O capão de Freamunde, que já tinha denominação de Indicação Geográfica Protegida (IGP), atribuída pela Comissão Europeia, tem agora também um “bilhete de identidade”, um selo identificativo e uma anilha que certificam a origem do produto.

Só os capões com esta identificação poderão participar no concurso de “Melhor Capão Vivo”, realizado durante a Feira de Santa Luzia, e ser comercializados. Vinte dos 70 produtores ligados à Associação de Criadores de Capão de Freamunde já estão certificados, diz João Paulo Carvalho, da referida associação. Ao todo, são já cerca de mil capões com “bilhete de identidade”.

A XIII Semana Gastronómica do Capão à Freamunde, que regressa entre 1 e 13 de dezembro e conta com 13 restaurantes aderentes, foi apresentada ontem, no Restaurante Areia, vencedor do concurso gastronómico do ano passado.

O Capão à Freamunde, que já conta com inúmeros embaixadores, muitos deles com estrela Michelin, ganhou mais três: Manuel Serrão, gastrónomo; Isabel Pires, do Restaurante Bem-Haja, em Nelas; e António Loureiro, chef do Restaurante A Cozinha, em Guimarães, que acaba de conquistar uma estrela Michelin.

“Tenho um orgulho muito grande em ser presidente deste concelho que consegue transformar uma coisa simples num produto de excelência”

Outra das novidades da edição deste ano, com o objectivo de promover esta iguaria autóctone, conhecida por ser um prato dos reis, e permitir a mais pessoas a degustação, é o facto de o capão ser também servido à dose. “Por regra, a ave é servida à unidade, mediante encomenda prévia, mas este ano os restaurantes vão servir também capão à dose”, explica o município. Um capão custa em média 130 euros (e dá para oito pessoas), já a dose (para duas pessoas) vai custar 37,5 euros.

Durante a sessão, o presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira agradeceu a várias entidades, sobretudo aos restaurantes do concelho que “são extraordinários e que têm vindo a aderir ano após ano a esta semana e, com isso, conseguem promover este produto de excelência que é o capão, que é genuinamente nosso e que é confeccionado com o saber de muitos anos, de uma tradição secular”. Humberto Brito lembrou que, todas as edições, esta semana gastronómica traz novidades e que ter capão à dose é “uma evolução e uma oportunidade”. O autarca realçou ainda o papel das empresas na divulgação deste produto. “Os nossos empresários também são embaixadores do capão e trazem muitos clientes de Portugal e do estrangeiro a provar esta iguaria única”, disse. “Tenho um orgulho muito grande em ser presidente deste concelho que consegue transformar uma coisa simples num produto de excelência. O capão é uma marca”, concluiu o presidente da câmara.

Também Rui Carneiro, responsável pela Associação Empresarial de Paços de Ferreira, destacou o capão à Freamunde como um produto “internacional e uma marca de Paços de Ferreira” que “traz milhares de pessoas ao concelho e é importante para a economia”.  Jorge Magalhães, do Turismo Porto e Norte de Portugal falou de um produto “emblemático que cada vez mais se afirma dentro e fora do país e que é uma forma de promoção do território que mexe com a economia local”.

Além de, durante quase duas semanas, ser possível provar capão nos 13 restaurantes aderentes, será realizado, no dia 12, na Quinta do Pinheiro, em Freamunde, um jantar de Gala promovido pela Junta de Freguesia de Freamunde, em parceria com a Associação de Jovens Ao Futuro (AJAF), com o apoio da Confraria do Capão, da Associação de Criadores de Capão e com o apoio da Câmara Municipal de Paços de Ferreira. O evento vai reunir vários apreciadores deste prato, convidados, produtores e gastrónomos, jornalistas e personalidades estrangeiras e será realizado um concurso gastronómico que vai eleger o melhor capão cozinhado – tipicamente assado no forno, acompanhado com batatas assadas e grelos.

Feira dos Capões quase a chegar aos 300 anos

Já o melhor capão vivo é eleito no dia 13, durante a Feira de Santa Luzia, conhecida como “Feira dos Capões”, que atrai milhares de pessoas a Freamunde. “A Feira dos Capões faz para o ano 300 anos e é uma das maiores feiras do país. Só depois se acrescentou este movimento económico com a semana gastronómica”, lembrou o presidente da Junta de Freamunde, José Luís Monteiro.

Na apresentação da Semana Gastronómica foram ainda apresentados três novos embaixadores do capão. Manuel Serrão, gastrónomo; Isabel Pires, do Restaurante Bem-Haja, em Nelas; e António Loureiro, chef do Restaurante A Cozinha, em Guimarães. “Estamos a espalhar-nos e com gente de fibra e de força, é isso que interessa num embaixador. Todos têm em comum a paixão pela boa mesa, produtos autóctones e pelas raízes”, afirmou Fernando Melo, jornalista e gastrónomo e ele próprio um defensor e embaixador deste produto. Entre os embaixadores honorários estão os Chef’s Hélio Loureiro e António Silva. Há ainda varios nomes de chef’s com estrella Michelin, como Ricardo Costa, do Yeatman, Gaia; Tiago Bonito, da Casa da Calçada, Largo do Paço, Amarante; Rui Paula, da Casa de Chá, Leça da Palmeira; Pedro Lemos, do Restaurante Pedro Lemos, Porto; ou Miguel Laffan, L’And Vineyard, Montemor-o-Novo. A estes juntam-se ainda o chef bi Gourmand Ricardo Costa, do Restaurante Casinha Velha – Marrazes, Leiria; o chef bi Gourmand Renato Cunha, do Restaurante Ferrugem, Vila Nova de Famalicão; os chef Adozinda Gonçalves, do Restaurante Monte Murado, Vila Nova de Gaia; José Cordeiro, do The Blini, Gaia; Maria Palmira Pereira, do Restaurante Bocados, Ponte de Lima; Pedro Amaral Nunes, do Restaurante São Gião, Moreira de Conegos; Álvaro Costa, do Porto Palácio Hotel; Nuno Dinis, do Restaurante Tágide, Lisboa; e Nuno Santos, do Puttanesca, Leiria. Rosário Machado, directora da Rota do Românico; Rosa Patacho, do Ministério de Agricultura, e Fernando Moura, jornalista, são também defensores deste produto endógeno.

Recorde-se que a tradição dos capões vem do tempo dos romanos e estes galos eram presença assídua à mesa dos reis. Consta a lenda que o cônsul romano Caio Cânio, cansado da perda do sono por causa do cantar dos galos, fez aprovar uma lei impeditiva da existência destas aves na cidade de Roma. “Sem contrariar a lei, houve quem se lembrasse de uma forma de continuar a usufruir da carne dos galos sem que estes cantassem: capando-os. Surgiu, assim, o capão, que ultrapassa em beleza, tamanho e sabor, o galo macho”, conta a autarquia.

A tradição de criação do capão foi passando de geração em geração.

Os três novos embaixadores

Isabel Pires, Restaurante Bem-Haja, Nelas

“É sempre bom promover os produtos portugueses. Vou tentar promover o Capão na Beira Alta”.

Manuel Serrão, gastrónomo

“Agradeço a honra. Estou com muita curiosidade e ‘fome’ de capão. Vão ouvir falar de mim a falar do capão”.

António Loureira, Chef do Restaurante A Cozinha, em Guimarães

“Sou do Norte e uma pessoa de tradições de raízes. Gosto muito de defender o que é nosso. Conheço o capão há 15 anos e é um produto com uma versatilidade muito grande”.

A receita do capão à Freamunde

“Depois de embriagado com vinho do Porto, mata-se o Capão, abre-se e lava-se. Deixa-se em água fria com rodelas de limão, cerca de uma hora. De seguida põe-se a escorrer e coloca-se em vinha-d’alhos durante 24 horas. No dia de o cozinhar, põe-se a estalar, numa caçarola, o azeite, gordura de porco e cebola às rodelas. Deita-se uma boa colher de sopa de manteiga, meio 2,5dl de vinho branco e vinho do porto e tempera-se com sal q.b.

Escorre-se o Capão, esfrega-se todo com este novo molho. Antes de meter no forno recheia-se com o seguinte picado refogado: azeite, cebola, alho, miúdos do capão, presunto, salpicão, chouriço de carne, carne de vaca, vinho branco, piripiri, louro, salsa, etc. Depois de guisado é passado e bem misturado com ‘farófia’ no resto do molho. Enche-se a barriga do capão e cose-se. Coloca-se na pingadeira de barro, e leva-se ao forno a assar lentamente (cerca de 3h00), coberto com papel de alumínio para não queimar demais. Deve picar-se com um garfo de vez em quando, ao mesmo tempo que se rega com o molho da assadeira e vinho do porto. A operação de picar com o garfo deve ser cuidadosa para não ferir a pele que deve ficar estaladiça e loura. Meia hora antes, tira-se o papel para alourar. Acompanha-se com batatas assadas e grelos”.