Francisco Coelho da RochaHá uns dias li uma notícia sobre a falta de cuidados paliativos em Portugal. Ao que parece, existem pouco mais de 350 camas para um universo de quase 70 mil pessoas que necessitam desses cuidados de saúde.

Afinal, o que são os cuidados paliativos? Às vezes confundem-se cuidados continuados com cuidados paliativos. Os primeiros destinam-se a doentes em recuperação e que vão para uma instituição hospitalar, ficando a receber os cuidados necessários até terem condições para ir trabalhar. Os cuidados paliativos são totalmente diferentes. É o apoio médico feito a uma pessoa que vai morrer num curto espaço de tempo, em que todas as intervenções com a finalidade curativa da doença principal estão excluídas, dando-lhe todo o conforto necessário até ao momento da morte. É tudo o que possa ajudar essa pessoa a viver bem até ao momento da morte.

Em Portugal, existem apenas três unidades específicas de cuidados paliativos: o Instituto de Oncologia do Porto, o Instituto de Oncologia de Coimbra e a Misericórdia da Amadora. Nestas três unidades, a família e os amigos são incentivados a participar na vida da pessoa que vai morrer, podendo estar com ela a qualquer hora, sem as burocracias dos horários hospitalares.

Há uns tempos, o Professor Daniel Serrão afirmava: “não se acelera nem se atrasa a morte, mas a dor tem que ser rigorosamente tratada, até porque hoje não há justificação para que haja dor, não há dores que não sejam tratáveis”. A unidade de cuidados paliativos trata essa dor, mas não extrai a pessoa do mundo, permitindo-lhe manter o contacto com as pessoas que fazem parte do seu dia-a-dia.

Em vez de lutar pela eutanásia, devemos exigir ter uma rede de cuidados paliativos a funcionar em Portugal. Devemos exigir que não hajam doentes maltratados, abandonados e que têm dores que ninguém trata. Só o bom cuidado paliativo torna legítima e moralmente aceitável a recusa da eutanásia. Em vez de lutarem pela eutanásia devem lutar pelos cuidados paliativos. Isso sim, é morrer de forma digna.