É a primeira vez que o Partido da Terra se candidata à Câmara de Valongo. António Machado, de 40 anos, empresário do ramo imobiliário lidera a candidatura que, mais do que ganhar, quer dar voz às ideias do partido e pôr o poder autárquico a olhar com seriedade para as suas propostas e a executar algumas delas.

Talvez por ser licenciado em psicologia clínica e ter um mestrado em neuropsicologia, António Machado acredita que há muito a fazer na área social e defende que não basta dar dinheiro, é preciso perceber os problemas das pessoas e ajudá-las a encontrar soluções.

Entre as propostas do MPT estão colocar painéis fotovoltaicos na iluminação pública e em todos os edifícios públicos onde seja possível, a realização de mais acções de educação para a reciclagem e a substituição de eucaliptos e pinheiros nas serras de Valongo por árvores autóctones e menos inflamáveis.

O candidato quer também mais incentivos ao ensino profissional e um trabalho conjunto com colectividades e associações para que o concelho tenha um programa cultural durante todo o ano.

Além disso, defende uma maior aposta no turismo de natureza e aventura, a captação de empresas tecnológicas para o concelho e a criação de uma linha municipal de transportes que melhore a mobilidade entre freguesias.

O que o leva a candidatar-se ao cargo de presidente da Câmara de Valongo?

Esta candidatura surge porque as sucessivas gestões camarárias têm-se preocupado com grandes coisas, grandes obras, mas sinto que têm falhado nas pequenas coisas, como nos arranjos dos passeios, uns bastante esburacados e, noutros casos, falham pela inexistência desses passeios.

Defendo que os passeios deviam ser largos, suficientes para pessoas com carrinhas de bebé ou pessoas com dificuldades de mobilidade circularem, o que não existe. Também a sinalética junto às passadeiras fraca, e, muitas vezes, está tapada com árvores. São pequenas coisas que foram deixadas de lado, como o arranjo dos parques infantis.

Estamos a falar de pequenas coisas que não tem tanto a ver com a falta de verbas, porque não implicam um grande investimento da autarquia, mas que implicam andar na rua e ver o que é necessário fazer para tornar Valongo novamente bonita, limpa, arranjada.

Esse é o primeiro passo para conseguirmos que outras pessoas que não são de Valongo queiram vir cá visitar a cidade e o concelho. Valongo tem um património religioso e natural grande, mas quem visita a cidade sente que está numa cidade suja, desarranjada.

Mudar isto foi o que mais me motivou a apresentar uma candidatura.  

Porquê o Partido da Terra? Identifica-se com as preocupações em relação ao ambiente, terra e cidadãos preconizadas pelo partido?

Tornei-me militante este ano. Já tive outras experiências políticas passadas, noutros partidos, mas neste partido encontrei gente que me deu a liberdade para ser de centro, ou seja, nem de direita nem de esquerda. Deu-me também a liberdade para defender o humanismo, as pessoas em primeiro lugar. Não há sociedade em primeiro lugar do ponto de vista colectivo, não há Estado em primeiro lugar. São as pessoas em primeiro lugar. A segunda bandeira é o ambiente. Toda a gente fala no ambiente, mas depois quando está à frente de câmaras, de juntas e do Governo faz pouco por essas áreas. Medidas concretas que sejam promotoras do ambiente há poucas.

O partido está a começar a surgir em Valongo e já estamos já com bastantes adesões.

Têm muitos militantes a querer aderir?

Sim. Começamos com duas pessoas e, neste momento, tendo em conta que todos trabalhamos, não temos tempo para divulgar o partido como devíamos, não somos profissionais da política, já estamos com 14 militantes e todos eles activos.

Tendo em conta que não andamos há procura de militantes e contando que estivemos bloqueados a nível de tempo isso é bom.

Não temos a pretensão de dizer que vamos ganhar. Temos a pretensão de que as nossas propostas sejam olhadas pelo poder autárquico que ganhar

O que seria uma vitória para a sua candidatura? É vencer a câmara ou há outros patamares mais intermédios que já seriam vitórias?

Temos outros patamares. Se conseguirmos divulgar o nosso programa e ter o mínimo dos pesos para poder pressionar quem ganhar a cumprir algumas das nossas propostas, ou todas, isso era o ideal, aí já era uma vitória. Não temos a pretensão de dizer que vamos ganhar. Temos a pretensão de que as nossas propostas sejam olhadas pelo poder autárquico que ganhar, que as levem a cabo ou, se não as levarem a cabo, que nos expliquem porquê. Julgo que são propostas que são pacíficas.

Claro que tendo um lugar de vereação, mesmo sem pelouro, é uma forma diferente para fazer ouvir o Partido da Terra. Esse é o primeiro passo para que as nossas propostas sejam mais tidas em conta.

 

Como avalia o trabalho do actual executivo? Houve coisas bem-feitas?

Reconheço que foi bom em muitas coisas. Nas questões que referi atrás falhou, como todos os outros.

Reconheço que foi buscar fundos europeus importantes. Reduziu a dívida da câmara, embora face ao dinheiro que veio dos fundos europeus poderia ter havido uma redução mais substancial. Reduziu-se 14 milhões, vieram 20 milhões de euros da União Europeia. Esse dinheiro já foi afecto a coisas em que o presidente da câmara não teve de dispor de dinheiro da câmara. Ou a dívida não tinha reduzido os 14 milhões.

Olhou para Serra de Santa Justa e para a Serra Pias, toda a serra da cordilheira de Valongo. Trouxe dinamismo ao concelho, algo que faltava. Mas estamos a candidatar-nos porque temos visões diferentes.

A prestação de contas foi uma das grandes marcas da gestão de José Manuel Ribeiro. Valongo é um concelho mais transparente?

Considero que seja transparente. Isto é um bom princípio que devia ser mantido, o de apresentar de contas públicas. Se o dinheiro é de todos nós tem de ser explicado e mostrado a todos nós onde é aplicado. Se ganhássemos a câmara iriamos continuar com esta medida.

Quanto à transparência da câmara, depende muito do que se está a falar. Qualquer câmara tem coisas que estão a ser feitas que não são públicas.

Há transparência na câmara, que já se vinha notando no anterior executivo a partir do momento em que o Dr. João Paulo Baltazar assumiu a câmara. O candidato e actual presidente da câmara veio manter essa prática acrescentando-lhe alguma coisa. Fez muito bem.

Muitas vezes, os interesses partidários sobrepõem-se aos interesses das populações.

Em termos financeiros, o PS tem salientado que a câmara agora paga a 5 dias e reduziu a dívida em 14 milhões de euros desde 2013. Considera que o actual executivo teve uma boa gestão? A que atribui essa redução de dívida?

Foi sobretudo pela aplicação do PAEL e pela implementação de uma melhor gestão, que já vinha sendo seguida pelo anterior executivo.

Quando se fala num mandato de quatro anos, fala-se num tempo curto. Há medidas novas, mas há muitas medidas que foram iniciadas pelo anterior executivo. Quando estivermos no segundo mandato, se eventualmente o PS voltar a ganhar a câmara, aí sim pode-se dizer que é uma gestão PS. Até lá, estamos a falar de medidas que são uma miscelânea entre as do PS e as do PSD.

Esta redução da dívida resultou de um conjunto de situações. A boa gestão camarária, as medidas do PAEL, as verbas da União Europeia e a conjuntura económica que melhorou.

Se as empresas estão melhor, pagam mais impostos, as câmaras arrecadam mais dinheiro, tudo isto ajuda.   

 

E qual a avaliação que faz da oposição?

Os partidos da oposição podem sempre ir além, porque um partido que se apresenta a eleições apresenta-se com um programa. Todo e qualquer partido que se apresenta a eleições deve ter uma atitude proactiva e deve tentar fazer com que o executivo vá realizando algumas das suas propostas.

Isso não aconteceu?

Não devem assumir uma atitude negativa no sentido do bota-abaixo. O que se passa nos partidos vê-se isso muito pelos resultados das votações. A maior parte das propostas que são feitas por um partido acabam por ser chumbadas pelos outros. Quando vejo isso, é sinal de que não estão a trabalhar para o bem comum. Estão apenas a deitar abaixo as propostas de outro partido, não interessa quais são. Todo o partido que trabalha assim não trabalha bem.

 

Está a dizer que as posições partidárias se sobrepõem aos interesses das populações?

Sempre. Já fiz parte de uma assembleia de freguesia e já aí acontecia isso. Muitas vezes, os interesses partidários sobrepõem-se aos interesses das populações.

Li algumas actas das assembleias municipais de Valongo e o que verifico é o PS a propor algo e o PSD a votar contra, ou vice-versa, a CDU a votar contra também ou a abster-se. Quando um partido vota contra não só deve dizer que vota contra mas deve dizer porque é que vota contra. De que é que discorda. Tentar, eventualmente, chegar a um entendimento. Acho que isto é que é uma boa política.

 

Acha que a oposição podia ter feito mais?

Podia ter feito mais e melhor.

Não é só dar dinheiro que ajuda. Se uma pessoa não tem competências de trabalho e lhe damos essas competências e lhe tentamos arranjar um emprego, estamos a ajudar muito mais do que se lhe dermos 300 euros por mês.

Um representante do Partido da Terra teria feito a diferença nestes quatro anos?

Os representantes nos executivos são sempre pessoas e isso depende sempre da pessoa de que estivéssemos a falar.

À partida e pensando nesta lista que apresentamos a eleição, teria feito a diferença. São pessoas que sabem que os interesses da população devem estar acima dos interesses partidários. Não há uma única pessoa, nem eu, que aceite pôr os interesses do partido acima dos interesses das populações. Aliás, um dos motivos que me fez vir para este partido foi a liberdade de acções que me dá.

 

Uma das ideias que a sua candidatura defende passa pela reabilitação dos bairros sociais. Não tem sido dada a devida atenção a essa área?

A questão social é mais lata que os bairros sociais, sendo que é necessário reabilitar os bairros sociais. Necessitam de elevadores, por exemplo, porque não existem e há muita gente de idade a viver nesses bairros. Algumas delas passam o dia em casa porque não têm como vir à rua, porque não têm como descer as escadas. Além da reabilitação dos bairros sociais, que é urgente e que já começou a ser feita por este executivo, há que intervir na questão social. Há que intervir nas pessoas que, não vivendo em bairros sociais, precisam de assistência social. Há muita gente dentro de casa a viver em habitações aparentemente boas, que passam muita necessidade.

Está a falar de pobreza envergonhada?

Exactamente. Há muita pobreza envergonhada e os técnicos da câmara devem ir a casa dessas pessoas para perceber quais são as reais necessidades.

Sou dos que defende que não se deve apenas dar dinheiro. Dar dinheiro é importante. Como dizia o Padre Américo ‘primeiro vamos encher-lhes a barriga e depois falar de Deus’. Primeiro temos que encher a barriga das pessoas, dar-lhes dinheiro para as necessidades básicas, alimentação e pagamento de contas, mas além de se dar o peixe é preciso ensinar a pescar.

Só assim vamos contribuir para uma sociedade cada vez menos dependente da beneficência pública. Enquanto for preciso tem de haver dinheiro para estas questões, mas se uma pessoa está desempregada há muito tempo, deve-se entender porquê. Não quer trabalhar? Não pode? Se não quer, porque é que não quer? Será que foi habituado desde muito novo a viver do Estado? Será que não quer porque tem alguém de quem cuidar e não sabemos? Será que não quer porque acha que não tem competências para ir para o mercado de trabalho? Temos de perceber as verdadeiras razões. Temos de entender do ponto de vista psicológico como é que essas pessoas estão. Vamos perceber para, a seguir, ajudá-las.

Não é só dar dinheiro que ajuda. Se uma pessoa não tem competências de trabalho e lhe damos essas competências e lhe tentamos arranjar um emprego, estamos a ajudar muito mais do que se lhe dermos 300 euros por mês.

 

O Partido da Terra criaria um gabinete que acompanharia esses casos?

Sim. Um gabinete com técnicos e com a inclusão de psicólogos para fazer uma avaliação psicológica dessas pessoas. Muitas vezes, encontramos pessoas que não trabalham e que têm uma disfuncionalidade psicológica qualquer provoca isso. Estarmos a dar dinheiro, ajuda? Não, não ajudas. Ajuda a pagar as contas, mas o verdadeiro problema mantém-se. Se calhar essas pessoas precisam de um acompanhamento psiquiátrico ou psicológico profundo para voltar a ressocializar.

Pensa-se que quem vai para o ensino profissional é menos capaz, o que é mentira.

Faltou essa proximidade às pessoas neste mandato?

Não vejo isso a acontecer, nem a nível nacional nem a nível local. Dá-se dinheiro, pensa-se que o dinheiro resolve tudo. Não resolve. Muitas vezes só prejudica. Se estamos a dar dinheiro a um alcoólico só o estamos a prejudicar porque ele vai usar esse dinheiro para beber.

 

Quando pedem a reabilitação do parque escolar estão a falar de que escolas?

Está a ser feito, lentamente. As escolas, de uma forma geral, precisam de uma intervenção. A Escola Secundária de Ermesinde precisa de muita coisa. Sei que vai começar a ser intervencionada. Vamos ver quando. Saí de lá há 20 anos e, já nessa altura, se ouvia dizer que ia haver uma intervenção na escola. As coisa são lentas, demoram mais do que deveriam, por isso é que é necessário e urgente fazer uma intervenção nas escolas.

Além disso, é preciso perceber que uma manutenção cuidada e de continuidade faz com que não se tenha gastos exorbitantes de 10 em 10 anos.

Temos de arranjar estratégias para redução dos custos com os manuais escolares. Os pais agradecem, de certeza, porque os pais gastam muito dinheiro em livros. Quando falo em estratégias podemos pensar em várias coisas, por exemplo, usar dispositivos móveis com os livros. Além de serem mais baratos, poupa-se no ambiente. Há possibilidade dos livros terem uma durabilidade superior há que têm neste momento. Normalmente um livro serve para um, dois anos, depende da escola, e vai para o lixo. Há a possibilidade de colocar o mesmo livro em todas as escolas, igual para todas as escolas do concelho. Agora, se tenho um filho a estudar em Sobrado mas se, por algum motivo, tenho de colocar o meu filho em Alfena ou Ermesinde, os livros podem ser diferentes. Isto não pode acontecer.

 

Também pedem mais ensino profissional. Porquê?

O ensino profissional em Valongo está um bocado escondido. Temos em Ermesinde, o CENFIM, já muto antigo, se calhar a única escola conhecida verdadeiramente, mas que não tem muita divulgação. Em Sobrado, temos a Escola Profissional de Valongo. Está num sítio meio escondido, perdido no meio nada. Aquilo quase que nem transportes tem para lá.

O ensino profissional é das coisas mais importantes que poderemos ter na sociedade. Tanto precisamos de um médico como precisamos de um canalizador, um mecânico, um jardineiro ou de um construtor civil. Temos de deixar de olhar para o ensino profissional como sendo o ensino alternativo a quem não tem competências escolares. Tem de ser um ensino apetecível para toda e qualquer pessoa. Tem de ser equiparado a qualquer ensino dito corrente. Só aí o aluno vai ter liberdade para saber o que é que quer e seguir o que quer.

Em que medida é que o município devia incentivar o ensino profissional?

Desde logo, promover fóruns nas escolas para os alunos a partir do 7.º e 8.º ano saberem o que existe no ensino profissional porque a maioria não sabe o que existe. Explicar o que podem fazer com um curso profissional. Explicar-lhes que fazem três anos, que nalguns casos recebem alguma coisa durante os três anos e que, no final do 12.º ano, podem continuar a optar por ir para uma faculdade e para o curso que quiserem. Muitas pessoas pensam que é o fim de linha. Que acabam o ensino profissional e não há mais estudos. Isto precisa de ser desmistificado.

Pensa-se que quem vai para o ensino profissional é menos capaz, o que é mentira. Pensa-se que quem vai para ensino profissional faz o 12.º e fica por ali, o que é, também, mentira. Só fica se quiser. Daí queremos fazer uma aposta clara na divulgação do ensino profissional e trazer o ensino profissional para junto da população.

Toda a iluminação dos espaços e edifícios públicos devia ser feita por painéis fotovoltaicos.

No âmbito do ambiente sustentam que é urgente reflorestar. Está a referir-se às serras que agora integram o Parque das Serras do Porto.

Concordo com o projecto nas suas linhas mestras.

 

Mas esse projecto já trouxe alguma mais-valia, acredita que o caminho é por aí?

Do ponto de vista da ecologia não nos ficamos pelas serras, temos várias propostas. Uma das propostas é o uso de painéis fotovoltaicos em tudo o que seja iluminação pública. Os candeeiros na via pública são óptimos para levar um painel fotovoltaico pequeno para que possam ser autónomos, e não se gaste dinheiro em electricidade. Há uma mudança das lâmpadas para as LED´s, que é um primeiro passo, mas falta isso.

Toda a iluminação dos espaços e edifícios públicos devia ser feita por painéis fotovoltaicos. Há sítios em que tal não é possível. Na câmara, por exemplo, não é possível porque fica debaixo de um prédio. Quando se pode, deve-se apostar nestas áreas, porque é um investimento a que se vai buscar lucros a médio e longo prazo. Os lucros ambientais são imediatos.

É também necessário apostar na micro-produção agrícola ou nas hortas biológicas, aquilo que lhe queiram chamar. Porquê? Porque há muitas terras baldias que podiam ser aproveitadas para isso. Ajuda do ponto de vista económico, porque há produtos que não vão ter de comprar, mas, também, do ponto de vista ambiental, porque não temos baldios nem campos cheios de silvas e lixo. De alguma forma, evita-se as corridas às grandes superfícies, o que representa menos plásticos.

Mas sente que há interesse da população em dedicar-se a essas áreas?

Há. Em pequenas hortas. As pessoas não fazem grande produção agrícola, mas, também, não sabem como fazer. Uma das coisas que proponho é fazer-se formação online para quem quiser. Não precisa de ser uma formação presencial porque isso implica custos. Pode ser um vídeo que as pessoas possam ver online. As pessoas não podem dizer que não gostam porque nunca fizeram. Não sabem o que é tocar na terra, não sabem colher uma cenoura, uma folha de couve. Normalmente, as pessoas não gostam do desconhecido.

Deve haver uma aposta neste aspecto porque faz falta, é útil do ponto de vista económico, do ponto de vista da saúde mental e do ponto de vista ambiental.

É preciso mais espaços e é preciso rever a estratégia de adopção, promover mais adopção de animais abandonados.

Não chegou a concretizar os projectos da sua candidatura para as Serras de Valongo.

Primeiro, em todos os terrenos públicos, não são muitos, deviam ser eliminados, por completo, os eucaliptos e pinheiros bravos. São os dois focos principais de incêndios. Deviam ser substituídos por árvores autóctones, ou não, poucos inflamáveis e que causem alguma rentabilidade. Porquê? Se têm rentabilidade as pessoas vão se sentir mais compelidas a ter os espaços mais arranjados, os espaços mais limpos. Estou a pensar no sobreiro, que produz cortiça, na oliveira, que em Valongo dá-se muito bem, que produz azeitona e azeite, estou a pensar na madressilva para a cosmética, no medronheiro que serve para faze bebidas e compotas. Esta situação permite a produção e a rentabilidade. Com estas práticas temos florestas auto-sustentáveis, que se mantêm limpas e onde se evitem os incêndios.

Há um olhar diferente que tem de ser fomentado. As pessoas não podem ser obrigadas a fazer seja o que for, agora, podem ser convidadas a alterar as produções que têm nas suas matas. Falei do ponto de vista municipal. No que é privado não se pode obrigar as pessoas a eliminar os eucaliptos. Temos de encontrar soluções para continuarem a ter os terenos rentáveis. Como sabemos que é muito menos provável existirem incêndios em campos com medronheiros e oliveiras quer dizer que as pessoas vão ter uma rentabilidade garantida. Se lhes fizerem ver isto, eles não se importam de mudar.

Como é que se propõe a promover a adopção de animais abandonados?

Valongo tem um sítio para abrigar esses animais, mas é um espaço muito reduzido. É preciso mais espaços e é preciso rever a estratégia de adopção, promover mais adopção de animais abandonados.

Neste momento é um cão, um gato, mas daqui a um ano vão ser meia dúzia. É preciso encontrar medidas alternativas. É proibido abater, então não se vai recolher animais de rua? É o que se está a passar neste momento.

Isto não é solução. Há que consultar associações que têm soluções engenhosas para resolver o problema. Convidar especialistas ou a câmara ir às associações para ver como conseguem controlar a natalidade na rua dos animais vadios. Se Valongo não fizer nada, vamos ter, daqui a três anos, em zonas mais rurais, tudo cheio de cães e gatos abandonados.

Outra das vossas ideias passa por mais educação para a reciclagem. Quais as propostas do Partido da Terra nesta área?

A reciclagem tem de iniciar na pré-escola. Têm sido feitas iniciativas pontuais, mas precisam de ser mais e de abranger todo o ensino. Não defendo tanto as palestras para os mais pequenos, mas iniciativas diferentes e mas apelativas. Estas acções devem, também, ser feitas para os adultos. Quem tem filhos mais pequenos sente-se quase obrigado a fazer reciclagem por causa dos filhos. Quem não os tem não tem essa pressão. Há muitas iniciativas como actividades de rua, protocolos com empresas que trabalham nesta área, disponibilizar mais locais de reciclagem diferenciada.

A gestão autárquica tem de encontrar formas de ter um projecto dentro da economia circular.

Dar incentivos?

Depende dos incentivos. Se estivermos a falar em dinheiro, não. Se estivermos a falar de baldes do lixo diferenciados, sim. Isto pode ser apelativo. A reciclagem precisa de se tornar moda. As pessoas precisam de ter noção para que é que estão a fazer reciclagem. Muitas vezes pensam que estão a fazer reciclagem para poupar trabalho no fim de linha, à empresa que faz a recolha do lixo. Não é para isso. A reciclagem deve ser feita e dever ser promovida. É algo que é preciso fazer na economia circular, que consta do meu programa. Se tenho uma cadeira velha, tudo o que uma cadeira tem pode ir para a reciclagem, mas pode, também, ser aproveitado para outras coisas. É preciso que as pessoas ganhem consciência que os produtos podem ser utilizados para outras actividades.

 

Em que é que isso se aplica à gestão autárquica?

A gestão autárquica tem de encontrar formas de ter um projecto dentro da economia circular. Não podemos dizer que uma câmara vai viver só dentro da economia circular. Isso é utópico.

Mas, por exemplo, numa obra que a câmara vai fazer, se calhar o ferro depois pode ser aproveitado para outras necessidades da câmara. O que não precisamos deve ser vendido e não ser despejado num aterro indiferenciado porque isto gera dinheiro, que pode ser reinvestido noutras coisas, e estamos a contribuir para poupar o ambiente, evitando que se transportem os materiais para os entulhos. Se separarmos, se vendermos aquilo em separado, quem comprar vai aproveitar aquele material. Estamos a fazer com que a natureza não vá ter que dispor de mais matéria-prima.

O concelho precisa de ficar mais bonito, atractivo e arranjado. É um péssimo cartão-de-visita chegar a Ermesinde e ver uma cidade suja e esburacada

A sua candidatura pede mais apoio à cultura. Como? Mais subsídios? Mais trabalho de parceria com as associações locais?

Mais trabalho em conjunto com as associações. Existem colectividades que nos permitem ter um plano cultural com actividades em todos os fins-de-semana do ano. Não temos. O que acontece presentemente é termos duas ou três coisas no mesmo fim-de-semana. Tem de existir um trabalho de proximidade com as associações e tem de haver uma coordenação, de um gabinete da câmara, que elabore um plano de actividades culturais para o ano todo.

Claro que os apoios são necessários, mas não defendo só os apoios monetários. Acho que isso passa pela existência de uma agenda cultural que divulgue o trabalho das associações, um trabalho proactivo da câmara que junto de outros municípios divulgue oque se vai fazendo aqui, o que vai permitir projectar as associações e rentabilizar economicamente as colectividades.  

 

Os espaços culturais são suficientes?

Precisam de ser readaptados. Temos a Casa das Artes, em Valongo, que não tem elevador e a que uma pessoa com mobilidade reduzida não consegue aceder. Penso que temos espaços culturais em cada uma das freguesias e isso é suficiente.

pelo turismo de natureza. Acreditam que o concelho tem potencialidades nessa vertente?

Não há condições para receber os turistas. Valongo tem um potencial imenso para receber turistas de natureza, de aventura e até de turismo cultural. Mas falta criar condições para receber esses turistas. Temos poucas camas no concelho, mas esse, porventura, não é o grande problema, porque as pessoas estão a dez minutos do Porto. Primeiro temos de trazer os turistas para cá e só depois podemos pensar nas camas em Valongo.

O concelho precisa de ficar mais bonito, atractivo e arranjado. É um péssimo cartão-de-visita chegar a Ermesinde e ver uma cidade suja e esburacada, chegar a Valongo e ver a mesma coisa ou chegar a Sobrado e a Campo e ver ainda pior. Não é apelativo. O concelho tem de investir em projectos de natureza e de aventura nas serras porque temos condições excelentes para isso, mas faltam parcerias com privados, com gente que perceba do assunto, com associações que existam no concelho ou de fora, com empresas que trabalham no ramo do desporto de aventura.

É preciso fazer um roteiro das igrejas, do património religioso que existe em Valongo. Nessa vertente existe muita riqueza cultural no município. Do ponto de vista das tradições temos coisas ímpares, a Bugiada, os brinquedos tradicionais de madeira, a ardósia, o artesanato. Mas é necessário existir sinalética e informações que permitam ao turista chegar lá. Tem de existir um roteiro em três línguas, português, francês e inglês. Um roteiro que esteja em PDF na internet, interactivo, por temas.   

 

A vossa intervenção passaria por divulgar o que existe, no fundo?

Não é criar nada, apenas criar os roteiros que estão em falta, mas principalmente divulgar e criar as condições mínimas para as pessoas visitarem o concelho e regressarem.

As empresas tecnológicas criam muito emprego. Além da empresa, que cria emprego directo, trazem gente e dinamizam outros sectores de actividades.

Como é que querem apoiar as micro-empresas e captar empresas tecnológicas para o concelho?

Se Valongo é excelente para o turismo, Ermesinde tem um potencial excelente para empresas. Tem acessos rodoviários melhores que quaisquer outros. O micro-crédito e as empresas tecnológicas são coisas diferentes.

O micro-crédito é mais a pensar na economia social. Estamos a pensar numa pessoa que tem uma boa ideia, não tem dinheiro para isso, não tem acesso ao crédito, às vezes precisa apenas de mil euros. O micro-crédito é um programa que existe nalguns países e em Portugal não está muito difundido. O beneficiário tem de ser acompanhado por um grupo de pessoas que percebam, que a ajudem, o beneficiário tem de receber formação. Um pequeno apoio pode fazer a diferença. É uma medida que pode potenciar postos de trabalho.

Quanto às empresas tecnológicas, estamos a falar de um nicho específico. Estamos a falar de ir às universidades tecnológicas e aliciar os futuros licenciados a instalarem-se em Valongo, dando-lhes condições que sejam apelativas tais como arranjar espaços que lhes permitam estar em contacto uns com os outros, divulgar e partilhar ideias.

Quer criar uma espécie de hub tecnológico em Valongo?

Estamos a falar de um público específico universitário ou de cursos profissionais, que têm muita formação tecnológica. Não interessa qualquer tipo de empresa tecnológica, interessam-nos pessoas e jovens empreendedores que efectivamente se queiram fixar. Não queremos ter aqui empresas que passado um ano vão sair do concelho, não vale a pena. Interessa investir em pessoas que sejam daqui, do distrito do Porto. A instalação das empresas tecnológicas poderá criar sinergias com empresas já existentes.

As empresas tecnológicas criam muito emprego. Além da empresa, que cria emprego directo, trazem gente e dinamizam outros sectores de actividades.

 

Este executivo não soube captar investimento?

Noutros campos esteve bem, no domínio das empresas falhou um bocadinho. Fala-se muito do Jerónimo Martins, mas isso é um projecto que já vinha detrás, não é de agora. Houve empresários que se instalaram e outros que saíram. O que falhou aqui foi a pro-actividade que é necessária para cativar as pessoas para aqui. Quando estamos a falar de empresas com elevada dimensão, é sempre um risco grande porque o concelho dá tudo o que tem, mas a empresa se tiver uma proposta melhor acaba por sair.

 

Está a dizer que é preciso apostar mais nas empresas locais?

Sim. Quando se fala em investimento externo temos de ter muito cuidado. Falar do investimento de grandes empresas é um risco. Quando um concelho está dependente, exclusivamente, dessas empresas para se criar emprego está nas mãos delas. As empresas muito grandes procuram os concelhos que lhes dão melhores condições, reduções de impostos e nem sempre fica garantida a sua permanência.   

Os abrigos das paragens, os passeios, o rebaixamento dos passeios… tudo isso é necessário. Mas a questão da mobilidade entre freguesias também é necessária.

Pedem também mais investimento na mobilidade urbana pedonal, de bicicleta e nos transportes públicos. O que é preciso fazer?

Estamos a falar da mobilidade das pessoas poderem vir de uma freguesia para a outra em transportes públicos. Se Ermesinde e Valongo estão bem servidos de transportes públicos, se passarmos entre Valongo e o Susão, quase que não existem transportes, Campo quase que não tem transportes, Sobrado e Alfena a mesma coisa. Se viver na ponta de Sobrado e quiser vir para Alfena, para Susão ou para Ermesinde gasto duas a três horas e é preciso ter a sorte de apanhar logo os transportes, uma coisa que poderia demorar 10 a 15 minutos.

É urgente uma a duas carreiras, daquelas camionetas de nove lugares que possibilite circular dentro do concelho, com um passe.

Os abrigos das paragens, os passeios, o rebaixamento dos passeios… tudo isso é necessário. Mas a questão da mobilidade entre freguesias também é necessária.

Além de renegociar a rede que existe no concelho, resolver esse problema passaria por criar uma linha municipal?

Não acredito muito que os STCP ou a Valpi fossem criar uma linha. Não têm lucro. Só têm autocarros grandes. Estou a falar de uma linha municipal para prestar apoio à população, com passe. É óbvio que tem de ter um preço minimamente aceitável. Alguns partidos falaram em renegociar com os STCP ou com a Valpi esta solução. Não penso que isso vá ser possível.

Mas isso exigiria investimento municipal.

Poderemos estar a falar de um investimento. Agora, temos de perceber que é um investimento de cariz social. Neste momento, estamos a falar apenas de residentes do concelho mas, se atrairmos turistas para o município, já estaremos a falar de mais pessoas. Existindo uma rede de autocarros que circula pelo concelho os turistas vão usá-la.

 

Ainda acredita na desagregação das freguesias de Campo e Sobrado?

Sem dúvida. É viável, é possível, é urgente. Há um projecto do PCP bastante bom que passa por propor às populações onde existiu agregação que se pronunciem se devem continuar como estão ou se deviam regressar à fórmula primitiva. Este é um projecto para o qual o PS prometeu que iria olhar depois das eleições. Vamos esperar que sim, porque para mim é o mais justo. Houve uma agregação que não devia ter ocorrido, à revelia das pessoas. O mínimo que podem fazer é perguntar, através de referendos, se as pessoas querem ou não querem a desagregação.

Em Campo e Sobrado, não tenho dúvidas do que a comunidade pretende. Basta falar com as pessoas. Querem ser freguesias autónomas. A nossa candidatura não é para defender causas partidárias, mas defender causas do concelho. Vamos defendê-las.

Enquanto isso não é possível, o nosso candidato à junta propõe-se a usar uma solução engenhosa e fazer uma gestão separada, com um só orçamento. Vamos afectar uma percentagem de verbas para Sobrado e outra para Campo.