A mobilidade de uma cidade é um dos factores que mais contribuem para a qualidade de vida dos seus habitantes. Qualquer alteração significativa nessa área deve ser estudada e planeada de forma a aumentar a qualidade de vida e a promover um desenvolvimento urbano sustentável. Por isso, quando um autarca anuncia alterações a introduzir no trânsito e nas principais artérias de uma cidade, espera-se que o faça depois de ter estudado bem o assunto e planeado uma estratégia de desenvolvimento.

Vem isto a propósito das obras na principal avenida da cidade de Paredes. A Câmara Municipal decidiu construir mais uma rotunda e alterar o sentido do trânsito na Avenida da República. Numa avenida que era de sentido único, sem espaço para ultrapassagem, a Câmara Municipal decidiu suprimir a ciclovia e, através de um traço amarelo no meio da via, transformar a avenida em dois sentidos.

Mesmo não tendo formação académica em Arquitectura, Urbanismo ou Gestão de Trânsito, a experiência de vida nesta cidade leva-me a interrogar-me sobre a possibilidade de passagem de um autocarro por outro, em sentidos contrários, sem que nenhum deles passe por cima do passeio. Ou sobre o que acontecerá ao trânsito de veículos sempre que um autocarro pare numa das paragens da avenida, ou quando um camião estiver a descarregar carne para um dos talhos que ali existem.

Não é nada tranquilizador que o presidente da Câmara Municipal de Paredes possa anunciar obras de tão profunda implicação na vida quotidiana dos seus concidadãos como sendo “à experiência”, para ver como funcionam. Afirmar que está a fazer estas alterações baseado na sua intuição construída a partir das visitas que fez aos comerciantes durante a campanha eleitoral – foi mesmo isto que o presidente da Câmara afirmou – sugere muito amadorismo e uma certa dose de irresponsabilidade.

Numa altura em que as cidades apostam em planos de mobilidade urbana sustentável, em políticas de “mobilidade para todos”, o presidente da Câmara Municipal de Paredes afirma que “as ciclovias não funcionam” por causa das especificidades em termos de relevo e, por isso, não lhe parece que seja importante a existência desse tipo de vias para veículos não-poluentes, numa cidade moderna e que se quer sustentável.

É verdade que a cidade tem estado progressivamente a perder vida. É verdade que a circulação do trânsito de veículos tem que ser revista e que a ciclovia tem que ser redesenhada. Mas fazer tudo isso com base na intuição, aparentemente dispensando estudos e planos, é como apostar o dia-a-dia dos munícipes na roleta, à espera que saia o número da “fezada”…