“Queremos trabalhar”. Era esse o principal apelo ouvido na manifestação “pacífica” realizada por proprietários de bares, restaurantes e discotecas, esta manhã, em Lousada. “As contas não se pagam sozinhas”, “eterno descanso aos restaurantes”, “não sobrevivemos com esmolas” e “o pó da gaveta não nos sustenta” eram algumas das frases escritas nos cartazes das dezenas de pessoas presentes.

A situação trazida pela pandemia, já de si complicada e com um acumular de quebras de facturação nos últimos meses, está a ser agravada com os horários reduzidos e o encerramento às 13h00 ao fim-de-semana.

“Se a subsistência dos nossos estabelecimentos já se afigurava difícil, então agora foi-lhes decretada a sua sentença de morte”, escrevem os proprietários num manifesto entregue à Câmara Municipal a quem pediram que leve um apelo junto do Governo, pedindo mais apoios e ajuda para “salvar o sector”. Falam em quebras de 80% e dizem que em causa podem estar encerramentos e o despedimento dos trabalhadores.

Os fins-de-semana são cruciais para a sobrevivência do sector da restauração”

No documento, os proprietários de estabelecimentos de restauração e similares do concelho de Lousada salientam que “se há sector onde o cumprimento das regras tem ocorrido de forma quase exemplar é precisamente no sector da restauração”. “Estes serão provavelmente dos locais onde as normas se seguem mais à risca”, sustentam.

“Não compreendemos por isso a dureza das medidas que recaem sobre o nosso sector de actividade quando comparado com outros, que passam ao cidadão comum a ideia de que os estabelecimentos de restauração são os principais focos de contágio, sendo essa totalmente errada”, alegam ainda.

Para colmatar as quebras, na ordem dos 80%, os representantes do sector lousadense propõe a adopção de algumas medidas, desde logo a sensibilização dos proprietários dos estabelecimentos relativamente às rendas, que continuam a pagar apesar de quase não terem clientes. Pedem ainda, à semelhança do que já aconteceu noutros protestos, a isenção/redução da taxa social única (TSU) até 31 de Dezembro 2021; a redução do IVA para a taxa mínima de 6% até Dezembro de 2021; e a sensibilização para diminuição de valores de taxas como PassMusica, SPA, electricidade e água.

Além disso, requerem que haja um alargamento do horário de funcionamento actual dos estabelecimentos de restauração até às 00h00, especialmente aos sábados e domingos. “Os fins-de-semana são cruciais para a sobrevivência do sector da restauração, pelo que a imposição do recolher obrigatório actual aos sábados e domingos, entre as 13h00 e as 5h00, fará diminuir ainda mais as receitas e levará seguramente à extinção da maior parte dos estabelecimentos de restauração do concelho, havendo um aumento significativo da taxa de desemprego”, avisam no manifesto.

Entre os apelos está ainda o do pagamento a 100% relativamente às perdas dos fins-de-semana de 14 e 15 e 21 e 22 de Novembro, em que estiveram impedidos de trabalhar e o da ajuda na promoção dos espaços de restauração.

São estas as medidas necessárias para “salvar o sector da restauração, evitando a destruição dos estabelecimentos e extinção dos postos de trabalho que aqueles asseguram”, apontam.

As “migalhas” do Governo e um sector “massacrado”

“Precisamos de trabalhar. As medidas do Governo são migalhas e quando vierem os apoios já não vamos conseguir salvar os nossos negócios”, defende André Faria, que gere um bar com quase três décadas de história.

Depois de terem estado fechados dois meses agora funcionam com horário reduzido. “Estamos a tentar não mandar os colaboradores embora, mas se calhar vamos ter de despedir e encerrar a empresa”, admite.

“Estamos todos à espera pelo fim do ano. Mas se no próximo não nos deixarem trabalhar podemos esquecer os nossos negócios e também as muitas empresas que se alimentam deste sector”, avisa.

Com dois restaurantes, um em Lousada e outro em Paços de Ferreira, Álvaro Vieira tem preocupações a dobrar. “É uma carga muito pesada para a restauração. O sector está a ser massacrado”, diz, salientando a imposição de fechar ao fim-de-semana quando poderiam ter mais clientes. “Não nos deixam trabalhar e nós continuamos a pagar as despesas”, lembra.

Há 15 anos na área, não esconde que pode estar em causa fechar um dos estabelecimentos se as coisas não mudarem. Tem 18 funcionários e muitas despesas fixas, rendas e impostos a pagar. “Estas medidas do Governo não compensam as perdas. Somos prejudicados como se fossemos os principais culpados pela propagação do vírus quando a restauração está a funcionar com menos clientes, menos horas e com todas as medidas de segurança”, realça.

Também o cálculo usado para os apoios do Governo é criticado. “É insustentável continuar assim muito tempo e basear os apoios num ano atípico, com quebras elevadas de facturação, não faz sentido. Os valores em causa são irrisórios porque ficamos mais de dois meses parados e a facturação caiu”, sustenta o empresário. “Desde Março para cá não há mês em que não tenha de mexer nas economias dos restaurantes para fazer face aos compromissos”, revela.

O documento com os apelos foi entregue ao presidente da Câmara de Lousada. Pedro Machado, que esteve na manifestação e reuniu com alguns dos representantes do sector diz-se “100% solidário com as reivindicações”.

“As dificuldades foram imensas num primeiro momento, contudo, as restrições para encerrarem ao fim-de-semana a partir das 13h00 provocaram uma situação muito difícil para todos. Desejo sinceramente que estas restrições sejam repensadas e é isso que direi ao Governo. Sabemos que o foco das infecções, segundo dados da autoridade de saúde local, não é provocado pela frequência nestes espaços que estão devidamente equipados e trabalham com toda a segurança”, diz o autarca.