Uma família de refugiados sírios irá ficar instalada em Penafiel. A casa, edificada numa quinta da Eja, já está praticamente pronta para que um agregado familiar de três ou quatro elementos comece aquilo que se espera ser uma nova fase da sua vida.

A habitação em causa, assim com a Quinta de Abôl, integra o património da Fundação de Santa Maria Madalena, instituição sedeada também na Eja.

Para além da moradia, a família a acolher irá beneficiar, ainda, de alimentação gratuita e de apoio ao nível da educação e da saúde. A Casa do Povo de Peroselo, a Associação para o Desenvolvimento de Rio de Moinhos, o Agrupamento de Escolas do Pinheiro e o centro de saúde são algumas das entidades que estão envolvidas no projecto de acolhimento.

 

Instituições locais envolvidas no projecto

É numa quinta de 13 hectares que existe uma casa de dois andares, com dois quartos, uma cozinha, uma casa de banho e uma sala de estar. É uma das mais pequenas habitações de um conjunto de construções que integra o património pertencente à Fundação de Santa Maria Madalena. Mas será, em breve, o lar desejado de uma família de refugiados que deve chegar a Portugal até ao final do mês. “Está quase tudo pronto para a acolher”, garante Henrique Rodrigues, vogal da direcção da Fundação. “A instituição tinha esta casa disponível e achou que não podia deixar de participar neste projecto. Temos condições para dar uma resposta imediata”, justifica.

 

Mas, na Eja, a família de refugiados não terá direito, somente, a uma casa. “Também vamos disponibilizar a roupa e a alimentação necessária. Numa primeira fase, será fornecida a alimentação confeccionada, mas, o mais breve possível, serão dados os alimentos para que a família possa confeccionar a sua própria comida”, avança Albertina Alves, directora técnica do Centro Social de Ermesinde, em Valongo, que colabora com a Fundação de Santa Maria Madalena.

Os responsáveis desta instituição que integra a Plataforma de Apoio aos Refugiados também já trataram de outros aspectos fundamentais para a integração plena de uma família que deverá ter uma ou, no máximo, duas crianças. “Temos uma parceria com a Casa do Povo de Peroselo e a Associação para o Desenvolvimento de Rio de Moinhos, que dispõem de creche e infantário, vocacionada para o acolhimento das crianças mais pequenas”, refere Henrique Rodrigues. E, acrescenta, os meninos e meninas em idade escolar já têm lugar garantido na Escola do Pinheiro. Será ainda neste estabelecimento de ensino que será desenvolvido um programa para “ensinar a língua e cultura portuguesa a toda a família”.

O centro de saúde local já foi, de igual modo, alertado para o facto de os “refugiados terem o estatuto de cidadãos nacionais e estarem, por isso, abrangidos pelo Estado Social”. Fica a faltar encontrar empregos para os adultos, mas essa é uma preocupação menos premente. “Estas pessoas terão de passar por um processo de certificação de competências. Quem não as tiver terá de ter formação profissional. Mas não vamos trabalhar na sua inserção no mercado de trabalho nos primeiros meses”, avisa Albertina Alves.

Com ou sem competências para tal, a família que ficar instalada na Eja poderá, de imediato, usufruir dos vastos campos existentes na Quinta de Abôl. “Terá todas as condições para desenvolver uma actividade na área da agropecuária se assim o entender. É uma actividade terapêutica e que pode aumentar o seu rendimento”, frisa a directora técnica.

 

Fundação criada por médico

A Fundação de Santa Maria Madalena foi criada por Alberto Sarmento e Castro, um médico que vivia na Eja, mas que sempre exerceu a sua profissão no Porto. Sem filhos ou outros herdeiros directos, Sarmento e Castro decidiu deixar todo o seu património, que para além da Quinta de Abôl é composto por terrenos e casas localizadas em Santa Marta e em Penafiel, a uma Fundação que teve os seus estatutos aprovados em 1983. Logo aí, ficou estipulado que a instituição estaria vocacionada para a “educação e formação da mulher rural”. Anos mais tarde, o objecto social mudou para a “recuperação de pessoas em dificuldade e com comportamentos aditivos”. Nesta altura, a Quinta de Abôl passou a acolher uma unidade de recuperação e integração de toxicodependentes. Um projecto que terminou há cerca de cinco anos. “Depois funcionou aqui uma empresa dedicada à inserção profissional de desempregados de longa duração e beneficiários do Rendimento Social de Inserção”, complementa Henrique Rodrigues. Mas também esta iniciativa acabou e a Quinta de Abôl está, desde então, sem qualquer tipo de actividade.

 

Hotel do Inatel também poderá receber refugiados

Há vários tipos de organizações a trabalhar no acolhimento de refugiados em Portugal. A Plataforma de Apoio aos Refugiados, na qual está incluída a Fundação de Santa Maria Madalena, é uma das mais importantes e é através deste organismo que o Centro Social de Ermesinde irá, de igual forma, receber famílias oriundas da Síria. Neste momento, os responsáveis desta instituição estão a ultimar as obras nas casas que serão entregues às famílias e tudo deverá estar pronto antes da chegada dos primeiros refugiados ao país.

Já os dirigentes do Inatel também se mostraram disponíveis para participar no projecto. No entanto, neste caso a chegada dos refugiados já não acontecerá através da Plataforma de Apoio aos Refugiados. Mesmo assim, o hotel situado igualmente na Eja poderá ser a casa de homens, mulheres e crianças que estão a fugir do seu país. “É público que o Inatel oferece um conjunto de cem empregos para inserção profissional dos refugiados. E também é público que o Inatel vai disponibilizar as suas instalações, fora do período de férias, para acolher refugiados”, refere Henrique Rodrigues.

Pormenores

– A Fundação de Santa Maria Madalena irá celebrar com a família de refugiados um “contrato de compromisso” em que estarão vincados os direitos e deveres de cada uma das partes. Será válido para dois anos.

– Na Quinta de Abôl já habita uma família. Será este agregado familiar o principal apoio e ponto de contacto dos refugiados.

– A família de refugiados será, regularmente, apoiada e visitada por técnicos especializados. “É muito importante que, nos primeiros tempos, se criem laços de confiança fortes”, defende Albertina Alves. Todos os técnicos envolvidos no projecto frequentarão um curso de formação ministrado, através de e-learning, pela Plataforma de Apoio aos Refugiados.