Confrontado com o facto de a viatura médica de emergência e reanimação do Vale do Sousa (VMER) servir cerca de 500 mil habitantes, quando a média nacional é de menos de metade, o presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), reconheceu que os rácios “são obviamente desfavoráveis” quando se olha apenas à VMER. Mas, salientou, “a resposta do sistema integrado de emergência médica é robusta e que depende não apenas das VMER, mas de outros meios, como os helicópteros e as SIV que têm um papel importantíssimo na prestação de cuidados diferenciados”.

“Não quero fugir às evidências”, sustentou Luís Meira, esta manhã, na Comissão da Saúde, na Assembleia da República, onde foi chamado pelo PSD para responder à necessidade de uma segunda VMER na região do Tâmega e Sousa, que tem vindo a ser reivindicada.

“Se se justifica a criação de uma VMER nesta região? Os números obviamente não podem ser desmentidos”, apontou, garantindo, no entanto, que há capacidade de socorro e que são accionados os meios “os mais adequados tendo em atenção a localização da ocorrência e a disponibilidade em tempo útil de meios diferenciados”. “Se me perguntarem: se houver mais uma VMER nesta região será mais fácil gerir as situações? Claro que sim. Eu diria se houver mais duas ou três VMER em Lisboa, mais duas ou três no Porto e mais uma VMER em muitas outras regiões, não apenas nesta, ficaríamos com mais capacidade de resposta”, disse o presidente do INEM aos deputados Pedro Melo Lopes, do PSD, Sofia Andrade, do PS, Pedro Frazão, do Chega, Joana Cordeiro, da IL, e João Dias, do PCP, que colocaram várias questões.  

Mas, avisou, mesmo que houvesse “uma segunda ou terceira VMER na região”, poderiam estar ocupadas e ser necessário encaminhar outra da rede, sendo essa a grande mais-valia do sistema. “Os meios serão sempre finitos”, sentenciou.

“A VMER do Vale do Sousa tem-se mostrado insuficiente”, servindo 12 concelhos e mais de 2000 quilómetros quadrados, em grande parte em território com estradas municipais e irregulares, o que tem levado autarcas e deputados e defender uma nova viatura em Amarante, lembrou Pedro Melo Lopes. “A proposta da rede de urgência de 2007 preconizava a existência de uma VMER por cada 250 mil habitantes”, sendo que esta serve cerca de 500 mil, ficando a distâncias de 50 minutos de alguns concelhos, como Baião, Resende ou Celorico de Basto, afirmou ainda, acrescentando que, muitas vezes, têm de vir outras VMER socorrer casos da região, demorando também dezenas de minutos a chegar. “Sente que a resposta nesta região está diminuída?”, perguntou ao presidente do INEM.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Luís Meira, que recordou que mora em Paços de Ferreira e conhece bem a realidade e características da região, foi peremptório: “Não sinto que a resposta está diminuída na região do Tâmega e Sousa”.

De seguida salientou que o sistema integrado de emergência médica funciona em rede e numa lógica de complementaridade, “permitindo dar resposta à maioria das situações”. “Não é possível garantir um médico, um enfermeiro, uma ambulância, uma VMER ou outro tipo de meios para cada ocorrência. Tentamos fazer com que os buracos que fazem parte desta rede sejam o menor possível”, sustentou o responsável pelo INEM.

“Colocando a questão noutros termos. Se a resposta pode ser melhorada, claro que sim, é para isso que trabalhamos. Em abstracto, na resposta a qualquer situação de emergência, quanto mais meios existirem mais facilitada será a resposta e mais eficaz”, confirmou.

O que está determinado é que as VMER devem ser criadas em serviços de urgência médico-cirurgicos ou polivalentes – o Hospital de Amarante é um serviço de urgência básica -, mas Luís Meira diz que “podem haver excepções desde que validadas pela tutela”.

“Neste momento a rede VMER está solidificada. Sem prejuízo de, havendo alterações dos pontos de rede, obviamente o INEM terá de acompanhar essas alterações, eventualmente criando novas VMER”, clarificou. Mas “se relativamente ao INEM será relativamente fácil criar uma nova VMER, para o Hospital, que tem de depois garantir os recursos humanos, a situação será bem mais difícil”, alertou ainda. A criação de uma nova VMER pode mesmo afectar a operacionalidade das já existentes, devido à falta de recursos humanos, que tem de ser o hospital a assegurar.

“Em certas situações gostaríamos de ter mais VMER e mais capacidade de intervenção, mas a lógica de funcionamento do sistema é robusta e coerente e permite garantir resposta para a maioria das situações”, frisou o presidente do INEM.

Hoje foram também ouvidos, a pedido da bancada do PSD, o médico de emergência médica Filipe Serralva, e a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, tendo Pedro Machado defendido uma segunda VMER para a região, dizendo que os autarcas estão alinhados neste propósito. Amanhã é ouvido o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, a pedido do PS.