Júlio Pomar no Atelier Museu Júlio Foto: Fundação Júlio Pomar, Lisboa Fevereiro 2013. © Luisa Ferreira (DR)

O homem que dizia que “um quadro é como um filho que se põe no mundo. Tem que se governar sozinho” pode ser lembrado e revisitado, atravé das pinceladas de vários artistas, numa exposição coletiva que vai ser inaugurada no próximo sábado, dia 4 de maio, na Loja Interativa de Turismo, de Paredes.

“Uma jornada à descoberta de Júlio Pomar” é o nome da exposição que tem a curadoria de Gracinda Ramos e reúne obras de diversos artistas, como Alexandra Duarte, Cláudia Bessa, Cláudio Duarte, David Rocha, Diana Barbosa, Fábio Carneiro, Filipa Machado, Ian Caldas, João Machado, Luana Rodrigues, Marco Rocha, Micaela Duarte, Ricardo Dias, Tiago Mendes e Tomás Guedes.“Uma Jornada à Descoberta da Obra de Júlio Pomar”.

Júlio Artur da Silva Pomar nasceu no Bairro Alto, em Lisboa, no dia 10 de janeiro de 1926, no ano do golpe militar que impôs a ditadura. Assumindo-se, desde muito cedo, como um agitador da contestação ao regime, foi influenciado por escritores oposicionistas como Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes e fez parte da terceira geração de pintores modernistas, tendo-se empenhando na afirmação do movimento neorrealista. A sua vida foi passada entre Lisboa e Paris.

Foi levado para o mundo das artes por um escultor, amigo da família, aos oito anos, que o convenceu a frequentar, como aluno livre, as aulas de desenho na então escola de arte aplicada António Arroio. Por ali fez a sua formação inicial, durante a adolescência, até ingressar, com 16 anos, na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde ficou apenas durante dois anos.

Em 1944 transferiu-se para a Escola de Belas Artes do Porto, por não suportar a discriminação de que eram alvo os alunos vindos da António Arrojo, em Lisboa. Foi bem acolhido no Porto e, rapidamente, se integrou no grupo de Fernando Lanhas, Júlio Resende e Amândio Silva, que constituíam o núcleo dos organizadores das exposições independentes.

Escreveu, participou em expoisções, foi preso pela Pide, pintou um mural de 100 metros quadrados, no hall da entrada lateral do Cinema Batalha, no Porto, mas, um ano depois, o governo de Salazar ordenou a sua destruição, admitindo-se, contudo, que o mural tenha apenas sido coberto por uma camada de gesso, e, como tal, passível de recuperação.

Foi perseguido pelo regime, mas sobreviveu à custa da ilustração de trabalhos decorativos e em cerâmica. Viajou e, em 1963, fixou residência em Paris. De 1964 a 1966 o pintor foi bolseiro da Fundação Caloust Gulbenkian. Em 1974 foi um dos 48 artistas que participam na pintura do mural do 10 de junho, manifestação de arte coletiva para comemorar a recente Revolução de Abril. O seu reconhecimento não parou de aumentar nos anos seguintes, participando em todas as representações de arte portuguesa no estrangeiro.  Foi também autor de cenografias, tapeçarias, projetos decorativos para arquitetura e vários textos, da crítica à poesia. Em 1990 foi o pintor escolhido pelo Presidente da República, Mário Soares, para fazer o retrato oficial do Chefe de Estado.

Apesar de ser avesso às distinções, para além da sua longa carreira ter contado com inúmeras exposições em Portugal e no estrangeiro, também foi várias vezes agraciado, como por exemplo com os prémios da Associação Internacional dos Críticos de Arte – Secretaria de Estado da Cultura (1994), o Celpa/Vieira da Silva (2000) e o Amadeo de Souza-Cardoso (2003).

Recusou uma comenda do Presidente Ramalho Eanes, recebeu uma condecoração do Presidente Mário Soares (mas não a foi levantar pessoalmente) e a Ordem da Liberdade, do Presidente Jorge Sampaio, bem como a comenda “Des Arts e des Lettres”, do governo francês.

Júlio Pomar tornou-se numa figura fundamental da arte portuguesa, morreu em 2018. Várias exposições antológicas têm sido organizadas em sua homenagem, esta é uma delas. “Uma Jornada à Descoberta da Obra de Júlio Pomar” vai estar patente até ao dia 25 de maio e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, e aos sábados, das 10h00 às 12h30 e das 14h30 às 17h00.

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