“Com este PS em Paços de Ferreira anúncio publicamente que não voltarei a ser candidato à câmara municipal”, escreveu Humberto Brito, presidente da autarquia, ontem, na sua página pessoal da rede social Facebook.

As declarações surgem depois de o seu nome, como recandidato do Partido Socialista à Câmara de Paços de Ferreira a um terceiro mandato, ter sido ratificado em Comissão Política Distrital do Partido Socialista do Porto, realizada em Penafiel, na sexta-feira.

Em causa estarão desentendimentos com a comissão política concelhia. Humberto Brito reagia a declarações da presidente do PS Paços de Ferreira, Armanda Fernandez, que a um jornal local afirmou que a estrutura apoia Humberto Brito como candidato, mas com algumas condições.

“O que me fez entrar na política foi combater os interesses instalados, as negociatas, os favores, os esquemas, os lugares, os tachos! Assim, continuarei a combater todos aqueles que querem servir-se do PS para voltar a um passado que combati! Defendo valores e princípios e não cedo à chantagem dos lugares/tachos!”, escreveu, ontem, o presidente da Câmara. “A reposta é não! Não aos interesses, às negociatas! Jamais! E sei que o povo está e estará sempre comigo! E podem tentar denegrir-me por todos os meios! Com as calúnias e os boatos de sempre! Recorrendo ao mais vil e abjecto! Mas nunca, nunca, nunca cederei! Nunca perderei a honra de tudo o quanto o meu pai me ensinou apenas para me manter no lugar!”, acrescentou Humberto Brito, deixando de seguida uma garantia: “Respeitarei sempre as mais de 21 mil pessoas que confiaram em mim! Assim, com este PS em Paços de Ferreira anúncio publicamente que não voltarei a ser candidato a câmara municipal! Na política como na vida, não vale tudo! E para mim há valores maiores!”.

Distrital quer promover a concórdia, mas salienta que candidato está escolhido

Questionado pelo Verdadeiro Olhar, Manuel Pizarro, presidente da Federação Distrital do PS Porto, disse acreditar que é possível “promover a concórdia”.

O nome de Humberto Brito para Paços de Ferreira, confirmou, foi ratificado por “unanimidade” na reunião da comissão distrital do PS Porto, numa votação em conjunto de 15 dos 18 candidatos do distrito, vários da região já conhecidos, como Pedro Machado, em Lousada, Paulo Araújo Correia, em Penafiel, José Manuel Ribeiro, em Valongo, ou Alexandre Almeida em Paredes. “Não houve ninguém que manifestasse vontade de que fossem votados em separado”, esclareceu.

Manuel Pizarro salientou ainda que esta votação foi a ratificação das propostas das concelhias. “Humberto Brito foi votado como candidato à câmara porque foi proposto pela comissão política concelhia de Paços de Ferreira onde foi aprovado, não por unanimidade, mas com uma abstenção, em Janeiro”, lembra o líder da Federação Distrital.

Quanto a uma declaração de voto feita pela presidente da concelhia nessa reunião, Manuel Pizarro refere que “foi no sentido de que teria de haver diálogo entre o candidato e a concelhia e de que teria de haver alguns lugares nas listas”. “Não me parece que seja nada de transcendente nem de irresolúvel”, argumenta.

A garantia é só uma: “Do ponto de vista da Federação Distrital, embora ainda haja muito trabalho a fazer, o assunto em Paços de Ferreira está resolvido. O candidato do PS chama-se Humberto Brito e é evidente que o presidente da Câmara tem um papel central na liderança do processo autárquico local”, sustentou o presidente da Federação.

Deixou, no entanto, um alerta. O autarca “não está dispensado de dialogar”. “Nem ele nem ninguém, vivemos numa sociedade democrática baseada no diálogo. Mas também não há nenhuma dúvida que, sendo ele o candidato, é ele que lidera o processo”, clarificou.

Manuel Pizarro confirmou que a distrital já tem vindo a intervir no processo em Paços de Ferreira e garante que não poupará “esforços para procurar um caminho de consenso, mas também de firmeza, na afirmação de que há um candidato democraticamente escolhido e que tem um papel central no processo eleitoral”.

“Não estamos em guerra, somos do mesmo partido e ele continua a ser o candidato se o entender”

Contactada, Armanda Fernandez, presidente do PS Paços de Ferreira, garante que este tema não é novidade e que não entende esta declaração do autarca.

“O assunto está na Federação há muito tempo. O nosso candidato já tinha sido ratificado em comissão política, é Humberto Brito. A declaração que fiz na reunião da comissão política distrital foi precisamente essa, que é o nosso candidato, mas que havia condições que a comissão política colocava e que eram do conhecimento da Federação e que estávamos em negociações”, explica. As condições não as torna públicas porque estão ainda em negociação e são do foro interno do partido. “Não é nada de transcendente”, garante.

Acusa no entanto o edil pacense de “falta de diálogo” com a comissão política, um problema que se tem arrastado. “Não é por minha vontade. Já tentei o diálogo muitas vezes. Há uma ruptura que não chega a ser ruptura. Quando não há diálogo não pode haver imposições nem cedências”, salienta.

Armanda Fernandez garante ainda que “não há nenhuma luta de poder nem razões para esta declaração efusiva”, cabendo à Federação encontrar consensos. “Não estamos em guerra, somos do mesmo partido e ele continua a ser o nosso candidato se o entender”, clarifica.

A presidente do PS de Paços de Ferreira lembra ainda que em qualquer partido “as comissões políticas são ouvidas”. “Ele tem a legitimidade de escolher as pessoas que quer, mas tem que entrar em consenso com o partido e a Federação. Não pode haver um quero, posso e mando, tem de haver um equilíbrio. Tem de se sentar comigo e com a comissão política e dialogar”, defende, concordando com Manuel Pizarro.

Vereador do PS fala em “fraca liderança partidária, incapaz de reunir consensos e ávida de poder”

Também nas redes sociais, Júlio Morais, vereador no executivo liderado por Humberto Brito, veio a público expressar solidariedade com o autarca. “É uma perda para o Partido Socialista de Paços de Ferreira, perda causada por uma fraca liderança partidária, incapaz de reunir consensos e ávida de poder”, comenta. “Como socialista genuíno, continuarei a defender os supremos ideais socialistas, que esta concelhia não persegue, nem representa, de facto, a maioria dos militantes, restando-me colocar inteiramente ao lado das opções tomadas por Humberto Brito”, afirmou Júlio Morais, dizendo acreditar que os “órgãos superiores do Partido Socialista saberão estar à altura de demover o presidente Humberto desta intenção, fazendo o que já há muito deveria ter feito: colocar ordem numa casa que está sem rei nem roque”. “Caso contrário em lugar próprio renunciarei à militância do partido que represento”, avisa.

O socialista acrescenta que “a não recandidatura de Humberto Brito ao último mandato terá consequências nefastas para a nossa comunidade”.

“É chegada a hora de mobilizarmos todos os nossos concidadãos, para salvaguardamos o futuro do concelho, que no passado recente conduziu o Município à bancarrota e ao clientelismo. Está na hora de sairmos para a rua, mobilizando os cidadãos anónimos que conhecem Humberto Brito, a sua coragem e a sua competência!”, defende.

Os desentendimentos entre a comissão política e o autarca pacense não são novos. Ainda recentemente, a apresentação de uma candidata à Junta de Paços de Ferreira por Humberto Brito gerou polémica.

 

* Actualização às 16h20 com declarações da presidente da comissão política do PS Paços de Ferreira