de água por dia

Trata-se de água tratada que não chega a ser facturada nem chega a casa do consumidor. Estes dois concelhos já implementaram projectos para reduzir as perdas reais de água. Paços de Ferreira é onde há menos desperdício

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Portugal vive um período de seca e, apesar de muitos concelhos anunciarem medidas para tentar poupar água, a realidade é que os sistemas de abastecimento sofrem, anualmente, perdas de milhões de metros cúbicos de água já tratada.

Em 2020, só os concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo registaram, em conjunto, a perda de mais de 2,5 milhões de metros cúbicos de água, cerca de 427 litros por ramal/dia. Na prática, 18% da água que deu entrada nos sistemas destes concelhos nunca chegou à torneira do consumidor.

Os dados constam do mais recente Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP 2021) emitido pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR).

Destes cinco concelhos, Lousada e Penafiel são os que perdem mais litros de água por dia. Estes dois municípios já anunciaram projectos para reduzir as perdas de água.

Lousada com avaliação “insatisfatória” nas perdas reais de água e água não facturada

Fonte: RASARP

Há no país “níveis muito elevados de água não facturada, na sua maioria devido a perdas reais”. Neste relatório, que analisa o sector, um dos indicadores avaliados é o da água não facturada, “água que, apesar de ser captada, tratada, transportada, armazenada e distribuída, não chega a ser facturada aos utilizadores”. Neste indicador cabem “perdas reais, perdas aparentes (inclui as perdas por erros de medição e uso não autorizado) e o consumo autorizado não facturado”, este último ligado a água usada para lavagem de ruas, rega de espaços verdes municipais, alimentação de fontes e fontanários, lavagem de condutas e colectores de esgoto e ainda combate a incêndios. A conclusão é que o serviço é “mediano” e que há “potencial de melhoria com a alteração de procedimentos de facturação e a redução de perdas de água”.

Segundo o documento, “em 2020, a água não facturada pelas entidades gestoras que prestam o serviço abastecimento de água em alta, atinge 36 milhões de metros cúbicos e representa 5,7 % do total de água entrada nos sistemas (634,9 milhões de metros cúbicos)”. Já “nas entidades gestoras que prestam o serviço de abastecimento de água em baixa, a água não facturada atinge 236,5 milhões de metros cúbicos, representando 28,7 % do total de água entrada nos sistemas (824,1 milhões de metros cúbicos)”.

Fonte: RASARP (em %)

Na sua maioria, essa água não facturada advém das “perdas reais”, ou seja, de fugas e extravasamentos. “73,4 % da água não facturada tem origem nas perdas reais, 15,5 % nas perdas aparentes e 11,9 % no consumo autorizado não facturado”, sustenta a ERSAR.

Nos cinco concelhos da região a percentagem de água não facturada supera os 22%, representando mais de três milhões de metros cúbicos. Destes, mais de 2,5 milhões de metros cúbicos são perdas reais de água.  

No que toca à avaliação no item “água não facturada”, Valongo e Paços de Ferreira têm uma avaliação “boa”, Penafiel e Paredes “mediana” e Lousada “insatisfatória”.

Já nas perdas reais de água, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo têm um indicador “bom” e Lousada “insatisfatório”.

Paços de Ferreira é onde há menos perdas de água

Fonte: RASARP

Olhando aos dados, quase 43% da água que entrou no sistema de abastecimento de Lousada, mais de 900 metros cúbicos, não foi facturada em 2020. No distrito do Porto, só Felgueiras tem um indicador pior (47,6% de água não facturada). Em Lousada, 34% dessa água corresponde a perdas reais, mais de 724 mil metros cúbicos. Na prática, as perdas reais ascendem a 154 litros por ramal/dia. Apesar de tudo, estes indicadores já sofreram melhorias face ao ano anterior, em que 41% da água era perdida no concelho. O município está a investir mais de 700 mil euros para melhorar a situação.

Em Penafiel, também já houve menos água desperdiçada em 2020 do que em 2019, ainda assim, é o segundo concelho desta região onde há mais perdas: 95 litros por ramal/dia. Em 2020, diz o RASARP, mais de 861 mil metros cúbicos de água não foram facturados no concelho, 29% da água que entrou no sistema. 25% corresponde a perdas reais de água: mais de 736 mil metros cúbicos. Também neste concelho já foi anunciado um investimento de mais de 1,2 milhões para combater as perdas de água.

No concelho de Paredes – e tendo apenas em conta a área servida pela Águas de Paredes e não a dos sub-sistemas de águas existentes em algumas freguesias – mais de 23% da água tratada não foi facturada em 2020 (quase 479 mil metros cúbicos). Mais de 424 mil metros cúbicos dizem respeito a perdas reais de água (21%). Foram perdidos 89 litros de água por ramal/dia.

Em Valongo, essa perda foi de 60 litros/ramal/dia. No total, mais de 623 mil metros cúbicos de água não foram facturados (12,5%), sendo que 475 mil metros cúbicos representaram perdas reais de água (10%).

Fonte: RASARP (em litros/ramal/dia)

O concelho de Paços de Ferreira foi, destes cinco, o que registou menos perdas de água. Teve cerca de 293 mil metros cúbicos de água não facturada (14%) e aproximadamente 183 mil metros cúbicos de “perdas reais” de água (9%). Isso representou 29 litros por ramal/dia em perdas.

Também nestes concelhos houve quebras nas perdas reais de água em relação a 2019.

Aumento da eficiência trará “custos mais adequados para o utilizador final do serviço”

A ERSAR adverte que “face aos desafios colocados pelas alterações climáticas, o progressivo aumento da capacidade de reserva de água tratada para abastecimento, constitui um indicador importante, que deve ser acompanhado pela aposta no desafio da redução das perdas reais de água, que persiste com valores demasiado elevados, e em novas formas de gestão deste bem que é cada vez mais escasso, como a reutilização da água residual tratada”.

É “essencial garantir a adesão de todos os utilizadores aos sistemas de abastecimento público de água e de saneamento de águas residuais, assim como a elaboração de um programa de redução de água não facturada, por parte das entidades gestoras, que permita a redução ao longo do tempo das perdas reais e aparentes, assim como do consumo de água autorizado não facturado”, defende o RASARP, alertando que isso tem influência na sustentabilidade económica e financeira das entidades gestoras para que haja a “recuperação integral dos custos por via tarifária”.

“Manifesta-se essencial garantir a adesão de todos os utilizadores aos sistemas de abastecimento público de água e de saneamento de águas residuais, de forma a que os custos do serviço possam ser suportados por todos os utilizadores equitativa e adequadamente ao serviço prestado. A elaboração de um programa de redução de água não facturada, por parte das entidades gestoras, que permita a redução ao longo do tempo das perdas reais e aparentes, assim como do consumo de água autorizado não facturado, aumentará a eficiência na prossecução do serviço e, desse modo, uma maior disponibilidade financeira para a realização dos investimentos necessários, novos e de reabilitação, a custos mais adequados para o utilizador final do serviço, num cenário económico e operacionalmente mais sustentável”, avisa ainda a ERSAR.