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Em nove meses, o projecto (Re)Contando, Histórias da Lusofonia, conseguiu angariar, através da venda de um livro solidário que contou com a participação de 115 escritores e ilustradores, cerca de 10 mil euros que já estão a permitir a reconstrução de uma escola em Pundam, na Guiné-Bissau, desde a estrutura ao recheio das salas. Ao todo serão beneficiadas cerca de 180 crianças.

Recorde-se que a ideia foi lançada pela valonguense Carla Monteiro, escritora e artista plástica, que contou com o apoio da Comissão Nacional da Unesco-Portugal, da HumanitAVE- Associação de Emergência Humanitária sediada em Vila Nova de Famalicão, que já tinha desenvolvido missões na Guiné-Bissau, e da editora Chiado Books.

“Grande parte das obras vendidas foram resultado de gestos e acções de proximidade, ou seja, de passa-a-palavra, de amigo para amigo, de voluntário para voluntário”, explica a mentora da ideia, lembrando que se fizeram palestras, workshops e participações em feiras e eventos, além de idas a escolas e empresas. Foram vendidos cerca de 900 livros.

“Este mês, começamos a solicitar mais unidades à Chiado Grupo Editorial, o que expressa que a obra continua a ser requisitada e a circular, o que me deixa extremamente realizada e satisfeita, tanto com impacto que a obra esta a ter em termos de importância literária e cultural, como assim, vai perfazendo a totalidade dos 10 mil euros necessários para a reconstrução da escola”, diz Carla Monteiro. A obra vai continuar a ser vendida, pelo menos, mais dois anos, e o valor angariado será usado para dar continuidade a melhorias na escola.

A recuperação do edifício começou em Janeiro de 2019. “Toda a estrutura vertical e horizontal, paredes e lajes térreas já se encontram em acabamento. Será dada continuidade do plano de reconstrução seguindo-se a cobertura, depois aos acabamentos finais e ao recheio das salas”, explica a valonguense.

A obra esta a ser desenvolvida por artesãos, construtores e trabalhadores locais, sendo o acompanhamento feito por uma organização não-governamental para o desenvolvimento, a Soguiba, parceira da HumanitAve.

Mais que o sentimento de dever cumprido, conseguir que um projecto 100% solidário se concretize numa obra é “uma emoção indescritível”. “Ver acontecer algo de tamanha importância, para mim e para todos os que beneficiam desta obra, é o comprovativo de que, mesmo não pertencendo a uma organização ou associação, mesmo não tendo mais do que imensa vontade e amor, com persistência, com vontade e fé ‘O Homem sonha, Deus quer, a Obra nasce’, como dizia Fernando Pessoa”, defende Carla Monteiro.

“Não contava alcançar com tanta rapidez o resultado, tanto na venda dos livros necessários para o início da obra assim como não contava que o arranque e evolução da obra em Pundam se desenvolvesse de forma tão consistente. Contava que demorasse pelo menos um ano até se iniciarem os primeiros trabalhos”, confessa, falando na gratidão com todos os que participaram no projecto.

Carla Monteiro quer fazer uma nova edição do (Re)Contando. Ainda não está estruturado mas será “mais artístico e menos literário” e quer beneficiar uma associação não governamental que trabalhe na promoção dos direitos humanos/direitos das crianças. “Conto reunir o dobro dos participantes neste novo projecto (Re)Contando. Não tenho em mente parar com este tipo de projectos e acções”, promete.

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