Sabia que, a cada sete segundos, há uma pessoa que morre no mundo devido à diabetes? Que no nosso país morrem 12 pessoas por dia com esta doença? E que, segundo a Organização Mundial de Saúde, esta doença é reconhecida como um grave problema de saúde pública, sendo a primeira causa de cegueira, amputações, hemodiálise e também de enfartes em jovens e de morte súbita em Portugal?

Para apoiar os diabéticos da região e para desmistificar a doença, ensinando mais sobre a diabetes, sobre os factores de risco e formas de prevenção, três enfermeiras de Penafiel criaram, há dois anos, a Associação de Diabéticos do Vale do Sousa – ADI.

Esta noite, pelas 20h30, a associação organiza mais uma palestra sobre “Vida Saudável e Diabetes”, no Auditório do Museu Municipal de Penafiel, para sensibilizar a comunidade para a problemática e para a importância de adoptar estilos de vida para a prevenção desta patologia que afecta mais de um milhão de pessoas em Portugal.

Saiba mais sobre o que é a diabetes e sobre a prevalência da doença no nosso país e no mundo.

 

“As pessoas não têm a verdadeira noção do que é a diabetes”

Rita Nogueira, Cristina Marques e Fernanda Mota são enfermeiras da Unidade de Saúde Familiar de São Martinho, em Penafiel. Criaram a ADI porque sentiam a necessidade de dar mais apoio aos diabéticos da região. “Costumávamos ir com um grupo de utentes da USF ao Fórum Nacional da Diabetes e sentimos que havia essa lacuna”, explica Cristina Marques.

A associação nasceu em Fevereiro de 2014, vocacionada para os concelhos de Penafiel, Paredes e Castelo de Paiva (mas com o objectivo de, progressivamente, chegar a todo o Vale do Sousa). Desde essa altura, têm procurado promover a saúde e a defesa dos interesses dos diabéticos, desmistificando a doença junto da sociedade. Têm realizado acções de formação e educação; promovido conferências e simpósios, assim como actividades lúdicas, encontros de convívio e desportivos para fomentar a partilha e solidariedade entre os diabéticos; realizado rastreios e participado em feiras da saúde e noutras acções de sensibilização para a doença.

O objectivo, refere Cristina Marques, é estar mais perto dos doentes. “Queremos que percebam melhor o que é a doença. Fazemos jogos e actividades para trabalhar isso em grupo”, dá como exemplo. “Fazemos jantares, convívios e caminhadas onde trocam ideias e testemunhos. Partilhar é muito importante. As pessoas não têm a verdadeira noção do que é a diabetes. 50% da população mundial será diabética daqui a 20 anos”, sustenta a enfermeira.

Por outro lado, um dos problemas é que como “não dói” a doença é desvalorizada, acabando por conduzir a complicações a nível circulatório e renal e à cegueira. “Depois percebem que não é uma doença assim tão simples, mas depois já é tarde. Quando alguém dá um testemunho sobre as situações complicadas pelas quais já passou, quem ouve dá mais valor”, acredita a fundadora da ADI.

 

Especialistas dão conselhos e diabéticos falam sobre a doença

“É preciso chamar a atenção e alertar para a necessidade da prática de actividade física que é um dos pilares da prevenção e também para o tratamento da diabetes. Medicação, actividade física e alimentação são os três factores a ter em conta para controlar a doença”, salienta Cristina Marques. Esta divulgação sobre a diabetes torna-se muito necessária quando se percebe que a maior parte dos diabéticos são de tipo II, ou seja, “adquirem a doença, não nascem com ela”, diz a profissional de saúde. “80% da população tem uma diabetes adquirida graças a maus hábitos”, frisa.

Por isso, esta sexta-feira, o Museu Municipal vai ser palco de mais uma conferência sobre “Vida Saudável e Diabetes”, promovida pela Associação de Diabéticos do Vale do Sousa. O evento contará com a participação de profissionais de saúde e de desporto que deixarão algumas dicas para melhorar a saúde dos portugueses. “Estilos de Vida Saudável”, pela médica Edite Rio; “Importância do Exercício Para a Saúde”, pelo professor da Faculdade de Desporto do Porto, Manuel Botelho; “Exercício Físico na Diabetes – o papel dos treinos personalizados”, pelo professor de Educação Física Luís Ferreira, serão os temas em debate. A sessão contará ainda com testemunhos de quem vive a doença.

Doença afecta 422 milhões de pessoas no mundo e mais de um milhão de pessoas em Portugal

A epidemia da diabetes tem vindo a crescer. Em 2014, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelados este ano, a doença afectava já cerca de 422 milhões de adultos em todo o mundo, quatro vezes mais do que no ano de 1980. Em Portugal, diz a mesma fonte, a doença mata mais de 12 pessoas por dia.

Já o último relatório anual do Observatório Nacional da Diabetes, refere que, em 2014, a prevalência estimada da diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de indivíduos) foi de 13,1%. Ou seja, mais de 1 milhão de portugueses neste grupo etário tem diabetes.

Segundo a OMS, os principais factores de risco para a diabetes, são o excesso de peso, o sedentarismo e a obesidade. O relatório da instituição mostra que em Portugal 6,18 milhões de pessoas (59,8%), mais de metade da população, têm excesso de peso; 2,3 milhões de pessoas estão em situação de obesidade (22,1%); e que o sedentarismo, ou falta de actividade física, tem uma prevalência de 37,3%.

A diabetes é, em praticamente todos os países desenvolvidos, a principal causa de cegueira, insuficiência renal e amputação de membros inferiores. É ainda uma das principais causas de morte por aumentar de forma significativa o risco de doença coronária ou de acidente vascular cerebral.

O que é a diabetes e que tipos de diabetes existem?

A diabetes é uma doença crónica caracterizada pela produção insuficiente de insulina ou por uma incapacidade do corpo em utilizá-la. O corpo passa a utilizar de forma incorrecta a principal fonte de energia, a glicose. Isso faz com que haja um aumento dos níveis de glicose (açúcar) no sangue.

Diabetes de tipo I

É causada pela destruição das células produtoras de insulina do pâncreas pelo sistema de defesa do organismo, geralmente devido a uma reacção auto-imune. A doença pode afectar pessoas de qualquer idade, mas ocorre geralmente em crianças ou adultos jovens. Essas pessoas necessitam de injecções de insulina diárias para controlar os seus níveis de glicose no sangue, ou não sobrevivem. A diabetes de tipo I é menos frequente do que a de tipo II.

Diabetes de tipo II

Nestes casos o pâncreas não produz insulina suficiente ou o organismo não consegue utilizar eficazmente a insulina produzida. Nestes casos a doença está muitas vezes associada à obesidade, e há cada vez mais crianças a desenvolver a doença.

A diabetes de tipo II muitas vezes passa desapercebida por muitos anos, sendo o diagnóstico efectuado devido a manifestação de complicações associadas ou acidentalmente, através de um resultado anormal dos valores de glicose no sangue ou na urina. Ao contrário da diabetes de tipo I, as pessoas com diabetes de tipo II não são dependentes de insulina, mas podem necessitar dela para controlar os níveis de açúcar, caso não o consigam fazer com uma dieta alimentar e a medicação normal.

Diabetes Gestacional

A Diabetes Gestacional corresponde a qualquer grau de anomalia do metabolismo da glicose documentado, pela primeira vez, durante a gravidez, explica o Observatório Nacional da Diabetes. O controlo dos níveis de glicose no sangue materno reduz significativamente o risco para o recém-nascido. As mulheres que tiveram Diabetes Gestacional apresentam um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo II nos anos seguintes.

Números (segundo o relatório de 2015 do Observatório Nacional da Diabetes)

– Em 2035 estima-se que poderão existir 592 milhões de pessoas com diabetes.

– O número de pessoas com diabetes tipo II está a aumentar em todos os países.

– A maior parcela de pessoas com diabetes tem idades compreendidas entre os 40 e os 59 anos.

– Existem 179 de milhões de pessoas com diabetes que desconhecem que possuem a doença.

– A diabetes provocou 4,9 milhões de mortes em 2014. A cada sete segundos morre uma pessoa por diabetes.

– Mais de 79 mil crianças e jovens desenvolveram diabetes tipo I em 2013.

– Mais de 21 milhões de nascimentos foram afectados, durante o período de gravidez, por hiperglicemia materna em 2013.