Três meses e meio decorridos desde que acolheu um casal de refugiados, a Santa Casa da Misericórdia de Penafiel reclama da falta de apoio estatal e do incumprimento do protocolo celebrado. A denúncia foi feita por Júlio Mesquita durante um debate sobre o fluxo migratório na Europa, na noite desta sexta-feira. A iniciativa foi organizada pelo CDS-PP de Penafiel e contou com a participação do eurodeputado Nuno Melo.

“Para poder garantir as condições mínimas ao casal, a Santa Casa está a fazer um grande esforço”, referiu o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel, durante o debate que decorreu no auditório do Museu de Penafiel, acrescentando que é aquela instituição que suporta todas as despesas do casal, desde a alimentação ao vestuário, passando pelas comunicações.

 

Casal ainda não tem aulas de português

Desde que o casal eritreu Binyan Abebe e Selam Melkamu chegaram Penafiel, através do programa da União Europeia para acolhimento de refugiados, que a Santa Casa da Misericórdia de Penafiel deixou de ter qualquer apoio das entidades estatais. Júlio Mesquita diz que, à excepção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que passou para saber do casal acolhido, não tem tido qualquer ajuda nem as entidades nacionais têm cumprido a parte financeira do acordo.

O protocolo prevê o acolhimento por um período de 18 meses para que os refugiados possam integrar-se na sociedade local e tornarem-se autónomos. No entanto, como o casal de refugiados não fala português, é necessário que tenha aulas. É aqui que começa a primeira dificuldade da Santa Casa da Misericórdia, “o Instituto do Emprego ficou de os integrar numa turma de português e até hoje não o fez”, explicou Júlio Mesquita. “Ainda hoje [sexta-feira] fomos lá e disseram-nos que não estão reunidas as questões para os integrar numa turma. Penso que devem ser condições monetárias. Mas nós também não temos condições para pagar a um explicador”, sustentou. O Provedor questiona-se quanto à integração destas pessoas: “Sem português, como é que os vamos integrar na sociedade?”

 

“Sentimo-nos desamparados”

Júlio Mesquita dá ainda como exemplo a falta de apoio psicológico. “A senhora no início teve alguns problemas psicológicos com a integração e teve mesmo que ser internada no hospital durante dois dias. Pedimos apoio psicológico e não recebemos qualquer resposta. A solução foi recorrer a uma missionária etíope que está em Lisboa para a conseguir ajudar. Tudo a expensas nossas”, acrescentou. “Primeiro dizem: Venham! Venham! Depois chegam cá e desenrasquem-se”, concluiu o Provedor.

Júlio Mesquita mostra-se preocupado com futuro deste jovem casal: “Andamos aqui a navegar à vista. Sentimo-nos desamparados”.