A festa da Bugiada e Mouriscada poderá estar inscrita na lista do Inventário Nacional de Partimónio Cultural Imaterial dentro de um ano. O processo, fundamental para que a festa se possa posicionar para outras candidaturas, nomeadamente à Unesco, “é complexo” e implica também consulta pública. Estas explicações foram dadas numa sessão pública em Sobrado, terça-feira, pela equipa de investigadores da Universidade do Minho responsáveis pela realização de um estudo científico da Bugiada e Mouriscada.

Foto: I.R.M./Verdadeiro Olhar
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O protocolo de cooperação interinstitucional com o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, tendo como parceiros a Câmara de Valongo, a Junta de Freguesia de Campo e Sobrado e a Associação da Casa do Bugio, com o objectivo de estudar e documentar a festa foi assinado em Novembro de 2015. Até agora, explicou Rita Ribeiro, investigadora da Universidade do Minho e responsável pelo estudo, já foi recolhida muita informação, “apesar de não ser um trabalho muito visível”. “É uma festa muito complexa, que exige um trabalho sólido, sério e honesto”. Do já realizado, Rita Ribeiro destacou o “aspecto mais importante” que se traduz no trabalho de campo que tem sido feito em Sobrado por Maria João Nunes, antropóloga bolseira da Universidade do Minho que tem estado a residir na freguesia desde Fevereiro. Até agora, acrescentou, existe o registo audiovisual completo das festas de 2015 e 2016 que será usado para fazer um vídeo e reunir material para um documentário.

Foto: I.R.M./Verdadeiro Olhar
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Antropóloga está alojada em Sobrado e já realizou 72 entrevistas

Maria João Nunes chegou a Sobrado em Fevereiro e optou por aí residir para poder conhecer a fundo o quotidiano dos sobradenses, as suas rotinas e toda a preparação anual para o dia 24 de Junho, dia da Festa de S. João de Sobrado, com a ancestral Bugiada e Mouriscada. O trabalho intensificou-se, contou, a dois meses da festa que, confessou, desconhecia. “Estar presente no terreno é essencial”, explicou, acrescentando que realizou já 72 entrevistas gravadas com mulheres bugios, reimoeiros, velhos, padre da freguesia, presidente da câmara, entre outros. O objectivo é simples e prende-se com a compreensão da festa. Para o trabalho estar concretizado falta ainda prosseguir com as entrevistas, realizar depoimentos filmados que poderão depois ser usados num documentário, bem como o registo fotográfico de objectos associados à festa e prosseguir com a colaboração com o Agrupamento de Escolas de Valongo, formando grupos de trabalho que envolvam as crianças do pré-escolar até ao secundário. Na opinião de Maria João Nunes seria igualmente importante uma maior dinamização do Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada através da rede de agentes locais.

Foto: I.R.M./Verdadeiro Olhar
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Inscrição é processo complexo e envolve consulta pública

Com a certeza de que o objectivo é “ir o mais longe possível” na investigação da festa, Rita Ribeiro afirmou que o trabalho de campo vai prosseguir, continuando com o trabalho etnográfico, com o registo audiovisual de depoimentos, bem como com a pesquisa documental em arquivos e bibliotecas. Consciente do “trabalho árduo” que tem pela frente, “o compromisso da equipa é fazer o pedido de inscrição da festa no Inventário nacional de Património Cultural Imaterial”, disse, sublinhando que se trata de “um processo complexo e que envolve consulta pública”. Segundo a investigadora, este é um processo que, depois de dar entrada o pedido, geralmente demora seis meses a ter uma deliberação. A elaboração do pedido é também complexo e exige uma “descrição minuciosa e exaustiva da festa”, à qual será dado corpo através da ficha de inscrição no inventário. Desta feita, pode-se concluir que este processo deverá estar concluído dentro de um ano, como salientou o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, no final da sessão de apresentação dos trabalhos realizados. Rita Ribeiro deixou bem claro que este passo é a prioridade da primeira fase do protocolo assinado, mas também inevitável, devido a legislação recente, para que a festa possa ser candidatada por exemplo a Património da Humanidade da Unesco.

Foto: I.R.M./Verdadeiro Olhar
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