Aquilino Ribeiro, José Régio, Eça de Queiroz, José Luandino Vieira, Sofia Ribeiro Gomes, Natália Correia e Maria Archer são alguns dos autores que têm os seus livros expostos no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca, em Lousada. Homens e mulheres das letras que viram os seus escritos censurados no Estado Novo, “desfilam” no designado ‘Jardim de Abril’, em que os livros são os degraus de um espaço que, à semelhança de uma passadeira vermelha da literatura, podem ser transpostos, num contexto onde se misturam ainda a arte e a natureza.

A autoria deste ‘manifesto’ de abril é do artista multidisciplinar e criativo Hugo “Xesta” Moura, que desenvolveu esta obra e outras que se espalham pelo jardim e que pretendem enfatizar a importância do 25 de abril de 1974, data que esta semana soprou as 50 velas.

Antes deste ponto de viragem na história de Portugal, que representou o fim de quase cinco décadas de ditadura salazarista e o início de um período de transição democrática, a escrita, as publicações e a venda de livros eram rasuradas e impedidas por uma censura e uma polícia política que punia a liberdade de pensamento, o espírito livre, a imaginação e que pretendeu amarrar o sonho.

Foram dezenas de milhares de livros e referências censuradas e proibidas. Escritores, editores e livreiros eram detidos, interrogados e até torturados, mas, sem medo e resilientes atiravam palavras ao Estado Novo, tendo sido cruciais para que a revolução fosse uma realidade.

Os capitães pegaram em armas e disseram basta, depois de um caminho feito pelo escritores e as suas publicações, que conseguiram abrir mentes e pensamentos, tendo tido um papel princicpal na conquista da liberdade. Ambos personificam o 25 de abril que, agora, a autarquia de Lousada pretendeu homenagear. Até porque, nunca podemos esquecer daquele tempo em que os livros eram lidos em segredo absoluto, traficados por baixo dos balcões, vendidos embrulhados em papel de mercearia ou escondidos debaixo dos colchões, onde, à noite, eram lidos em segredo.

Para além da liberdade, ‘Jardim de Abril’ evoca ainda uma das plantas mais acarinhadas dos jardins históricos de Lousada, a camélia. Neste espaço a planta torna-se figura central, representada por mais de meia centena de variedades, onde se destaca uma coleção de camélias portuguesas, mas também variedades japónicas, híbridas e reticulatas.

Ao longe percebemos que, este espaço se traduz na soma “da biodiversidade com a cultura”, ao mesmo tempo que é um “espaço de contemplação e usufruto”, onde todos os caminhos e degraus culminam em abril, numa simbiose entre o homem e a natureza.

E neste marco histórico, em que se assinalam os 50 anos da revolução, Lousada distingue-se pela “longa e prestigiada tradição da arte de rua como forma de manifestação”, porque, a partir de agora, no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca cumpre-se abril.

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