A presidente da Junta de Freguesia de Vilela (PSD/CDS-PP) acusou, na última Assembleia Municipal, o presidente da Câmara de Paredes (PS) de tratar as freguesias do concelho de forma diferente e criticou-o por ter recusado apoiar a Feira Medieval de Vilela.

Mariana Machado Silva frisou que o argumento usado por Alexandre Almeida, sobre as obras previstas para o Mosteiro de Vilela e os investimentos futuros – foi para ali anunciado o Museu do Mobiliário – não colhe, quando há freguesias a receberem apoios para outros eventos culturais.

“Usa um investimento de milhões para justificar a falta de apoio. Recordo que, na cidade onde reside [Rebordosa], nos últimos quatro anos já gastou milhões de euros em obras e nem por isso deixou de patrocinar um evento cultural de quase 9000 euros promovido pela junta”, criticou a presidente da Junta de Vilela.

O presidente da Câmara esclareceu que a autarquia está a fazer vários investimentos em Vilela, negando discriminar a freguesia. Alexandre Almeida disse ainda que o Mosteiro neste momento não reúne condições para o evento, pelo que, embora o município tenha permitido a utilização do espaço não vai dar apoio. Por outro lado, adiantou que, no futuro, aquele espaço tem “potencial para se fazer uma feira medieval de alto nível” e que a própria Câmara poderá assumir a realização do evento.

Queixa sobre violação das leis eleitorais influenciou?

Estava-se no período antes da ordem do dia quando Mariana Machado Silva tomou a palavra para pedir esclarecimentos ao presidente da autarquia sobre os “critérios adoptados para tratar de forma diferente o que é igual”.

“Em todas as Assembleias têm sido aprovados donativos às juntas de freguesia para promoção e implementação de actividades de cariz cultural”, referiu, dando como exemplo apoios concedidos à Mostra de Artesanato de Gandra (2000 euros), à Sexta-Feira 13, em Paredes, (600 euros), ao Festival de Teatro de Rebordosa (8904 euros), à Noite Branca de Baltar (2000 euros) ou à Feira Quinhentista de Rebordosa (2000 euros).

Em causa está o facto de a Câmara de Paredes ter negado apoio à Feira Medieval de Vilela.

“A Junta de Freguesia de Vilela decidiu, este ano, antes de o Mosteiro fechar portas para obras, levar a sua Feira Medieval a outro patamar e promovê-la com o tema ‘O Fim da Peste’, marcando o fim da pandemia. O projecto foi apresentado a 17 de Janeiro e foi aprofundado, sendo acolhido pelo pelouro da Cultura com entusiasmo”, seguindo-se “contactos, trocas de emails e reuniões para preparação”, descreveu a autarca de Vilela. “Ao município apenas era pedido um apoio financeiro para realizar ‘a melhor feira de sempre’, melhorando uma feira realizada na freguesia há mais de uma década”, realçou ainda.

A Junta de Freguesia avançou com meios próprios e aguardou até que, presencialmente, na passada segunda-feira, Alexandre Almeida terá dito “que, na sua opinião, o evento este ano não se deveria realizar e como tal não teria o apoio do município”, contou Mariana Machado Silva. Usou como argumentos “as obras [previstas] e o investimento futuro”. “Mas recordo que os três milhões de euros que diz que vai investir ainda não são uma realidade. O início das obras só esta previsto para o final do ano como nos confirmou. Agradeço que esclareça aos vilelenses a verdadeira razão para não dar apoio, esperando que não se prenda com o facto de, recentemente, ter prestado declarações no Ministério Múblico sobre violação das leis eleitorais na última campanha autárquica, justamente por causa do Mosteiro”, atirou a presidente da Junta.

Foto: Arquivo

“Parece que está preocupada com que eu faça obras em Vilela”

A resposta do presidente da Câmara também veio carregada de ironias. “O facto de não gostar de mim, não faz com que eu seja obrigado a não gostar de si. Tenho é de gostar das freguesias. Mas já vi que, por não gostar de mim, não gosta de Rebordosa. Mas pode ter a certeza de que eu gosto muito de Vilela, tal como gosto de Rebordosa e de todas as freguesias”, começou por dizer.

Respondeu desde logo à questão lançada pela presidente da junta: “Quando fiz a apresentação pública do projecto na Câmara não publiquei nem sequer uma foto minha no Facebook, publicamos o projecto. E você foi fazer uma queixa para o Ministério Público a dizer que estava a ter ganhos eleitorais com aquilo. Parece que está preocupada com que eu faça obras em Vilela”.

Dito isto, o edil elencou um conjunto de intervenções previstas ou em curso na freguesia, adiantando que já foram gastos mais de 75 mil euros em projectos para fazer nascer um Museu na freguesia, prometido há muito, 50 mil euros num projecto de arquitectura e especialidades para fazer nascer em Vilela um centro de dia e um serviço de apoio ao domicílio num terreno da Associação para o Desenvolvimento de Vilela, que será candidatado ao Plano de Recuperação e Resiliência, mas que avançará mesmo que não haja apoio. Além disso, referiu, está a ser projectado o alargamento da escola da Banda de Música de Vilela e foram feitos investimentos em águas pluviais e pavimentação de estradas, o que é para continuar.

“Lamento que lhe tenha feito uma delegação de competências de 40 mil euros há quase um ano para fazer obras na casa mortuária e você até hoje foi incapaz de mexer uma palha para fazer aquela obra. Tem o dinheiro à disposição, faça o favor de o investir na sua terra, faça o seu trabalho que eu faço o meu”, atirou Alexandre Almeida.

O autarca referiu ainda, mais à frente, que uma vez que aquele espaço vai ser requalificado, entende que o evento, que já está há dois anos sem realizar devido à pandemia, só deve regressar depois. “Entendo que aquele espaço tem potencial para se fazer uma feira medieval de alto nível e é isso que vamos querer fazer e assumirmos mesmo nós Câmara Municipal a realização dessa feira medieval num espaço com condições para o fazer. Entendemos que, neste momento, aquele espaço não reúne condições. Mas se entendem que reúne assumem a responsabilidade de a fazer e fazem. Demos autorização para o fazerem”, sentenciou.

Perante as declarações do autarca, Mariana Machado Silva pediu a defesa da honra. Acusou o presidente da Câmara de “mentir” ao dizer que ela não gosta de Rebordosa, sobre o processo judicial citado e sobre a casa mortuária. Mas acabou interrompida pelo presidente da Assembleia Municipal por ter ultrapassado o tempo que tinha para a intervenção, um minuto. Apesar de ter contestado, foi-lhe cortada a palavra. “O senhor presidente não está acima da lei embora pense que esteja”, afirmou a presidente da Junta de Vilela antes de deixar o púlpito.