Viajar milhares de quilómetros de mota já não é novidade para Gracinda Ramos. A professora de Educação Visual e Artes na Escola Secundária de Paredes há muito que guarda as férias de Verão para, sozinha, conhecer vários países.

Desta vez partiu, esta quinta-feira, rumo a Itália, passando pela Sicília, Córsega e Sardenha, numa viagem que deve totalizar 17 mil quilómetros. Só volta a 3 de Setembro.

Não será a mais longa. Em 2015, foi à Rússia e percorreu mais de 20 mil quilómetros. As estórias dessa viagem foram já colocadas em livro e, em Setembro, haverá apresentações na região.

A docente, que vive em Penafiel, já percorreu mais de 930 mil quilómetros e conta chegar, em breve, ao milhão, embora, saliente, isso não seja um objectivo de vida. Mais do que o destino o importante é a viagem.

“Não viajo para fazer quilómetros. Os quilómetros não são objectivo, são consequência”

Não troca as suas motas por nada e quase se contam pelos dedos as vezes que entra num carro. Desde a juventude que as duas rodas se tornaram uma paixão. De lá para cá teve cinco bicicletas, duas motorizadas e sete motas.

A actual, que a docente de 53 anos usa para o dia-a-dia e para viajar, é uma Honda Crosstourer que apelidou de “negrita”.

Percorre entre 40 a 40 mil quilómetros por ano. “Esta mota tem dois anos e já tem 87 mil quilómetros”, dá como exemplo. Por isso, não é de estranhar que, desde que se desloca em duas rodas (e desde que conta), já tenha percorrido mais de 930 mil quilómetros. “Com a próxima mota devo chegar a um milhão”, prevê.

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O objectivo não é esse, no entanto. Não viaja para fazer quilómetros, viaja pelo prazer de viajar e pela liberdade de escolha que as viagens que faz sozinha lhe dão. “Não viajo para fazer quilómetros. Os quilómetros não são objectivo, são consequência”, refere. Talvez venha daí o nome do seu blogue que, entretanto, deu origem a uma página do Facebook, chamado “Passeando pela Vida”.

Gracinda Ramos já visitou 42 países, alguns por várias vezes. E há muitos deles que ainda quer repetir. Apesar de não gostar de repetir caminhos diz que há vários sítios a que pretende voltar para conhecer outros recantos. “Às vezes até evito de conhecer tudo de uma vez”, brinca. Na maioria das vezes foge dos locais turísticos e vai à procura de conhecer as pessoas e as culturas. “Levo sempre um planeamento, mas muitas vezes saio do roteiro e vou conhecer outras coisas”, diz.

Viagem à Rússia deu um livro com estórias e desenhos

Nesta viagem a Itália vai sair um pouco da rotina. Vai com o marido e com um amigo até à Suíça, onde vão ficar alguns dias. Separam-se depois em Turim. Eles regressam em Portugal e ela segue viagem e só volta no início de Setembro.

Esta não será a viagem mais longa. Espera fazer cerca de 17 mil quilómetros. As que fez à Rússia e à Escandinávia, nos últimos anos, ultrapassaram essa distância. Fez mais de 20 mil quilómetros em ambas.

Em todas traz sempre muitas fotografias, desenhos e memórias. Mas a ida à Rússia, em 2015, foi especial. Tanto que deu um livro que já apresentou em alguns locais. São mais de 250 páginas em que além de pequenos textos a descrever episódios da viagem, o leitor encontra 120 desenhos e algumas fotografias. “As histórias podem ser lidas de forma isolada”, refere. Trata-se de uma edição de autor, embora Gracinda Ramos tenha o apoio da Honda, que a ajuda com as revisões das motas (todas as que teve foram dessa marca).

Também teve ajuda dos amigos. Foi uma aluna que fez a composição da capa, duas professoras fizeram a revisão e um amigo motard tratou da paginação.

Quando voltar, em Setembro, conta apresentar o livro na Biblioteca Municipal de Penafiel, na Escola Secundária de Paredes e no Moto Clube do Vale do Sousa.

Muitos questionam se não é perigoso fazer estas viagens de grande distância sozinha, pelo facto de ser mulher. Gracinda Ramos garante que nunca teve problemas. “Muitos estranham. Mas a tendência é ajudarem. Já me ofereceram comida e outros tiveram medo de mim”, conta.