A Escola Secundária de Paços de Ferreira quer integrar o projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular que permite às escolas, por exemplo, a organização dos tempos escolares até 25% da carga horária semanal.

A questão foi debatida, esta quarta-feira, durante uma reunião do Conselho Pedagógico que contou com a presença do secretário de Estado da Educação, João Costa. O governante adiantou, no final da sessão, que veio para “auscultar, esclarecer e sobretudo ouvir”. “Foi uma discussão produtiva”, disse.

O director do estabelecimento de ensino diz que, depois de ouvidos os professores, querem ouvir pais e alunos, mas afirma que é objectivo arrancar com um projecto-piloto em pelo menos uma turma do sétimo ano.

Ideia vai ser debatida com pais e alunos

O projecto-piloto para a flexibilização curricular das escolas arrancou, este ano lectivo, em mais de 230 estabelecimentos de ensino públicos e privados.

Em Janeiro, num primeiro balanço, o ministro da Educação afirmava que o projecto estava a ser monitorizado para que possa ser alargado a todas as escolas.

A Escola Secundária de Paços de Ferreira quer aderir a este processo. O objectivo já tinha sido traçado no ano passado mas acabou por ser adiado.

O convite ao secretário de Estado João Costa surgiu para que os representantes do Conselho Pedagógico “pudessem ouvir na primeira pessoa o que era o projecto e colocarem as suas dúvidas”.

Agora, José Valentim de Sousa, director da escola, adianta que querem avançar. “Provavelmente vamos aderir a esse projecto de flexibilização mesmo que seja com experiências em turmas-piloto. Até porque, chegamos à conclusão nesta reunião, que muito daquilo que já vamos fazendo noutros projectos vai de encontro a essa flexibilização”, explicou esta quarta-feira.

“Isso passará por uma organização diferente da escola. Estamos agarrados a uma ideia muito estática das turmas e dos horários e isso terá que ser reorganizado, quer a nível de constituição de turmas, quer de horários, quer ao pôr em prática o currículo que temos. Isso terá que ter impacto na sala de aulas e nos alunos, alterando algumas práticas pedagógicas”, adiantou o director da Escola Secundária de Paços de Ferreira.

O próximo passo é trabalhar a ideia com os alunos e com os pais. “Não poderemos avançar com este projecto sem termos o envolvimento dos pais”, garante.

A mudança, que será feita de forma gradual, não afectará logo os 1644 alunos da escola. “Quando propus avançarmos no ano passado propus uma turma do sétimo ano e outra do 10.º ano. Mas isso terá que ser repensado, porque em termos de ensino secundário estão a ser levantadas questões em relação aos exames nacionais. Devemos começar com turmas do 7.º ano. Não há necessidade de correr, temos que amadurecer ideias e depois dar um passo seguro”, defende José Valentim de Sousa.

Secretário de Estado diz que ainda há desafios a resolver mas faz balanço positivo do projecto

Ao Verdadeiro Olhar, João Costa fez um balanço positivo deste projecto do Ministério da Educação. “Temos dados intercalares de monitorização interna e da avaliação externa que a OCDE fez ao projecto. Sentimos uma enorme energia nas escolas e no trabalho que se está a fazer. Temos dados sobre um maior envolvimento dos alunos nas aprendizagens e temos também identificados alguns pontos que são desafios para a vida futura deste projecto”, referiu. Entre esses desafios estão a “necessidade de continuar as estruturas de apoio, de acompanhamento, o investimento em formação continua e a reflexão sobre instrumentos de avaliação”.

Sobre os receios de alguns docentes sobre a articulação destes programas de flexibilização com os exames nacionais, o governante não esconde que esse é um dos temas que mais tem sido debatido. “Aquilo que vemos nos exames nacionais é que há uma parte muito significativa dos alunos que não tem sucesso nos exames e, quando vemos onde falham, não é tanto nos itens de memória, mas nos que envolvem interpretação, análise, leitura de gráficos… que são competências inscritas no Perfil dos Alunos. E a flexibilidade visa desenvolver as competências inscritas nesse perfil. Ao flexibilizarmos, tendo como objectivo melhores aprendizagens, estamos a dar resposta àquilo a que ainda não conseguimos chegar nos exames nacionais”, acredita o secretário de Estado.

“A inquietude é natural nos processos de mudança. E nós respeitamos isso. Este não é um projecto impositivo, é um processo em que deixamos as escolas trabalhar com liberdade”, acrescenta.

No âmbito de uma política de proximidade às escolas, João Costa diz que, só no ano passado, participou em cerca de 80 reuniões de Conselho Pedagógico um pouco por todo o país. “Os professores falam das suas dúvidas, discutimos, dão conselhos. Há muitas decisões que têm sido influenciadas por esta participação das escolas. Este é um trabalho que se faz em conjunto. Não nos passa pela cabeça que o Ministério da Educação defina uma política educativa sem ouvir quem está no terreno”, garante.

Por isso, esta visita à Secundária de Paços de Ferreira passou por “auscultar, esclarecer e sobretudo ouvir”. “Ouvi o trabalho de reflexão da própria escola, sobre a relação entre aprendizagens e avaliação, a preocupação com os exames do ensino superior e estratégias. Foi uma discussão produtiva”, concluiu.