Há pouco tempo, a Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, tornou pública uma extensa investigação sobre o que leva uma pessoa a mudar de opinião. Entre as muitas conclusões desse mesmo estudo, há uma que afirma que, na verdade, temos tendência para deixar as nossas convicções de lado sempre que desempenhamos o papel do outro. Quando estamos deste lado, somos contra eles, mas quando estamos ao lado deles, somos a favor deles.

Vem isto a propósito da apresentação do projecto de Hospitalização Domiciliária do Centro Hospitalar Universitário de São João, que tem a base operacional no Hospital de Valongo. Na verdade, é um gabinete onde um médico e dois enfermeiros têm o material necessário para acompanhar as pessoas que passarão a ser tratadas em casa, em vez de estarem internadas no hospital. Em termos de valências do hospital, não acrescenta nada, pois é apenas uma base para a equipa que vai fazer acompanhamento ao domicílio.

A apresentação deste projecto foi feita com pompa e circunstância, com o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, a mostrar o seu agrado por receber esta base logística no hospital local. O mesmo José Manuel Ribeiro que, quando era líder da oposição, convocou uma manifestação, com muitos cartazes e palavras de ordem, contra o encerramento do serviço de urgência daquele hospital. E que, mais tarde, já na qualidade de presidente da autarquia e no final do mandato do Governo de Pedro Passos Coelho, considerou a decisão de fechar a urgência do hospital como um “atentado contra o acesso aos cuidados de saúde” que ia “prejudicar mais de metade da população do concelho”.

Nessa mesma altura, José Manuel Ribeiro, lançando pânico sobre a população, participou numa vigília nocturna em defesa do serviço de urgência básica do Hospital de Valongo, mostrando o seu “desagrado pela forma como o Governo [PSD/CDS-PP] conduziu o processo”, enquanto o Governo anunciava a instalação no hospital de um centro de hemodiálise público e a dotação de consultas de especialidade, como Medicina Interna, Cirurgia Geral, Ortopedia, Anestesiologia, Cirurgia Vascular, Cirurgia Plástica, Dermatologia, Endocrinologia, Gastrenterologia, Urologia, Pediatria e Nutrição.

Entretanto, o Governo mudou e nunca mais houve manifestações nem o departamento de hemodiálise e grande parte dos serviços anunciados foram concretizados. Passaram quase quatro anos e nunca mais ninguém falou do assunto.

Na semana passada, José Manuel Ribeiro participou na cerimónia de apresentação do projecto de Hospitalização Domiciliária, ao lado da Secretária de Estado da Saúde. Mas, sorridente, não perguntou à governante por que razão não tinham sido disponibilizadas as valências prometidas.

Quando era líder da oposição, numa declaração ao VERDADEIRO OLHAR, José Manuel Ribeiro acusou o então presidente da Câmara do PSD de estar “mais preocupado em defender o Ministério da Saúde do Governo do seu partido do que a população do seu concelho”.  Ora, isto lembra-me uma frase do grande economista inglês John Maynard Keynes: “Quando os factos mudam, meu caro, eu mudo de ideias”.