O argumentista e realizador do filme Pecado Fatal, rodado em Paços de Ferreira, vai lançar um livro infanto-juvenil no início do mês de Março. Luís Diogo, professor na Escola EB 2,3 de Frazão, escreveu e ilustrou o conto “O Cão que chovia”, que vai ser editado pela Chiado Editora e apresentado a 4 de Março, no café-concerto do Rivoli, no Porto, inserido na programação do Fantasporto 2016.

O Fantasporto – 36.º Festival Internacional de Cinema do Porto deste ano, que decorre entre 26 de Fevereiro e 5 de Março, volta a ser um marco na carreira deste argumentista: volta a ser o único elemento português do júri deste festival, na secção Semana dos Realizadores, e vai ver estrear a longa-metragem “Gelo” da qual é autor da história original e co-argumentista.

2016 é também o ano em que Luís Diogo avança com a realização da sua próxima longa-metragem. Chama-se “Uma Vida Sublime” e as filmagens estão já agendadas para Junho, Julho e Agosto deste ano, na cidade do Porto. Mas haverá também algumas cenas filmadas em Paços de Ferreira, promete.

Aos 43 anos, Luís Diogo define-se como um argumentista e tem ainda muitas histórias a que quer dar vida.

Luís Diogo

Não é de Paços de Ferreira mas está ligado a Frazão há 22 anos. É professor de Educação Visual da EB 2,3 de Frazão desde essa altura e, há seis anos, passou também a residir nesta freguesia do concelho.

Desde jovem que Luís Diogo, natural de Castelo Branco, gosta de escrever histórias. Até que houve um dia em que teve uma ideia para escrever a história de um filme. “Quis aprender como escrever um argumento”, conta. Já professor, foi tentar um curso de Cinema no Porto que acabou por nunca terminar. Era a escrita de argumentos que o fascinava e dedicou-se a escrever guiões. O primeiro argumento original a ganhar forma foi “A Bomba” (2002), pela mão de Leonel Vieira, que contou com actores como Diogo Infante e Fernanda Serrano. Foi um dos filmes mais vistos do ano.

Pecado Fatal conquistou 10 prémios

Decidiu começar a realizar. Era a única forma de os guiões ganharem vida e de ganhar projecção. Realizou três curtas-metragens que chegaram a vários festivais internacionais.

Seguiu-se o desafio da longa-metragem “Pecado Fatal”. O filme, com orçamento muito reduzido (cerca de 10 mil euros) foi gravado em Paços de Ferreira e contava a história de uma rapariga que regressava à terra onde nasceu à procura dos pais verdadeiros e que acabava por se envolver numa história de amor avassaladora. Teve como protagonista Sara Barros Leitão.

O filme participou em 35 festivais e ganhou 10 prémios, quase todos internacionais. “Foi o filme português mais premiado de 2014”, afirma com orgulho Luís Diogo. Mas em termos de audiência, não teve o acolhimento esperado, faltou-lhe divulgação. Com o dinheiro da venda deste filme conseguiu arranjar dinheiro para pagar o próximo, já em curso. Chama-se “Uma Vida Sublime” e será gravado no Porto.

É autor da história original e co-argumentista de “Gelo” que está prestes a estrear

Longa-metragem GeloMas há outros projectos deste realizador e argumentista que estão agora a ver a luz do dia. É o caso de “Gelo”, filme de Luís e Gonçalo Galvão Teles que vai abrir o Fantasporto a 26 de Fevereiro e que tem estreia nacional a 3 de Março. A longa-metragem que conta com as participações dos portugueses Albano Jerónimo e Afonso Pimentel foi já selecionada para a competição do festival americano Cinequest.

A história original foi escrita por Luís Diogo há cerca de 20 anos. E o filme, que devia ter sido realizado em 2005, foi sendo adiado. É co-argumentista da obra final, que sofreu algumas alterações. O professor de Frazão define-a como uma história de amor com duas histórias paralelas em que não se consegue perceber qual é a verdadeira e qual a imaginada. Diz-se ansioso pela reação do público e tem a expectativa de que o filme conquiste alguns prémios.

Novamente júri do Fantasporto

Depois de o filme “Pecado Fatal” ter passado pelo Fantasporto, em 2014, Luís Diogo foi convidado a integrar o júri do festival, no ano passado. “Fui o único português da área do Cinema Fantástico”, explica. Este ano, volta a integrar o júri da secção Semana dos Realizadores (porque Gelo compete na outra categoria).

Ser júri, é difícil, não esconde, sobretudo pela necessidade de consenso entre os vários elementos na hora de premiar um filme, com tantos em competição. Mas é também uma “experiência espectacular” e que permite travar conhecimentos que podem abrir portas a projectos futuros.

Aos 43 anos, Luís Diogo define-se como um argumentista e está cheio de histórias “na manga”. Há vários argumentos já escritos e muitas ideias para passar ao papel.

“O Cão que chovia” quer ensinar uma lição e será lançado no Fantasporto

Livro O Cão que Chovia

Lançar um livro infanto-juvenil não estava nos seus planos. Mas “O Cão que chovia” apareceu-lhe por acaso.

“A ideia surgiu num dia de chuva, em Paços de Ferreira. Alguém se aproximou de mim e disse que estava ali um cão cheio de chuva. Achei logo que era um bom título para um livro de crianças”, conta o autor e ilustrador.

O livro ganhou forma com o apoio da Chiado Editora e será lançado no dia 4 de Março, no âmbito do Fanstasporto.

A história roda em torno da forma desconfiada como olhamos para estranhos e de como só os aceitamos quando achamos que são úteis, explica Luís Diogo. “Um estrangeiro chega a uma aldeia florida, onde é mal aceite pelos moradores. Mas quando este estranho aparece disfarçado de palhaço, e começa a divertir os turistas, aumentando os lucros dos comércios locais, a aldeia aceita-o, embora apenas lhe alugue uma casa bem longe da aldeia”, explica a sinopse. Mas a história, escrita em quadra, não acaba por aqui. “Quando o estrangeiro desaparece, a aldeia não aprende a lição e vai cometer o mesmo erro com o seu pequeno cão: ignora-o até perceber que lhes pode ser útil”. O livro termina com a aldeia a aprender uma lição.

Metáfora sobre a forma como olhamos os imigrantes e refugiados

O objectivo não era ser o professor de Educação Visual a ilustrar a obra, mas depois de um amigo lhe ter lançado o desafio de tornarem a história numa aplicação para tablets e telemóveis acabou por ser ele a fazer o grafismo, quer do livro quer desta versão interactiva.

“Gosto da história, acho que está interessante e actual”, garante Luís Diogo. “É uma metáfora bastante actual sobre a forma como a nossa sociedade olha os imigrantes e os refugiados, culpando-os de todos os males e aceitando-os apenas quando estes têm algo de útil, para nós”, explica.

Para já, o docente não pensa escrever mais nenhum livro. “Estou mais empenhado em escrever para cinema”, diz.

O livro será apresentado na Biblioteca Municipal de Paços de Ferreira no dia 9 de Março, pelas 21h00.

Próxima longa-metragem será gravada no Porto

Luís Diogo

Chama-se “Uma Vida Sublime” a próxima longa-metragem de Luís Diogo. As filmagens estão já agendadas para Junho, Julho e Agosto deste ano, e terão como palco a cidade do Porto. Haverá ainda cenas filmadas em Paços de Ferreira.

É um filme “sobre a felicidade e se há regras para atingi-la”, explica o argumentista e realizador. “Conta a história de um médico com uma vida sublime que deseja que todos tenham a possibilidade de ter uma vida como a dele e que usa métodos estranhos para que pessoas desiludidas com a vida possam voltar a desfrutar dela”, acrescenta.

É um projecto “mais ambicioso” que Pecado Fatal, admite Luís Diogo. O orçamento provisório ronda os 25 mil euros. Os castings já começaram, sendo que a produção inclui 35 actores. O filme terá apoio da Câmara Municipal de Castelo Branco. “É muito difícil arranjar apoios. Cheguei a contactar a Câmara do Porto mas não obtive resposta”, explica o realizador, assumindo que muitas vezes não vale a pena despender energias quando a resposta será, maioritariamente, negativa.

Filme estará concluído em 2017

Como reduzir custos quando um filme português tem em média um orçamento de um milhão de euros? “A maioria seria para o meu salário de realizador. E eu ainda sou argumentista, produtor e editor…”, resume. Os actores também não serão muito conhecidos, o que já reduz o valor a pagar.

O objectivo é levar este filme a festivais. “Em Portugal, para se fazer filmes é preciso ter prémios de festivais. Se este conseguir será mais fácil fazer o próximo”, admite.

A longa-metragem deverá estar concluída em meados de 2017.