O 13 de Maio é para muitos portugueses o dia maior da sua religiosidade e são vários os crentes que, de forma individual ou organizada, se fazem à estrada em direcção ao Santuário de Fátima, num ritual revestido de fé, mas também de dor, sofrimento e esperança.

No Vale do Sousa, mais concretamente no concelho de Paredes, a Obra de Caridade ao Doente e ao Paralítico (OCDP Paredes), o Rancho Regional de Paredes e a Associação Nossa Senhora dos Remédios – Obra de Bem Fazer, organizam grupos de peregrinos que todos os anos percorrem os caminhos da fé até ao Santuário de Fátima, num trajecto de várias centenas de quilómetros.

Só de Paredes, apoiados por estas três instituições, são mais de mil os peregrinos que estão na estrada e que são coadjuvados por centenas de voluntários que prestam apoio logístico e servem refeições, entre outras tarefas.

“Há cada vez mais jovens a integrar o grupo da OCDP Paredes, com idades entre os 20 a 25 anos”

Ao Verdadeiro Olhar, o Padre Feliciano Garcês, da OCDP Paredes, um dos três párocos que integra a comitiva de 421 peregrinos que saíram no dia 6 de Maio de Paredes, assume que apesar dos muitos quilómetros que separam Paredes do Santuário, do calor que se fez sentir nos primeiros dias e das bolhas, são cada vez mais os que integram o  grupo.

“Este ano somos mais de 400 peregrinos e cerca de 100 voluntários. Depois há os familiares e os companheiros de alguns familiares que se juntam ao grupo ou até que fazem algumas etapas”, disse, salientando existir cada vez mais jovens a percorrer os caminhos da fé até ao Santuário.

“Verifico que a faixa etária das pessoas que fazem este percurso tem vindo a baixar. Há cada vez mais jovens a integrar o grupo da OCDP, com idades entre os 20 a 25 anos”, disse, sustentando que para além do fenómeno do centenário das Aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos, os jovens fazem a peregrinação até ao Santuário pelo sentido da mesma e não tanto para pagar promessas.

“Essa ideia de que os peregrinos vão a Fátima para pagar ou cumprir promessas está a desaparecer. Há muitos peregrinos que o fazem, mas noto que há uma faixa que vai pelo sentido da religiosidade e pelo itinerário espiritual que a OCDP Paredes consegue proporcionar, isto é, todos os dias, no final de cada etapa, celebramos uma missa. Há uma sequência nas coisas e os jovens procuram coisas com sentido”, expressou, frisando que o facto de o grupo integrar, também, três padres confere à peregrinação uma dimensão diferente das de outras que se fazem por Portugal fora.

“Prestamos aconselhamento espiritual e até psicológico, estamos permanentemente em contacto com as pessoas durante as etapas e às vezes até ao final do dia, após a celebração da missa, que está sempre repleta de peregrinos, reconfortando as pessoas. Às vezes são os próprios peregrinos que nos procuram e deixando uma palavra de alento e determinação”, afirmou.

Quanto aos colegas padres que com ele fazem a peregrinação, Feliciano Garcês assumiu que tanto o padre Paulo como o padre de Cavalhido, do Porto, contribuem para fazer desta peregrinação uma das mais procuradas pelos peregrinos, “caminhando sempre, com o passo largo, ao lado dos seus peregrinos, com o seu sorriso e simpatia e sempre com uma palavra de alento, incentivo e esperança, em especial aos que caminham com mais sacrifício desânimo e dificuldade”.

“Não há duas peregrinações iguais. Mesmo para os mais experientes e repetentes como eu. Há sempre coisas novas a descobrir. Quem faz este peregrinação descobre vivências diferentes”, anuiu.

“Estamos a falar de uma logística imensa que envolve distribuir todos os dias 600 refeições, 600 pequenos almoços, distribuir 600 sacos cama de forma a que os peregrinos quando chegam possam descansar e descomprimir”

Na estrada, o Padre Feliciano Garcês manifestou que apesar da dureza do trajecto, do clima e da fadiga, o espírito de entre-ajuda é uma constante e ninguém fica para trás.

“Costumo dizer que os quilómetros mais fáceis são os que já estão feitos e os mais difíceis os que faltam fazer”, avançou, realçando o trabalho dos voluntários que acompanham diariamente os peregrinos que estão na estrada e que se traduz na assistência às refeições e em outras  actividades.

“Estamos a falar de uma logística imensa que envolve distribuir todos os dias 600 refeições, 600 pequenos almoços, distribuir 600 sacos cama de forma a que os peregrinos quando chegam possam descansar e descomprimir. Dispomos de serviço de enfermagem para tratar das bolhas e de outras situações relacionadas com a fadiga e prestamos apoio, também, a outros peregrinos de outros grupos que nos procuram”, assegurou.

No que toca à logística, o Padre Feliciano Garcês ressalvou, também, que o grupo da OCDP Paredes conta o apoio do “senhor Pinto”, sempre incansável, amigo, atento para que nada falhe e falte aos peregrinos e do “amigo Freire” e de outros elementos responsáveis pela preparação das refeições.

“É verdadeiramente notável como está tudo montando e apesar do grande número de peregrinos a máquina está montada e nada é deixado ao acaso”, asseverou, recordando que todos os dias na estrada a OCDP Paredes tem 45 viaturas.

“Limitamos as inscrições por uma questão de dignidade dos peregrinos”

O vice-presidente do Rancho Regional de Paredes, Augusto Moreira, um dos responsáveis pela peregrinação ao Santuário a Fátima que se realiza há cinco anos e cujo grupo integra 175 peregrinos, afirmou que a organização este ano optou por limitar o número de inscrições, deixando de fora mais de 200 peregrinos.

“Por uma questão de dignidade até dos próprios peregrinos, optamos por limitar as inscrições e acabamos por ter de não aceitar centenas de inscrições. Fizemo-lo por uma questão de dignidade do próprio grupo e por uma questão de logística”, disse.

O Rancho Regional de Paredes organiza, anualmente, uma peregrinação a Fátima fornecendo refeições, dormidas e apoio médico.

Augusto Moreira revelou, também, que o calor que se sentir  nos primeiros dias dificultou o andamento dos peregrinos nos primeiros quilómetros. “Apesar de tudo, o grupo está coeso, num bom ritmo e prevemos chegar dentro do prazo estimado ao Santuário de Fátima”, confessou, sustentando que a acompanhar o grupo de peregrinos segue também uma bateria de voluntários, constituída por 45 pessoas, entre eles enfermeiros, quatro carros de apoio que fornecem água, prepara as refeições, monta as barracas e presta, também, auxílio aos familiares e amigos dos peregrinos que se têm juntado ao grupo.

“Só em refeições são mais de 500 diariamente”, sublinhou.

Questionado sobre o que é que faz com que as pessoas percorrem todos os anos o caminho da fé até ao Santuário de Fátima, Augusto Moreira esclareceu que além da espiritualidade de cada um, os peregrinos têm uma grande admiração pela Nossa Senhora de Fátima.

“Sou católico, crente e acredito que alguém nos atendeu e ajudou em determinado momento da nossa vida. Existe entre os peregrinos a certeza de que alguém está ao seu lado”, confirmou.

“Sei o que custa fazer este trajecto, além do desgaste físico, há a fadiga e por vezes temos de ser solidários uns com os outros e deixar uma palavra de conforto”

O tesoureiro da Associação Nossa Senhora dos Remédios (Obra de Bem Fazer), Luís Almeida, um dos responsáveis pela peregrinação do grupo a Fátima que integra 478 peregrinos  e 140 voluntários, revelou que há 26 anos que a associação percorre os caminhos da fé.

“Além do apoio da equipa de enfermagem, contamos com o apoio de massagistas,  voluntários, que prestam apoio nas refeições e elementos que se dedicam a outras actividades”, concretizou, ressalvando que diariamente são servidas 1250 refeições aos peregrinos e que englobam, também, familiares dos peregrinos que se juntam ao grupo.

Luís Almeida manifestou que começou a percorrer os caminhos da fé até ao Santuário de Fátima em 1992, mas presentemente além das funções que tem na Obra do Bem Fazer é um voluntário que acompanha de carro os peregrinos sendo, também, responsável pelas compras.

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“Sei o que custa fazer este trajecto, além do desgaste físico, há a fadiga e por vezes temos de ser solidários uns com os outros e deixar uma palavra de conforto. Procuro transmitir a minha experiência e acima de tudo ser útil”, declarou, esclarecendo que muitos peregrinos que saem de Paredes e de outros concelhos optam por escolher a Obra do Bem Fazer porque são efectivamente “bem tratados” e a organização está devidamente oleada.

“Abrimos as inscrições no dia 5/6 de Janeiro e no dia 20 do mesmo mês já não tínhamos capacidade Para aceitar mais inscrições”, afiançou.