Já passou meio ano desde as últimas eleições autárquicas, mas na região, mesmo depois dos votos contados, ainda há lugares por ocupar e juntas de freguesia sem executivo.

Em Croca, no concelho de Penafiel, a oposição demitiu-se em bloco e a população vai novamente ser chamada às urnas para tentarem resolver o impasse criado com o último resultado, dando maioria a um dos partidos. Em Vilela, no concelho de Paredes, ainda não há eleições marcadas, mas o embaraço causado pela falta de maioria absoluta continua por resolver.

Em Vilela, o PSD venceu sem maioria, tendo conseguido a eleição de quatro elementos, contra três do PS e dois do CDS-PP. Aparentemente, a solução seria simples: os dois partidos de direita coligavam-se e construíam uma maioria, mas o assunto é mais complexo.

Para se perceber a dificuldade, é necessário saber que o candidato do CDS-PP à presidência da Junta de Freguesia tinha sido membro de um anterior executivo do PSD, do qual tinha sido afastado por alegadas irregularidades nas contas. Os números 2 e 3 da lista do PSD às mesmas eleições são precisamente as pessoas que denunciaram essas irregularidades. É este o problema que parece impedir o entendimento entre os dois partidos do qual poderia resultar uma solução que melhor servisse o superior interesse do povo de Vilela.

Até ao momento, parece que a concelhia do CDS-PP tem preferido ficar à margem deste ajuste de contas. No entanto, esta situação pode ter repercussões no futuro das relações entre os dois partidos. Vejamos: em 2005, o PSD venceu as eleições para a Câmara Municipal de Paredes sem maioria e o CDS-PP tinha conseguido eleger um vereador, Manuel Ruão. Quando, passado algum tempo Joaquim Neves, vereador eleito pelo PSD, se incompatibilizou com o presidente da Câmara, o PSD perdeu a maioria. Na altura – porque sou amigo de Manuel Ruão –, aconselhei-o a “dar a mão” ao PSD, para que, ao conseguir a atribuição de um pelouro, obter maior notoriedade pública e abrir a porta a uma coligação nas eleições seguintes. Mas o vereador decidiu não seguir o meu conselho, optando, em vez disso, por acompanhar o líder da sua concelhia, juntando-se ao PS na oposição ao PSD. Resultado: nunca mais o CDS-PP conseguiu eleger um vereador.

Neste momento, parece evidente que o actual líder do CDS-PP está a fazer um caminho a quatro anos, tentando crescer em representatividade para ter força numa eventual coligação para as próximas eleições autárquicas. Se permitir que os elementos do CDS-PP na Junta de Vilela se demitam, vai comprometer essa coligação, já que aquela demissão dará lugar a eleições para a Junta de Freguesia, com consequências para o CDS-PP: primeiro, porque haverá bipolarização do eleitorado entre o PSD e o PS, o que irá afectar o honroso resultado obtido pelo CDS-PP; segundo, porque se o PSD vencer, vai achar que não precisa do CDS-PP para nada. Se o PSD sair derrotado, não vai perdoar a traição do CDS-PP.

A haver eleições em Vilela, a disputa será entre PSD e PS. A favor do PS está o facto de ter conseguido derrotar o PSD e estar em maioria no executivo municipal. A favor do PSD pode estar a vitimização pelo comportamento da oposição. Há uma terceira solução para este problema, que é o PS não querer correr o risco de perder, viabilizar o executivo PSD, passar para a população a imagem de responsabilidade e apostar “as fichas” todas nas próximas eleições.