Região: Quase três milhões de metros cúbicos de água desperdiçados em 2019

Mostra indicador “perdas reais de água” do último relatório da ERSAR. É água tratada que acaba por não ser facturada. Lousada é o pior exemplo, perdem-se 202 litros de água por ramal por dia, e Paços de Ferreira o melhor

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Há milhões de litros de água desperdiçados todos os anos no país. Em 2019, as perdas reais de água – devido a fissuras, rupturas e extravasamentos – chegaram quase aos 188 milhões de metros cúbicos, indica o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (2020).

Só em Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo a água perdida, que apesar de tratada nunca chegou às torneiras dos consumidores, chegou a quase três milhões de metros cúbicos num ano. Em Lousada, o pior exemplo, 41% da água que deu entrada no sistema perdeu-se enquanto percorria a rede de abastecimento. Isso equivale a 202 litros de água, por ramal por dia. Paços de Ferreira foi o concelho, destes cinco, onde se perdeu menos água em 2019, cerca de 196 mil metros cúbicos.

Gastos ambientais e económicos

Anualmente, mostram os dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), há milhões de metros cúbicos de água que não é facturada, ou seja, “água que, apesar de ser captada, tratada, transportada, armazenada e distribuída, não chega a ser vendida aos utilizadores”. Nestes cálculos estão as perdas reais – através de fissuras, rupturas e extravasamentos -, as perdas aparentes – devidas a imprecisões nas medições da água e a furto ou uso ilícito de água -, e ainda as perdas correspondentes a consumos autorizados mas não facturados – a água para lavagem de ruas, rega de espaços verdes municipais, alimentação de fontes e fontanários, lavagem de condutas e colectores de esgoto e ainda combate a incêndios.

Estas perdas implicam, além de impactes ambientais, reduções de receitas significativas que comprometem a sustentabilidade económica e financeira das entidades gestoras e oneram a conta dos consumidores a quem é facturada a água, tem salientado a ERSAR.

Infografia ERSAR

“Em 2019, a água não facturada pelas entidades gestoras que prestam o serviço abastecimento de água em alta, atinge 30,5 milhões de metros cúbicos e representa 4,8 % do total de água entrada nos sistemas (632,4 milhões de metros cúbicos). Por outro lado, nas entidades gestoras que prestam o serviço de abastecimento de água em baixa, a água não facturada atinge 237,2 milhões de metros cúbicos, representando 28,8 % do total de água entrada nos sistemas (624,5 milhões de metros cúbicos)”, revela o relatório da ERSAR.

“Em relação à água não facturada, no conjunto das entidades gestoras que prestam o serviço de abastecimento de água, verifica-se que a esmagadora maioria, 66 % no serviço em alta e 71 % no serviço em baixa, tem origem nas perdas reais, estando os restantes 30 % repartidos de forma relativamente idêntica entre as perdas aparentes e o consumo autorizado não facturado”, acrescenta o documento. Ou seja, a maioria da água perde-se realmente.

A ERSAR conclui que, em Portugal continental, a percentagem de água não facturada é boa no serviço em alta e mediana no serviço em baixa, “indiciando potencial de melhoria com a alteração de procedimentos de facturação e a redução de perdas de água”.

Água não facturada (%) | Infografia ERSAR

Nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo entraram no sistema, em 2019, 13,8 milhões de metros cúbicos de água. Desses, cerca de 3,4 milhões de metros cúbicos não foram facturados, num total de 24%.

Lousada tem os piores indicadores, com uma qualidade de serviço “insatisfatória”. São mais de 1,1 milhões de metros cúbicos de água não facturada, quase metade da que dá entrada no sistema (49%). Em Penafiel são quase 850 mil metros cúbicos que não foram facturados, 30% da água, e em Paredes 450 mil metros cúbicos (23%). Isso coloca estes concelhos com qualidade de serviço “mediana”.

Já Paços de Ferreira e Valongo tem uma qualidade considerada “boa”, com apenas 15 e 13% da água, respectivamente, a entrar na categoria de não facturada. A Águas de Valongo, Águas de Paços de Ferreira e Águas de Paredes ficam assim abaixo da média nacional e do cluster em que se inserem (ver infografia da ERSAR). Já a Penafiel Verde e a Câmara de Lousada ficam acima da média do país.

Paços de Ferreira com as menores “perdas reais” da região

Perdas reais de água – Densidade de ramais igual ou superior a 20/km de rede [l/(ramal.dia)] | Infografia ERSAR
Dentro dessa “água não facturada” está o indicador de “perdas reais de água”, que se refere a “fugas e extravasamentos”.

Lousada tem, mais uma vez, um nível “insatisfatório” de serviço. 41% da água é perdida antes de chegar à torneira. Neste concelho, perdem-se 202 litros de água, por ramal (troço de canalização existente entre a rede pública e o limite da propriedade a servir) por dia. O total é de 943 mil metros cúbicos de água em 2019.

Segue-se Penafiel com um nível “mediano” e perdas reais de 796 mil metros cúbicos de água. São 112 litros por ramal/dia.

Em Paredes, Valongo e Paços de Ferreira a qualidade do serviço quanto a perdas é “boa”. Em Paredes perderam-se 402 mil metros cúbicos de água no ano de 2019, 86 litros/ramal/dia; em Valongo 506 mil metros cúbicos, 65 litros/ramal/dia; e em Paços de Ferreira 196 mil metros cúbicos de água, 31 litros/ramal/dia.

Infografia ERSAR

O documento conclui que é “essencial a elaboração de um programa de redução de água não facturada, por parte das entidades gestoras, que permita a redução ao longo do tempo das perdas reais e aparentes, assim como do consumo de água autorizado não facturado”.

Ocorrência de avarias em condutas “insatisfatória” em Penafiel e Lousada

Entre os muitos indicadores analisados no relatório da ERSAR está o da reabilitação de condutas.

“Pretende-se avaliar a existência de uma prática continuada de reabilitação das condutas por forma a assegurar a sua gradual renovação e uma idade média aceitável da rede. O indicador é definido como a percentagem média anual de condutas de adução e distribuição com idade superior a dez anos que foram reabilitadas nos últimos cinco anos (conceito a aplicar a entidades gestoras de sistemas em baixa e em alta). Conclui-se que, em Portugal continental, a reabilitação de condutas é insatisfatória no serviço em alta e no serviço em baixa, indiciando potencial de melhoria com uma prática continuada de reabilitação de condutas”, lê-se.

183 concelhos têm “qualidade insatisfatória” neste indicador. É o caso de Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo, cuja percentagem de reabilitação de condutas em 2019 foi dos zero aos 0,4%. A média nacional foi de 0,5%. Lousada destaca-se neste indicador com 4,2%.

Já quanto à ocorrência de avarias nas condutas que originam perdas de água e eventualmente falhas no abastecimento, um indicador definido como o número de avarias em condutas ocorridas por 100 quilómetros de conduta, Penafiel e Lousada têm qualidade “insatisfatória”, com 120 e 74 avarias por 100 quilómetros de conduta, respectivamente, e Paços de Ferreira, Paredes e Valongo “boa”.