Saber planear e gerir um orçamento familiar, antecipar despesas, fazer poupanças, abrir uma conta no banco, escolher o melhor crédito, preparar a reforma, contratar um seguro, investir no mercado de capitais e perceber quando há risco não é para todos. Por isso, a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa é a primeira do Norte do país a implementar um plano de formação financeira cujo objectivo é combater a iliteracia financeira junto da população.

O projecto-piloto arrancou esta terça-feira, com o início da formação a técnicos dos 11 municípios que compõem a CIM – Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Penafiel e Resende.

Num país onde existe muita iliteracia financeira e onde há ainda um longo caminho a percorrer, o segredo passa pelo conhecimento mas também por melhorar os comportamentos e atitudes em termos financeiros, acreditam os responsáveis pelo projecto.

É a primeira sub-região do Norte a avançar com este plano de formação

O projecto chama-se “Todos Contam”. Trata-se de um Plano Nacional de Formação Financeira que visa contribuir para elevar o nível de conhecimentos financeiros da população e promover a adopção de comportamentos financeiros adequados e da melhoria das atitudes financeiras.

Implementado pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, que integra o Banco de Portugal, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, este plano quer mudar a realidade nacional no que toca à literacia financeira.

Os dados mais recentes, de um inquérito realizado à literacia financeira dos portugueses realizado em 2015, mostram que são os estudantes, os desempregados e os reformados, os que têm menos escolaridade e os que têm poucos rendimentos os que surgem com literacia financeira mais baixa. Em termos etários, mais de 60% dos jovens com 16 a 24 anos e dos seniores com mais de 70 anos apresentam um índice de literacia inferior à média.

Sobre a região não há dados, mas a realidade andará próxima ou abaixo da média nacional já que o Tâmega e Sousa tem alguns dos piores indicadores do país.

E é para inverter a tendência que a CIM do Tâmega e Sousa celebrou um acordo com o Conselho Nacional de Supervisores Financeiros e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte para implementar o Plano Nacional de Formação Financeira na Região Norte.

Será a primeira CIM do Norte a avançar com este projecto que pretende “reforçar o papel das autarquias na formação dos munícipes em matéria de poupança e gestão de finanças pessoais e familiares, contribuindo, assim, para elevar os conhecimentos financeiros das suas populações, melhorar os seus comportamentos financeiros e promover a adopção de atitudes financeiras adequadas”.

 

Inácio Ribeiro acredita que há muita iliteracia financeira na região

O arranque aconteceu esta terça-feira, no Instituto Superior de Ciências Educativas do Douro, em Penafiel. Técnicos dos 11 municípios vão ter acesso a formação durante três dias sobre temas como planear e gerir o orçamento familiar; contas e serviços mínimos bancários; usar meios de pagamento; importância da poupança; fazer um depósito a prazo; investir no mercado de capitais; preparar a reforma; recorrer ao crédito; prevenir o incumprimento; fazer um seguro; e serviços dos supervisores financeiros.

Serão eles os responsáveis por, em cada concelho, levar a informação mais próximo da população.

“Numa região com cerca de 424 mil pessoas combater a iliteracia financeira é essencial”, defendeu Inácio Ribeiro, presidente do conselho intermunicipal da CIM do Tâmega e Sousa, durante a apresentação do projecto. O também presidente da Câmara Municipal de Felgueiras lembrou que a região tem realidades muito diversas e anda á procura de convergência em temas como rendimento per capita ou poder de compra, em que estão longe da média nacional. Estas acções vão “ajudar a construir um território mais inclusivo e fazer com que a literacia financeira concorra para a melhoria dos indicadores da região”, acredita.

A grande preocupação passa por capacitar as famílias para gerir as suas finanças.  “Estes quadros superiores vão levar mais longe a informação nos seus territórios para combater a iliteracia financeira”, referiu Inácio Ribeiro que, apesar de não ter números concretos sobre a região, acredita que há muita iliteracia financeira no Tâmega e Sousa.

O “esforço terá que ser contínuo e há um caminho longo a percorrer”, confessou.

“Queremos preparar a nossa população para lidar com desafios do dia-a-dia, desde abrir uma conta a contrair um empréstimo”

Na sessão de abertura, Susana Narciso, representante Banco de Portugal, defendeu que “todos são precisos para aumentar os níveis de literacia financeira da população” e lançou o desafio à CIM de participar na Semana da Formação Financeira a realizar em Outubro.

Já a representante da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte na Comissão de Coordenação do Plano, Natália Gravato, lembrou que o Norte tem “a convicção que existe uma percentagem significativa da população que precisa de apoio” e que o trabalho vai começar nesta sub-região que tem ao mesmo tempo uma elevada percentagem de população e de população jovem e o rendimento per capita mais baixo do país.

“Este projecto-piloto será replicado nas outras sub-regiões do Norte. Com os resultados que vamos ter aqui aprenderemos a chegar mais perto da população”, acredita Natália Gravato. “Queremos preparar a nossa população para lidar com desafios do dia-a-dia, desde abrir uma conta a contrair um empréstimo”, defendeu.

O objectivo é que, a partir destas sessões, seja elaborado um plano de acção adaptado ao território que deverá estar pronto em Julho.

Até que as iniciativas vão para o terreno, quem quiser aprender mais sobre questões financeiras pode aceder ao portal do projecto Todos Contam. Existe ainda uma plataforma de e-learning com vídeos e outro material de apoio para que possa aprender sozinho.