A coerência nas palavras e nos comportamentos é dos principais activos que um político pode ter. A sua importância resulta da dificuldade e complexidade de se manter dentro destes “limites” da coerência, o que o torna ao alcance de poucos, em especial pela pressão sentida na sociedade contemporânea, focada nos resultados de curto prazo!

Estes dias chegou-me ao ecrã do computador uma imagem da “cabeça de lista” às eleições europeias do Bloco de Esquerda (Marisa Matias) a afirmar que nunca o seu partido foi contra a inclusão de Portugal na Zona Euro. Apesar da sua convicção, desconfiei da afirmação (aliás, como desconfio de tudo o que a esquerda do “caviar” diz!). As redes sociais e a internet tem destas coisas: combatem ferozmente, muitas vezes de uma forma quase instantânea, a incoerência dos políticos, servindo de suporte à expressão “o algodão não engana”. E assim foi: minutos depois da Marisa ter jurado fidelidade ao Euro (para não ser confrontada com o cenário constrangedor de ser candidata ao milionário salário de Eurodeputado), surge a sua líder, Catarina, a desmenti-la, com palavras por ela proferidas no longínquo ano de 2015 (ainda em 2017 ter voltou à carga nesta cruzada de abandono da Zona Euro).

Façamos outro exercício suportado numa expressão que passei a conhecer recentemente graças à (vergonhosa) polémica de proliferação de relações familiares entre membros do Governo socialista: a endogamia política. Esta novidade no léxico político nacional mereceu o repúdio rápido e veemente do líder do Partido Social Democrata, Rui Rio. No dia seguinte, foi o Bloco de Esquerda, com o “chapéu” de opositor ao Governo do PS (que costuma suportar quanto têm o “chapéu” de membro da gerigonça na cabeça) vir a público pôr em causa este comportamento. A reacção do PS surge por um dos principais “patriarcas” socialista, Carlos César: relembrou o BE que as Mortáguas são irmãs, logo têm telhados de vidro. Já para o PSD não seguiu nenhum recado, não porque não houvesse vontade, mas porque a actual liderança do partido, ao contrário dos camaradas do BE, não tem telhados de vidro, muito menos ao nível da coerência das suas palavras e na transparência dos seus comportamentos.

Por este pequeno exemplo se mede a distância de comportamentos entre vários actores da política nacional: os que se preocupam com a “espuma” dos nossos dias, fazendo o que for necessário para se manter na “berra” e com a popularidade em alta e aqueles, que são fiéis aos seus princípios e às suas palavras.

E assim termino o meu primeiro artigo no Verdadeiro Olhar sem falar de política local! Apesar de se focar na política nacional, pareceu-me um assunto importante, sobre o qual pretendia partilhar a minha opinião com os estimados leitores. Ainda assim, não era difícil encontrar motivos na política local para suportar esta minha opinião, bastando para tal, num exercício rápido, relembrar a promessa feita em 2017 de que não haveria subida de Impostos em Paços de Ferreira desmentida com uma estonteante inversão de opinião no pós-autárquicas, ou ainda a afirmação feita com uma convicção enternecedora, com a profundidade só ao alcance de quem fala olhos-nos-olhos com os cidadãos de que no dia em que a água voltasse a subir em Paços de Ferreira se apresentaria a demissão para, no momento da efectivação da subida, assobiar para o lado e tentar responsabilizar terceiros. Mas, tal como no caso das manas Mortágua, também na nossa terra há-de chegar o momento de prestar contas. Chega sempre.