Chama-se “Vizinhos de Ermesinde” e é uma associação que pretende “estreitar laços entre pessoas que moram na mesma rua ou no mesmo prédio, de forma a que muitas famílias se transformem numa só”.

O conceito foi idealizado por Cláudia Moita que, e talvez porque tenha vivido 14 anos na Suécia, onde “se vivia esse espírito”, percebeu que, aqui em Portugal, mais concretamente em Ermesinde, “fazia todo o sentido” praticar algo semelhante. É que estamos a falar de uma freguesia com cerca de 38 mil habitantes e onde existem “muitas carências”, sobretudo ao nível social.

Aliás, esta ideia não surgiu agora, mas muito antes da pandemia. Mas a também empresária, como confessou ao Verdadeiro Olhar, pensou que “não houvesse adesão”. Mas os confinamentos vieram “provar que as pessoas são solidárias, apesar de, muitas vezes, precisarem de serem estimuladas” para conseguirem praticar a ajuda ao próximo.

Quando pôs uma frase no Facebook a dizer “e se em vez de reclamar fizéssemos algo por Ermesinde” as reacções não se fizeram tardar. A partir desse momento, percebeu que o caminho seria aquele que há muito tinha pensado e a “Vizinhos de Ermesinde” tornou-se uma realidade.

Hoje, a direcção da colectividade conta com 22 pessoas e dez voluntários, um grupo que Cláudia Moita quer ver aumentado.

Mas qual o papel desta organização? A empresária explica que passa por “coisas tão simples como fazer companhia a um idoso que está sozinho ou comprar o pão a uma mãe que não tem essas disponibilidade, porque está muito atarefada logo pela manhã, porque tem que levar os filhos à escola”.

“Na maioria dos casos, não está em causa a troca de bens, mas de tempo, de amor e carinho”, frisou.

A “Vizinhos de Ermesinde” actua em áreas como urbanismo, mobilidade e segurança, ambiente e sustentabilidade, infância, dinamização económica, vulnerabilidade e protecção animal. “Limpar as ruas junto às casas de cada um, para evitar inundações em períodos de chuvas; ter professores que, de forma voluntária, possam dar explicações a crianças mais carenciadas; ajudar os pequenos comerciantes e empresários a abrir um negócio, através de apoio logístico; trabalhar com refugiados que são deixados no nosso país à sua sorte” e até “fazer baby sitting, permitindo que os casais possam ter algum tempo para eles, são algumas das áreas onde a associação já está a trabalhar, explicou a dirigente.

Cláudia Moita reconhece que este é um trabalho que implica, da sua parte e das outras dirigentes, “muito tempo e disponibilidade”, mas “quebrar esta barreira entre vizinhos, que apenas de cumprimentam com um bom dia, e passar a ter amigos na porta ao lado, compensa todo o esforço”, garantiu.

Apesar de dizer que esta associação “não pretende sobrepor-se a outras”, reconhece que o ideal “seria todas trabalharem em conjunto, ajudando-se naquilo que fosse primordial e preenchendo as lacunas umas das outras”.

Cláudia Moita gostaria ainda de ter um espaço onde a associação pudesse “receber os seus idosos, as crianças que precisam de explicações ou os empreendedores que não sabem como abrir um negócio, mas, para já, esse “projecto vai ficar adiado”. Tanto mais que a comissão instaladora da associação teve uma reunião com a Junta de Freguesia de Ermesinde, que não mostrou disponibilidade. Ainda assim, acredita que “com mais provas dadas junto da comunidade, esse sonho vai-se tornar-se realidade”.

Enquanto isso não acontece, dirigentes e voluntários vão continuam a trabalhar em prol da população local. Porque ideias não faltam a esta associação para melhorar e reforçar os laços entre os vizinhos. “Todos temos que perceber que ao nosso lado vive alguém que nos pode ajudar num momento de aflição ou que pode tornar melhores os nossos dias”.

O mais difícil já foi feito, que representou a criação desta associação. Agora, e à medida que a população ouve falar da “Vizinhos de Ermesinde”, o grupo vai sendo “cada vez mais requisitado”. Por isso, Cláudia Moita acredita que “este sentimento de solidariedade entre todos vai agigantar-se e “vamos conseguir vermo-nos todos como uma grande família”.