Por estes dias de pandemia, têm-se multiplicado por toda a região os anúncios de medidas de solidariedade e de apoio às famílias e às empresas. Muitas delas com efeitos práticos e essenciais, algumas que não passam de louváveis intenções de difícil aplicação e umas poucas que são meros números encenados para a imprensa.

Se nesta primeira fase da emergência desencadeada pela Covid-19 a preocupação está relacionada com a saúde pública, a partir de agora deveremos preocupar-nos também com as consequências económicas. Provavelmente, viveremos os tempos mais desafiantes das nossas vidas e que nos obrigarão a agir com muita racionalidade e bastante coragem para ultrapassarmos a crise económica que se seguirá à pandemia.

Com tantas empresas encerradas e outras a tentar sobreviver, tudo indica que estaremos na iminência de uma crise económica e social cuja dimensão ninguém consegue avaliar, para já. Esta crise solicitará todos os agentes económicos – as famílias, as empresas e o Estado – a trabalharem em conjunto na procura de soluções que reduzam o impacto nas pessoas. E aqui o Estado tem que dar o exemplo.

Vem isto a propósito dos dados da Direcção-Geral das Autarquias Locais que o VERDADEIRO OLHAR publicou esta semana e que referem, por exemplo, que a Câmara Municipal de Penafiel demora, em média, 278 dias – ou seja, quase um ano – a pagar uma factura aos seus fornecedores.

A ideia da Câmara Municipal de Penafiel de mandar produzir máscaras nas fábricas de confecções do concelho para as ajudar a sair do layoff é louvável, mas, na prática, a ajuda mais imediata a muitas empresas que pararam a produção porque não têm liquidez para pagar os ordenados dos trabalhadores seria pagar-lhes a tempo e horas.

Atendendo a que o último relatório do Conselho de Finanças Públicas indica que a Câmara Municipal de Penafiel deve aos seus fornecedores cerca de 9,3 milhões de euros e que o seu presidente tem afirmado reiteradamente que o Município possuiu capacidade de endividamento, não seria possível a Câmara tomar a iniciativa de ir à banca financiar-se e pagar prontamente esses mais de nove milhões de euros, injectando-os, assim, na economia local?

O respeito pelo pagamento a horas aos fornecedores é uma obrigação. Mas, neste tempo de dificuldade, para além de uma obrigação, pode ser um meio eficaz de introduzir liquidez na economia e garantir a sobrevivência de muitas empresas.