Luís Soares tem 80 anos e não se dá parado. “Parar é morrer”, confirma usando a máxima popular. Depois de anos reformado e com pouco para fazer, além de uns arranjos na oficina lá de casa, decidiu, há quatro anos, entregar-se ao voluntariado. Dois dias por semana, à tarde, passou a frequentar o lar da Santa Casa da Misericórdia de Paredes onde ajuda os seniores de todas as formas que pode. Alguns são mais jovens do que ele, mas não acha isso estranho.

“Sinto-me feliz e útil a ser voluntário. Faço hoje por eles porque amanhã posso precisar de quem me ajude a mim. Gostava de ser voluntário até aos 100 anos se estivesse bem como agora”, assegura o natural de Sobreira que garante que esta actividade o rejuvenesce.

Trabalho não falta, garante. Muda lâmpadas e torneiras, faz pequenos arranjos, ajuda os seniores a deslocar-se e a usar a casa de banho, participa com eles nas actividades e, na hora das refeições, dá-lhes comida à boca.

“Só não mudo fraldas, de resto faço tudo e há muito que fazer”, explica. O que mais gosta é de mesmo de ajudar os seniores na alimentação. “Se não os ajudasse sujavam-se mais e comiam muito menos”, afirma o paredense.

“Venho para aqui a assobiar e saio daqui a assobiar”

Luís Soares nas Marchas Seniores em Paredes

Nascido e criado na Sobreira, Luís Soares veio de uma família numerosa. O pai era pedreiro e a mãe doméstica. Teve sete irmãos. Estudou até à terceira classe e depois foi trabalhar numa oficina de tipografia aos 14 anos. Depois de estar aí um ano passou a trabalhar como serralheiro. Foi funcionário da CP durante vários anos até partir para França, à procura de uma vida melhor para ele e para a família. Trabalhou como serralheiro e guarda numa fábrica durante décadas e regressou a Portugal aos 57 anos, já reformado.

Casado há mais de 60 anos, o paredense teve quatro filhos, estando dois deles emigrados na França e na Alemanha.

Em Portugal, o casal viu-se numa casa demasiado grande só para dois. Pelo avançar da idade escolheram mudar-se para um apartamento no centro da cidade de Paredes. Só que, conta Luís Soares, não se dá parado “nem preso”. Em casa tem uma oficina onde está sempre a fazer pequenos biscates, de pintor, electricista ou serralheiro, entre outros.

Há quatro anos decidiu experimentar fazer voluntariado. Tinha 76 anos. Passou a fazer um pouco de tudo no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Paredes duas tardes por semana. “Venho para aqui a assobiar e saio daqui a assobiar. Fechado em casa ficava enervado. Gosto muito de trabalhar com estas pessoas”, garante Luís Soares, conhecido e acarinhado por todos na instituição, desde utentes a funcionários. Além de ajudar no que pode, fazendo pequenos arranjos e dando apoio aos seniores nas deslocações e idas à casa de banho, também constrói alguns dos elementos usados nas actividades, em que também participa. Fez, por exemplo, uma cascata usada na última actuação das marchas de São João.

Nunca tinha trabalhado no voluntariado nem com idosos, mas afirma que gosta muito. “Toda a gente me conhece. Eles brincam comigo e eu com eles”, conta.

“Sinto-me feliz e útil a ser voluntário e quero continuar aqui enquanto puder ser útil”, garante o sénior que, não põe de parte a hipótese de, caso precise um dia, passar a ser ali utente.

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