Nos últimos quatro anos, Nuno Monteiro defendeu as posições do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal. Era o único eleito do partido. Nestas autárquicas, foi o candidato escolhido para liderar a candidatura à Câmara Municipal de Valongo e diz acreditar na sua eleição como vereador e no reforço das posições do partido nos outros órgãos autárquicos.

Voltar a maiorias absolutas não seria bom para um município que quase foi à falência e que cometeu muitos erros no passado, defende o bloquista.

Crítica as prioridades deste executivo, que não foram as mais correctas, e defende que houve dinheiro gasto nas coisas erradas. Há grandes assimetrias entre as freguesias do concelho que continuam por resolver, sustenta Nuno Monteiro, chegando mesmo a dizer que há “freguesias de primeira e freguesias de segunda” em Valongo. Resolver as questões de mobilidade ao nível dos transportes públicos, dentro do concelho, mas também de Valongo para outros concelhos vizinhos é uma prioridade. Outra será a limpeza do Rio Leça.

Assume que há mais transparência no concelho, mas diz que não está tão transparente como o presidente da Câmara Municipal quer fazer parecer.

Garante que a população perdeu com o encerramento das urgências no hospital de Valongo, mas afirma já não acreditar na reversão desse processo. Por isso, defendem a existência de um serviço de atendimento permanente no Centro de Saúde de Campo até às 24h00.

O candidato do Bloco de Esquerda concorda também que é preciso pensar no turismo, mas acredita que, antes disso, é preciso pensar nas pessoas do concelho e resolver problemas urgentes do dia-a-dia.

O que o leva a candidatar-se a presidente da Câmara de Valongo pelo Bloco de Esquerda?

Aquilo que me levou a entrar para a política foi a insatisfação com a classe política que temos. Deixei o sofá, literalmente, e tentei fazer melhor. Isto foi há cerca de nove anos atrás. Depois acabei por encontrar pessoas que partilhavam das mesmas ideias, das mesmas ambições e da mesma ideologia e acabei por continuar no partido.

Esta oportunidade acabou por surgir naturalmente, com a equipa de trabalho, sempre com o apoio de todos. Tenho uma equipa em que acredito e, também, a sensação de que conseguimos fazer melhor.

Os últimos quatro anos enquanto deputado municipal motivaram-no a assumir esta posição?

Sim. Não venho de nenhuma jota nem jotinha, ou seja, estou aqui para servir os munícipes, não estou aqui para servir o partido.

O tempo que estive no mandato anterior, alguns meses, acabou por ser interessante porque consegui ver o PS na oposição, entretanto, nestes últimos quatros anos, foi possível analisar e avaliar o trabalho do PS enquanto poder.

Foi um trabalho interessante, muito difícil. Gostávamos de ter uma presença maior, com maior número de deputados. Mas com apenas um deputado o Bloco fez a diferença.

Nenhum de nós desistiu e esperamos que, nestas próximas eleições, consigamos aumentar o número de deputados e, quem sabe, conseguir a eleição de um vereador para podermos ter mais força para pôr em prática aquilo que achamos que é melhor para o concelho.

 

O que é que seria uma vitória para o Bloco de Esquerda nestas eleições?

Qualquer aumento de presença nas instituições do município. Candidatamo-nos às quatro juntas de freguesia, à câmara e à assembleia, e qualquer aumento onde não temos representação quer será uma vitória. Temos consciência das dificuldades, temos consciência de que estas eleições vão ser difíceis e imprevisíveis.

O que acontece, neste momento, no país, é tudo novo. Para agora parece-me bastante positivo e as próprias instituições internacionais assim o dizem. Acho que neste momento, o Bloco de Esquerda finalmente começa a ser visto como um partido que conta e começa a mostrar que podem contar connosco. Isso pode fazer toda a diferença nos resultados que iremos ter nas eleições autárquicas. Temos consciência da diferença entre o que é o Bloco a nível nacional e a nível autárquico, mas acredito que o caminho que temos feito está a dar os seus frutos e acreditamos num aumento de representação nas várias instituições.

Acreditamos que é possível eleger um vereador.

Com um deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal Valongo ganhou alguém que está atento, que fala com os munícipes, que se apercebe do que está mal e luta para que as coisas melhorem.

Faz falta essa voz do Bloco de Esquerda no executivo camarário?

Na nossa opinião faz muita falta.

 

O que é que Valongo ganhou por ter um deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal?

Valongo ganhou alguém que está atento, que fala com os munícipes, que se apercebe do que está mal e luta para que as coisas melhorem.

Ganhou o Alfenense com o voto do Bloco de Esquerda a favor da atribuição de uma verba que permitiu que o Alfenense, neste momento, utilizasse um projecto ambicioso que já concluiu. Ganhou a população quando foi da diminuição do IMI, apesar que aí acreditarmos que deveríamos ir mais longe. Chamamos a atenção na Assembleia Municipal para as alterações que existiriam a nível do IMI quando começou a haver uma automatização. Achamos que teria sido possível ao município ter ido mais longe. O IMI foi reduzido mas preferíamos que fosse uma diminuição para todos e não a que foi feita, para o agregado familiar, consoante o número de filhos.

Fizemos um trabalho que infelizmente não deu resultado quando foi do fecho da urgência do Hospital do Valongo. Como sabe, em Valongo houve a promessa de que se fechava o serviço de urgência para construir um centro de hemodiálise. Passados estes quatro anos não existe serviço de urgência nem existe centro de hemodiálise.

Foi a população que ficou a perder?

Completamente, mais especificamente as freguesias de Campo, Sobrado e Valongo ficaram muito a perder. Ouço as queixas dos munícipes todos os dias. Na altura fizemos reuniões com o executivo e explicamos opiniões de técnicos, de pessoas que trabalham em hemodiálise, pessoas que trabalham em urgência e demonstramos com plantas e com um projecto que era possível manter os dois serviços. Não ouviram, não quiseram saber e foi aquilo que foi. Infelizmente, vimos o tempo dar-nos razão e fico com alguma tristeza, porque apesar do nosso esforço, não conseguimos que a população ficasse bem servida.

Ainda acredita na reversão do processo?

Neste momento, não acredito na reversão deste processo. Perante aquilo que está a acontecer no município e perante a localização das freguesias, com a construção do centro de saúde de Campo, vamos reivindicar que, pelo menos, haja um serviço de atendimento permanente até às 23 ou 24 horas. Sendo em Campo beneficiaria as “três” freguesias. A agregação de freguesias foi um erro. Também lutamos bastante para evitar isso. Infelizmente não foi possível darem-nos ouvidos. Queríamos que, pelo menos, o serviço de atendimento permanente estivesse aberto até às 23 ou 24 horas no Centro de Saúde de Campo porque realmente a população precisa.

Queríamos que, pelo menos, o serviço de atendimento permanente estivesse aberto até às 23 ou 24 horas no Centro de Saúde de Campo porque realmente a população precisa.

Neste momento, a população do concelho não tem o devido acesso ao serviço de saúde?

Neste momento, na minha opinião, é um serviço mais caro porque necessita de transportes e, se a população optar pelo Hospital de S. Martinho ou o Hospital de Alfena, mais caro ainda fica.

Aliás, por exemplo, algo que têm acontecido a quem tem filhos nas escolas, é serem avisados para quando os filhos se magoam na escola não os levarem aos hospitais privados porque o seguro não cobre. Ou seja, neste momento, qualquer entorse, qualquer traumatismo nas escolas de Valongo, Campo e Sobrado tem que ir para o Hospital de S. João. Isso envolve custos, envolve uma distância maior, um tempo maior, para além do tempo de espera no Hospital de S. João. Ou seja, neste momento, a população, principalmente de Campo, Sobrado e Valongo está com uma saúde de proximidade muito pior.

Já se mostrou contra maiorias absolutas. Isso tem conduzido o município a opções de gestão erradas?

A história diz-nos que neste município e, também, nos outros, as maiorias absolutas levam a despesismo, a extravagâncias e a decisões que, com o tempo, levam a falências de municípios, que é o que tem acontecido.

O município de Valongo só não foi à falência porque entrou o PAEL em acção, permitindo um apoio com custos, custos muito elevados. Isto é o que a história nos diz.

A história mais recente acaba por reforçar ainda mais essa ideia. Quando realmente existem várias forças políticas a trabalhar em conjunto os resultados são melhores e é isso que pretendo para Valongo. Queremos que Valongo não volte a ter uma maioria absoluta para evitar que sejam cometidos certos erros, como se cometeram no passado.

 

Só falta, neste momento, o Bloco de esquerda ter representação no executivo camarário para alterar ainda mais este panorama?

Sim.

Queremos que Valongo não volte a ter uma maioria absoluta para evitar que sejam cometidos certos erros, como se cometeram no passado.

Como avalia o trabalho do actual executivo nos últimos quatro anos?

Como já referi, estive na Assembleia Municipal antes e ouvi as reivindicações do actual presidente da câmara, José Manuel Ribeiro, enquanto oposição.

Na realidade, o que aconteceu depois, na minha opinião, foi uma desilusão, porque houve, aquilo a que chamo um mandato em que é menos três mais um. O que quero dizer com isto? Menos três porque durante três anos dizia que não podia fazer aquilo que era reivindicado na Assembleia Municipal, dizia que não podia realizar obras porque não havia possibilidades. No último ano fez aquilo que infelizmente os executivos do PSD e CDS ou PSD/PPN e agora PS acabam por fazer. Fazem uma política centrada no último ano. Fico com a sensação que muita coisa ficou por fazer. Houve erros que foram cometidos.

Que erros foram cometidos?

Por exemplo, o trabalho realizado por José Manuel Ribeiro da instalação dos LED´s é reivindicado como algo que foi positivo. Na realidade, do nosso ponto de vista, o que aconteceu foi uma espécie de PPP em que durante 16 anos o município não vai ganhar nada com isso.

 

Vai sair caro aos munícipes, como já disse noutras ocasiões?

Neste caso, vai sair caro com o tempo. Foi mais uma medida tomada por um executivo que vai envolver mais mandatos.

Mas o José Manuel Ribeiro diz que poupa 600 mil euros por ano?

Aquilo que ele fez foi fazer uma parceria público privada com uma empresa, neste caso, com a EDP que ganhou o concurso, e vai instalar as luminárias. Mas aquilo que a câmara ia retirar de benefício não retira porque entrega à EDP.

Cometeram um erro para tentar compensar outro erro. Temos consciência que foi um erro muito gravoso para muitas zonas do município o desligar de certas luzes. Levou a falta de segurança, levou a dificuldades directas. Isso foi um erro, mas achamos que se cometeu outro erro agora. O conceito está certo. Esse é o caminho a seguir que é tentar substituir as luminárias ou, outra coisa que defendemos desde o início, que é a colocação de painéis fotovoltaicos nos edifícios públicos, de forma a ter uma redução nos gastos e o município possa ter mais para gastar nas pessoas. Reduzir custos deve ser um objectivo de qualquer município. Achávamos que apesar do princípio estar correcto, isso deveria ser feito rua a rua, quando houvesse verbas disponíveis.

 

Está a dizer que devia ser feito de forma faseada?

Sim. Fazer de forma faseada para que o município não ficasse hipotecado durante os 16 anos, com esse compromisso. Por outro lado, iria ter uma redução de custos. Assim não tem. Não sou engenheiro, mas faz-me confusão pensar que daqui a 16 anos ainda vão ser as mesmas lâmpadas. Não me admirava nada, como aconteceu com a água e outras experiências de outras concessões, que o município daqui a 10 anos tenha que voltar a renegociar aquilo que fez.

A nível ambiental, e falamos logo no primeiro ano de mandato, queríamos que tivesse sido feito um levantamento dos edifícios onde poderiam ser instalados outro tipo de equipamentos, nomeadamente painéis fotovoltaicos. Era algo que era positivo a nível ambiental para reduzir as despesas do município.

Ficamos com a sensação que se acabou por gastar muito dinheiro e que as prioridades deste executivo não foram as mais correctas.

Mas estava a fazer a avaliação do trabalho deste executivo.

Na realidade foi isso. Houve erros. Outra situação de que tivemos conhecimento há pouco tempo e nos deixou preocupados, foi um erro que foi cometido recentemente e ainda não é do conhecimento público. Aqui na freguesia de Valongo foi autorizada a construção, numa zona habitacional, de um armazém com milhares de metros quadrados onde vão ser instalados camiões TIR. Valongo é uma cidade pequena. Tanto quanto sei este tipo de empresas laboram dia e noite.

Ficamos estupefactos porque, algo que o Bloco tem defendido desde o início, é defender que se deve tentar de alguma forma que as zonas industriais que já existem e estão sub-aproveitadas tenham as condições necessárias para este tipo de empresas se instalar, porque devem ter localização própria fora do ambiente urbano. Este é um erro que nos deixa preocupado para o futuro de Valongo.

Ficamos com a sensação que se acabou por gastar muito dinheiro e que as prioridades deste executivo não foram as mais correctas.

As pessoas dizem-nos que não têm os passeios em condições. Há professores a queixar-se que não podem fazer aulas com alunos com deficiência na rua por causa das barreiras arquitectónicas. Quando ouvimos isto durante os quatro anos custa-me muito ver um exagero na promoção de eventos e de festas. O dinheiro devia ser investido nos munícipes. Este executivo está a exagerar nesses gastos.

Fomos visitar a Zona Industrial de Campo e verificámos que existem estradas que estão quase intransitáveis. Não fazem sentido estas opções. Acaba por ser um mandato menos três mais um, a que estamos habituados.

 

E qual a avaliação que faz da oposição do PSD e da CDU?

Na nossa opinião não fizeram um bom trabalho. O trabalho do PSD/CDS anterior foi tão mau que realmente eles ficaram quatro anos sem ter argumentos para nada.

O PSD não fez um bom trabalho. A CDU é uma caixinha de surpresas.

O PSD estava comprometido com as escolhas do passado?

Acho que sim, que esteve comprometido com as coisas do passado. Quanto à CDU tive muita dificuldade em perceber algumas opções. A CDU é uma caixinha de surpresas. A CDU sempre foi contra as concessões, mas na realidade fico admirado quando deixou passar esta história das luminárias. O Bloco de Esquerda foi o único a votar contra na Assembleia Municipal.

Ao nível do executivo, acho que existe por parte desses três partidos, PSD, PS e a CDU, luta partidária em que os munícipes perdem. Aliás, chegamos a pedir alguma atenção para a forma como falavam nas assembleias municipais porque se chegava a um certo ponto em que se insultavam uns aos outros em vez de discutir o que é importante para o município.

Acabo por achar que são três partidos que têm dificuldade em trabalhar juntos.

No âmbito dos transportes, querem uma reorganização da rede de transportes públicos. O que é preciso mudar para que a população tenha uma boa rede de transportes públicos no concelho?

Convém referir que, felizmente com este Governo, apoiado pelo Bloco de Esquerda, conseguiu-se parar com a privatização dos STCP. Os municípios, e o de Valongo é um deles, farão parte da gestão dos STCP.

Tenho consciência que, nos quatro anos do Governo PSD/CDS, houve um piorar incrível dos serviços de transportes no concelho todo. Várias pessoas nos referiam que havia autocarros previstos que não apareciam e que se viam obrigadas a usar o transporte privado.

Esperamos que Valongo, pertencendo à administração dos STCP, faça tudo o que estiver ao seu alcance para fazer chegar a informação a essa administração das necessidades que  o concelho tem e são muitas.

Está a falar das necessidades de Sobrado?

Neste momento, em Sobrado e Campo a partir das 19h00 ou 20h00 não há transportes. Sobrado não tem uma única linha dos STCP, tem de outras empresas sub-concessionadas. E Valongo tem um défice enorme de transporte para outros municípios. Existe algum transporte para o Porto, mas se desejarmos ir para a Maia, Santo Tirso, Gondomar ou Gaia temos que ir ao Porto. Estamos numa fase de viragem e gostaríamos que o município conseguisse aproveitar na gestão dos STCP para de alguma forma dar um salto qualitativo nos transportes.

Defendemos, também, a existência de linhas dentro do município. Temos dificuldades em andar dentro do município. Se houvesse transportes para Alfena, com regularidade, do centro de Valongo, de Campo, muitos jovens poderiam praticar modalidades que se praticam no Alfenense e assim não podem, por exemplo.

Há uma assimetria grande entre freguesias. Há freguesias de primeira e de segunda

A vossa candidatura diz que as freguesias de Valongo não são tratadas por igual. Isso vai além dessa questão dos transportes?

Também, mas não só. É algo que realmente aconteceu nos últimos vinte e tal anos. Nestes últimos quatro anos o PS que pouco fez. Há uma assimetria grande entre freguesias. Não é só nos transportes é nos espaços públicos. Por exemplo, Alfena não tem um único pavilhão municipal.

 

Há freguesias de primeira e de segunda?

Infelizmente foi isso que se criou. Freguesias de primeira e de segunda. Deveríamos tentar inverter o que tem acontecido nos últimos anos e não se tem conseguido.

O que se fez nestes quatro anos de PS foi apenas uma caracterização daquilo que toda a gente já sabe. Na realidade pouco se fez.  

O que é que é preciso fazer para mudar isso?

É preciso que se pense o concelho como um concelho em que haja condições para os jovens possam praticar desporto na sua freguesia, em que pessoas que precisem de um espaço com internet para trabalhar, para estudar, tenham uma biblioteca razoável, e não esta que, apesar de boa, está deslocalizada e acaba por não poder servir o concelho.

Falei com uma pessoa do Núcleo de Valongo que está ligada à patinagem e fiquei a saber que há certas classes que têm que ir para Gandra, para um pavilhão, porque em Valongo não têm condições. Há atletas de ténis de mesa que praticam numa escola, fora do horário de aulas, porque não têm um espaço para isso. Há muito por fazer.

 

Está-me a dizer que nivelar as freguesias passa por criar espaços culturais e desportivos em todas por igual?

Exactamente. Há outros espaços que estão sub-aproveitados, o Museu da Lousa, em Campo, está sub-aproveitado. É algo que deveria realmente ser alterado.

Valongo, neste momento, está ligeiramente mais transparente, mas não tão transparente como o José Manuel Ribeiro quer dizer.

A Prestação de Contas foi uma das grandes marcas da gestão de José Manuel Ribeiro. Valongo é um concelho mais transparente?

Valongo, neste momento, está ligeiramente mais transparente, mas não tão transparente como o José Manuel Ribeiro quer dizer. Sentimos isso na Assembleia Municipal. A informação não é a que deveria de ser, não chega atempadamente. Isso é uma queixa de todas as forças políticas.

Em relação a prémios, tenho que dizer que há exageros em prémios e em classificações.

 

Está a referir-se ao índice de transparência?

Este índice de transparência que é tão falado pelo José Manuel Ribeiro é um índice como outro qualquer. Não quer dizer que é mau, porque reconheço que houve melhoria, mas há mais a fazer ainda. O que acontece é irem ao site e verificarem determinados parâmetros, o que e que tem e o que não tem. Acho que foi demasiado empolado. Ainda há muito a fazer para que Valongo seja um concelho transparente.

Também há informação que o executivo, com a responsabilidade do presidente José Manuel Ribeiro, tem que pensar melhor. Houve um manifesto que foi entregue nas freguesias com erros.

Está a falar do flyer da prestação de contas?

Quando se presta contas, tem que se prestar direito, não é cometer erros e depois desculpar que foi por uma questão de organização gráfica. Existe um exagero nessa informação.

Valongo está melhor, mas está muito longe de ser um município verdadeiramente transparente.

Trata-se de “uma atitude eleitoralista e de promoção pessoal” do actual presidente, usando uma expressão sua?

Sem dúvida. Saiu o boletim municipal.

 

Que originou uma queixa do PSD na Comissão Nacional de Eleições.

Exactamente e que faz todo o sentido. Infelizmente, o que tem acontecido é uma promoção incrível, quase começo a achar que é quase um culto da personalidade do Zé Manuel Ribeiro. Tem existido uma utilização de meios do município para promoção pessoal, disso não tenho a mínima dúvida, e lamento.

Tem existido uma utilização de meios do município para promoção pessoal, disso não tenho a mínima dúvida.

Acha que esta queixa na CNE foi justificada?

Foi justificada.

 

Falando de contas, e PS tem salientado que a câmara agora paga a 5 dias e reduziu a dívida em 14 milhões de euros desde 2013. Considera que o actual executivo teve uma boa gestão? A que atribui essa redução de dívida?

Acho que aqui trata-se mais do cumprimento do PAEL. Por isso é que não queremos maioria. Com a vinda do PAEL houve um conjunto de regras que foram impostas ao município e que, devido mais a essas regras do que a outra coisa, acabou por acontecer a redução das dívidas.

 

Este executivo tem sabido captar investimento?

Não tenho notado. Fala em muitos projectos.

Deve-se pensar, sim, nas pessoas que possam vir a Valongo e que gostem de vir cá, mas primeiro tem que se pensar nas pessoas de Valongo e aí este executivo falhou um bocado.

Fala em investimentos de 100 milhões de euros e em 750 postos de trabalho criados.

Mas aonde é que eles estão? Fala-se demais em algo que é para acontecer. Essa é uma das razoes que leva as pessoas a afastarem-se da política.

Por exemplo, a Oficina da Regueifa e do Biscoito é um projecto que ele diz que vai fazer, mas, também, já o dizia há quatro anos atrás. De resto deixa-nos muitas dúvidas que se faça porque na gestão PSD foi o edifício em Ermesinde que acabou por ficar ali, também ia criar emprego, ia montar-se ali uma empresa. Zero.

Este fala na Oficina da Regueifa e do Biscoito, fala na do Brinquedo. Não está nada feito. Falou no Leça, no parque do Socer, há quatro anos atrás, não está nada feito. Realmente há muitos projectos e há captação de dinheiro, mas nada está feito.

Aliás, no boletim municipal vem exactamente isso. Há lá demasiadas coisas que não estão feitas. Não acredito que muitas daquelas coisas se vão fazer.

Quais são as propostas do Bloco de Esquerda para atrair investimento?

Neste momento, o que nos preocupa mais é são os munícipes e que estes se sintam bem no concelho. Achamos que se existir uma boa rede de transportes no município, se as pessoas se sentirem bem, se ao nível das zonas industriais se fizerem melhorias…

Chegou-nos ao conhecimento que mais do que uma empresa não ficou na zona industrial de Campo, mas foi para outra ao lado, que pertence a Paredes, porque era mais vantajoso para eles.

É esse tipo de trabalho que o município tem de fazer, criar as condições para que seja feita o investimento em Valongo.

 

Está a falar de benefícios fiscais?

Também fiscais. O Bloco acha que deve haver incentivos fiscais à indústria. O município não cobrar certos impostos durante quatro a cinco anos. Que haja esses benefícios.

Isso não existe neste momento?

Neste momento, isso não existe no município. Devia haver esse tipo de incentivos para que as empresas se instalassem.

Este executivo acredita e exagera quando acha que o turismo será algo que irá enriquecer o concelho e quando fala do brinquedo, da regueifa, das Serras do Porto, que o Bloco apoia e acha uma boa iniciativa, mas onde só foram colocadas tabuletas. Há uma ideia deste executivo de trazer muita gente cá.

Na minha opinião, há espaço para promover a regueifa, a lousa, o biscoito, o brinquedo, mas não é o mais importante. Juntamente com isso tem que haver uma luta para que a qualidade de vida dos munícipes aumente e isso não tem acontecido. Deve-se pensar, sim, nas pessoas que possam vir a Valongo e que gostem de vir cá, mas primeiro tem que se pensar nas pessoas de Valongo e aí este executivo falhou um bocado.

Há um evento com um artista conhecido, naquela noite é capaz de virem milhares de pessoas, mas o resto dos dias da semana, o resto do mês, quando as pessoas precisam que uma estrada esteja arranjada, de coisas no dia-a-dia, não há. Que é aquilo que tem acontecido.

 

Este executivo não soube priorizar?

Na nossa opinião, as opções deste executivo deixaram muito a desejar e não são, de forma alguma, as nossas opções.

 

O Bloco de Esquerda propõe a criação de uma estrutura municipal e multifuncional que dinamize o emprego jovem, actividades culturais e de formação. Que espaço seria esse?

Isso é algo de que já falamos há quatro anos. Achamos que devemos criar condições para que os jovens possam iniciar a actividade profissional no concelho e com isso trazer riqueza. É importante o município criar espaços e condições, disponibilizando internet …

 

Está a falar de uma incubadora?

Exactamente, uma incubadora para que os jovens, sejam arquitectos, sejam designers ou advogados, possam iniciar a sua actividade no concelho. É algo que o concelho não tem e algo que é interessante para que os jovens não tenham que se deslocar para outros municípios.

São milhares de pessoas que saem do município para trabalhar e só vêm para dormir todos os dias. Não se tem conseguido inverter esta situação.

O Bloco de Esquerda assumiu o compromisso de trabalhar em conjunto com outros municípios para que o Rio Leça seja despoluído e para que seja devolvido às pessoas.

Já abordou um pouco este tema. As Serras de Valongo não estão a ser devidamente promovidas?

Foi criada a associação, mas na realidade pouco se fez. A nível geológico e ao nível das Serras do Porto há muito mais a explorar. O edifício que lá está sempre fechado. Não adianta dizer que se tem umas Serras do Porto se depois não há apoios.

Neste momento, a única coisa que existe é algumas pessoas que vão correr, vão fazer BTT, existe uma associação que faz actividades. Ou seja, as serras estão como sempre estiveram. Não houve nenhuma alteração. Houve a criação da associação das Serras do Porto que é positiva, mas tudo o resto ficou por fazer.

 

Qual a perspectiva do Bloco de Esquerda para reverter a situação?

Primeiro, tem de ser feita uma caracterização das serras. Este ano foi um ano que tem dado muito que pensar ao nível da floresta. As serras têm de ser pensadas. O nosso programa defende a retirada dos eucaliptos e a plantação de plantas autóctones. Acho que se deve voltar a colocar as serras de Valongo como já foram. Temos consciência que é difícil e que só o município não o vai conseguir fazer, mas há certas coisas em que temos de ter objectivos.

Foi com tristeza que verificamos que a CDU, a nível nacional, não votou favoravelmente o banco de terras. Esse seria um caminho interessante de seguir. Temos consciência que, neste momento, os municípios têm dificuldades em tomar medidas em terrenos que são privados, mas esperamos que venha a acontecer o contrário. Isso é urgente. Já se perdeu tempo demais. Não se pode ver as serras apenas como uma forma de ganhar dinheiro com a venda dos eucaliptos, é preciso pensá-la como uma zona quer de lazer quer de estudo.

Ainda na área do Ambiente, um dos vossos compromissos passa pela recuperação do Rio Leça. Não tem recebido a devida atenção da autarquia?

Não.

 

Só agora ou nos anos anteriores?

Também nos anos anteriores. O que tem acontecido é que tem havido uma ou outra actividade ou uma ou outra obra pontual numa determinada zona do Rio Leça.

O Bloco de Esquerda, aliás, recentemente, assumiu o compromisso de trabalhar em conjunto com outros municípios para que o Rio Leça seja despoluído e para que seja devolvido às pessoas. Só um trabalho conjunto permitirá que isso aconteça.

Isso implica que haja limpeza do rio por cada município e que eles tenham a responsabilidade da fiscalização, que é algo que não existe. O rio aparece poluído, mas depois nunca se procura a origem, mas deve-se encontrar a razão da poluição e tentar que não volte a acontecer. Não basta limpar e deixar estar.

Durante mais de 20 anos, Valongo foi muito preterido nas obras de investimento na rede escolar.

Já disseram que vão lutar por mais habitação social no concelho. Não tem havido investimento nesta área?

Nestes últimos quatro anos pouco ou nada se fez nesse sentido. Aquilo que se fez foi a atribuição de casa, porque há pessoas que vão saindo e outras que vão entrando, que é a gestão normal que existe na habitação social.

Neste momento, não está prevista a construção ou a reabilitação de habitações sociais. Quando falamos de habitação social, não é só habitação social. Defendemos que os jovens quando em início de vida devem ter, quando necessitam, essa possibilidade de ter direito à habitação.

 

Está a falar da bolsa municipal de habitação que defendem?

Exactamente. O município devia ter um conjunto de habitações de forma a permitir que as centenas de famílias que carecem de casa a possam ter.

Mas isso passaria por rendas sociais para jovens?

Seria uma renda social, baseada sempre no valor dos rendimentos do agregado familiar. Existem regras que achamos que deviam ser ajustadas, porque o valor é muito baixo, mas já existem regras para definir o valor que é de sustentabilidade. Isso tudo tem de ser avaliado, mas antes de ser avaliado tem de haver a bolsa de habitação e as casas.

 

Defende a criação de novos bairros de habitação social?

Novos bairros de habitação social ou, no caso, por exemplo, da Av. Fernando de Melo, onde há prédios que estão ali devolutos, tentar reabilitar esses prédios.

A recuperação da Escola Secundária de Ermesinde está prestes a avançar. Para o Bloco de Esquerda o investimento previsto não é suficiente. Acredita numa segunda fase de obras, nesta e noutras escolas do concelho?

Não é suficiente e isso é dito por todas as pessoas ligadas à área da educação. Lamentavelmente, durante mais de 20 anos, Valongo foi muito preterido nas obras de investimento na rede escolar. Chegamos ao ponto de ter várias escolas, a Secundária de Valongo, a EB2,3 de Valongo, com condições difíceis para o trabalho dos alunos e professores. Este último quadro comunitário, foi muito injusto e mal gerido e chegamos à conclusão que houve escolas que foram intervencionadas há alguns anos e que acabam por voltar a ter verbas atribuídas. A nível nacional, o Bloco está a trabalhar para haver mais disponibilidade de mais dinheiro para colmatar as falhas nas escolas de Valongo.  

Temos de dar oportunidade às pessoas de experimentar. Há muitos jovens que, por exemplo, nunca pegaram num instrumento musical.

No âmbito dos investimentos querem a requalificação de passeios como uma prioridade. Este executivo não mostrou trabalho nessa área?

Houve algum trabalho pontual junto ao hospital, mas o que fizeram junto ao hospital deviam ter feito em muitos sítios, nomeadamente junto à câmara. Temos tido queixas de que as pessoas não conseguem circular sozinhas na cadeira de rodas porque as barreiras arquitectónicas são significativas.

 

O plano apresentado, de melhoria das acessibilidades e aposta nos modos suaves, um investimento total de 36 milhões de euros com fundos comunitários, já não vai suprir essas necessidades?

Ou seja, mais um plano, eu gosto de ver as coisas feitas e não anunciadas.

 

Mas não acredita na concretização desse plano?

Fico com dúvidas. Por que é que apareceu agora? É no mínimo estranho.

 

Não é por que estão a ser atribuídos agora os fundos comunitários?

Está a acontecer isso. A atribuição dos fundos comunitários atrasou. Sabemos disso, mas há muita coisa que o município podia ter feito e não fez. Para mim é uma questão de prioridade e de opção. Os municípios podiam fazer muito mais do que estar sempre à espera dos fundos, embora sejam importantes. O município podia ter feito mais.

Também defendem que falta oferta cultural. É preciso apostar em mais espaços culturais no concelho?

Espaços existem alguns. Temos o Vallis Longus que tem dois auditórios que estão quase sempre fechados, o próprio espaço no Museu da Lousa está, também, muitas vezes, fechado.

Devemos criar concertos, actividades, exposições, worshops onde as pessoas tenham a oportunidade de conhecer uma cultura diversificada. Acho que há espaço para tudo e não quero criticar ninguém, nem nenhum grupo, mas na realidade acho que tem havido preferência por determinados espectáculos. Temos de dar oportunidade às pessoas de experimentar. Há muitos jovens que, por exemplo, nunca pegaram num instrumento musical. Queríamos que tivessem a possibilidade de usufruir destas actividades ao longo de todo o ano e não apenas nas férias.

 

Mas está a falar de worshops promovidos pelo município?

Promovidos pelo município durante o ano inteiro. Existem pessoas que estão disponíveis para esse trabalho, para explicar uma determinada arte, desde que lhes criem os espaços. Não apenas as artes típicas do concelho, mas a música, o cinema… Queríamos levar às pessoas opções culturais que não as chamadas opções de massa.

Podíamos ter protocolos com as entidades culturais para que tivessem actividades na rua. É algo simples, mas têm de haver incentivos. Faz falta uma visão da cultura diferente ao nível da experimentação e uma cidade ganha muito com isso.  

 

Em que áreas é que é preciso mais investimento para apoiar a população sénior?

Incluímos a população a sénior neste tipo de actividades. Quando falamos em experimentação de instrumentos, não falamos só ao nível dos jovens, falamos ao nível de toda a população e os seniores também.

Mas ao nível dos seniores deveria haver a possibilidade de os mais idosos se poderem deslocar para esses locais, para poderem ter essa experimentação.

Também há outra área que está deficitária. É importante haver uma caracterização dos seniores. Achamos que existem muitas pessoas que precisam de apoio, se sentem sozinhas. O município deveria tentar fazer uma caracterização de como as pessoas se sentem e vivem e quem precisa de ajuda. Tentar dar a essas pessoas uma vida mais activa.

Também defendemos que haja uma interacção entre jovens e seniores em actividades. E a edificação de um espaço público onde os seniores pudessem ser acompanhados, quer em termos de residência permanente ou temporária, que fosse comparticipada pelo município, uma vez que não há alojamento para as pessoas mais carenciadas. Seria uma residência sénior pública. A população está a envelhecer e há poucas respostas quer a nível nacional e a nível local.