Nos últimos anos, foram surgindo reivindicações de que a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) do Vale do Sousa não era suficiente para atender às necessidades de uma região com mais de 500 mil habitantes.

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), em resposta ao Verdadeiro Olhar, reconhece que, enquanto no país, em média, uma VMER serve 228.355 habitantes, a VMER do Vale do Sousa “serve uma população maior que a média nacional”, apontando para “316.300 habitantes”.

O Verdadeiro Olhar questionou os presidentes de câmara de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel sobre esta situação e também os deputados eleitos por estes concelhos à Assembleia da República, nomeadamente Cristina Mendes da Silva (Lousada), José Carlos Barbosa (Paredes) e Paulo Araújo Correia (Penafiel).

Quer o deputado, eleito pelo PS, José Carlos Barbosa, quer os autarcas de Paredes, Alexandre Almeida (PS), e de Penafiel, Antonino de Sousa (PSD/CDS-PP), defendem a necessidade de mais uma viatura para reforçar o socorro na região. Cristina Mendes da Silva (PS) diz que acredita, pelos dados recolhidos, “que há capacidade de resposta” e “que não há desfavorecimento, em detrimento do resto do país”.

“Não nos parece adequada a existência de apenas uma VMER para servir mais de 500 mil pessoas”

Foto: DR

“O Município de Penafiel tem total confiança nos profissionais de saúde que servem a região, no entanto, não nos parece adequada a existência de apenas uma VMER para servir mais de 500 mil pessoas” responde Antonino de Sousa num curto comentário. “Se à questão da população juntarmos o facto de a VMER servir vários concelhos numa área geográfica considerável e onde as vias de circulação apresentam lacunas, consideramos que uma VMER não será suficiente”, acrescenta o presidente da Câmara de Penafiel.

O autarca diz que “já manifestou não só essa preocupação como outras, junto do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa onde estão concentrados os meios de apoio e auxilio, em termos de saúde, à população, e que é a entidade que melhor pode aferir as condições que tem à disposição”.

Foto: DR

Também de forma sucinta, o presidente da Câmara de Paredes refere que uma das preocupações do seu executivo tem sido “ter uma ambulância de emergência médica em todas as corporações de bombeiros do concelho de Paredes”, o que apenas não acontece nos Bombeiros de Cete.

“A VMER é assim um complemento positivo a esta política que temos defendido. Mais uma viatura médica de emergência e reanimação é importante para reforçar o serviço na região e espero que o Ministério da Saúde tenha o mesmo entendimento”, apela Alexandre Almeida, não concretizando se já expressou essa reivindicação junto do Governo.

Nova VMER pode ser a “linha que separa a vida e a morte”

José Carlos Barbosa, que recentemente tomou lugar de deputado à Assembleia da República, concorda que “é muito importante o serviço de socorro ser melhorado, através de mais uma VMER na região, a colocar no Hospital de Amarante”.

O socialista aponta a vasta área de actuação da viatura existente – cerca de 2000 quilómetros quadros em 12 concelhos – e os mais de 500 mil habitantes da região para defender esta ideia. “Do ponto de vista de localização, a VMER da nossa região encontra-se parqueada no Hospital Penafiel, junto aos concelhos mais urbanos (Penafiel, Paredes, Lousada, Paços de Ferreira), onde existem mais saídas devido ao maior número de habitantes, no entanto existe um conjunto de concelhos cujo tempo de socorro é elevado devido à distância a percorrer”, salienta, acrescentando ainda que esta região tem grande incidência de acidentes vasculares cerebrais e enfartes pelo que se justifica “um reforço de meios diferenciados, para redução dos tempos de resposta e prontidão”. Uma nova viatura “iria permitir uma substancial melhoria, pelas vidas salvas e melhor qualidade de vida dos sobreviventes por serem salvos com melhores meios mais cedo”, acredita.

Foto: DR

Se cada VMER serve em média 230 mil pessoas, então “para melhorar o serviço de emergência a região precisa obrigatoriamente de uma nova VMER para se aproximar da média nacional”, argumenta o deputado, realçando, ainda assim, os “importantes investimentos” que o Governo tem feito no Hospital Padre Américo e lembrando que “os meios nem sempre chegam todos ao mesmo tempo pelas especificidades existentes”. Promete levar a questão ao Governo.

“Em situações graves, a diferença entre a vida e a morte está no tempo e nos recursos (humanos e técnicos) empregues, uma nova VMER aporta valor nos tempos e meios de socorro na região, o que pode ser a linha que separa a vida e a morte”, sustenta José Carlos Barbosa.

“O carácter de igualdade e equidade está a ser cumprido na região do Tâmega e Sousa”

Já Cristina Mendes da Silva, também deputada eleita pelo PS, lembra que “Portugal tem um modelo integrado de funcionamento das VMER, que estabelece uma estrutura que trabalha em rede”. Entre as regras, cita, “oficialmente, só pode haver uma VMER a funcionar num hospital que seja dotado de um serviço de urgência polivalente de trauma, como por exemplo o Hospital de S. João ou um serviço de urgência médico cirúrgica, como é o caso do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS)”.

A socialista sustenta que o país tem uma rede de VMER que funciona de forma articulada com as ambulâncias do INEM e as corporações de Bombeiros e que “o carácter de igualdade e equidade está a ser cumprido na região do Tâmega e Sousa”. De acordo com a deputada, “a equipa de profissionais de saúde adstrita à VMER do CHTS é bastante assídua, não tendo sido verificadas situações de faltas e/ou atrasos”, “verifica-se que o hospital tem dado resposta assertiva às ocorrências, garantido o bom funcionamento da VMER” e “existe também uma ambulância extra de serviço imediato de vida (SIV) no Hospital de Amarante”.

“Finalmente, tendo em conta que as VMER podem alargar o seu raio de acção para outros territórios – em caso de necessidade, a região pode contar com uma VMER do território vizinho se a VMER do CHTS estiver ocupada – parece-me que há capacidade de resposta para a nossa região e que não há desfavorecimento, em detrimento do resto do país”, responde Cristina Mendes da Silva ao Verdadeiro Olhar.

Foto: DR

A eleita admite ainda assim que “qualquer tipo de reforço de meios é sempre bem-vindo”. Questionada sobre se vai levar este assunto ao Governo, diz que “para o cumprimento das minhas funções, é para mim crucial reivindicar tudo aquilo que se sinalizar necessário para a minha região”. “É um facto que o território é extenso, com condições rodoviárias muito diferenciadas, com muita população, em especial muitos idosos que vivem nos concelhos mais afastados do CHTS. No entanto, apraz-me dizer que na avaliação do INEM, a VMER do Sousa tem tido um bom desempenho. O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e os Agrupamentos de Centros de Saúde da região, têm feito um trabalho de articulação, no sentido do funcionamento da rede de apoio ao socorro funcionar bem no território e tudo farão para exigir mais meios se forem necessários”, acrescenta.

Mas, conclui, se a situação mudar, está disponível para reivindicar “tudo o quanto for necessário para assegurar um bom serviço da rede de viaturas médicas de emergência e reanimação”.

O Verdadeiro Olhar tentou ainda ouvir os autarcas de Lousada e Paços de Ferreira e o deputado Paulo Araújo Correia (de Penafiel) sobre este tema, mas não obteve resposta em tempo útil.