Faleceu ontem, vítima de doença, aos 75 anos, Joaquim Leão, antigo ciclista de Sobrado, vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta em 1964.

A Câmara Municipal de Valongo aprovou hoje um voto de pesar, por unanimidade, em sua homenagem. O sobradense, que se destacou como atleta do Futebol Clube do Porto, foi um “líder nato e exemplo de companheirismo”, destacou a proposta, que realçou ainda os seus feitos no ciclismo. Foi um homem que “dignificou Sobrado e o concelho de Valongo”.

O seu funeral decorre hoje pelas 16h00.

Recorde a reportagem realizada em Setembro de 2014

Joaquim Leão – Vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta em 1964

Se há quem diga que nunca se esquece como se anda de bicicleta, Joaquim Leão pode dizer que não esquecerá tão cedo a glória que a bicicleta lhe trouxe. Há 50 anos o natural de Sobrado alcançou um dos maiores feitos para um ciclista português: sagrou-se vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta e foi recebido no concelho por um mar de gente. Durante 30 anos foi seu o recorde da melhor média de velocidade da prova rainha do ciclismo português.

Com o emblema do Futebol Clube do Porto ao peito conquistou ainda outras provas e competiu inúmeras provas, em Portugal e em vários países. Este fim-de-semana, a Junta de Freguesia de Campo e Sobrado e a Câmara Municipal de Valongo homenagearam o ex-atleta.

Nasceu em Sobrado a 18 de Abril de 1943. Naqueles tempos de criança, a bicicleta era apenas um objecto de sonho. “Em pequeno brincava-se com o que havia e não havia bicicletas”, recorda. O trabalho chegou cedo, como era hábito naquela altura. Aos nove anos foi trabalhar com lavradores, depois aprendeu a arte de marceneiro.

Só por volta dos 16 anos começou a competir em provas de ciclismo. “Tinha duas bicicletas, uma para ir para o trabalho e outra para competir”, conta Joaquim Leão. Primeiro entrou em provas populares e depois em federadas. Estreou-se na Volta a Valongo e a sua boa prestação abriu-lhe portas. Despertou o interesse do Futebol Clube do Porto que havia de o chamar a integrar a equipa dos dragões pouco depois. A vida mudou. O trabalho ficou em segundo plano e o ciclismo assumiu todo o protagonismo. E pouco tempo depois já viveria só do salário de atleta.

Foi com o emblema do FCP ao peito, o seu primeiro e único clube, que conquistou várias medalhas. Participou na Volta a Portugal em Bicicleta em 1962, mas teve um problema num joelho numa das etapas e não chegou ao fim. No ano seguinte ficou entre os 10 primeiros lugares e, como diz o ditado, “à terceira é que foi de vez”. Em 1964, o ciclista de Sobrado sagrou-se campeão da Volta, com apenas 21 anos. A camisola com que venceu a prova rainha do ciclismo português está actualmente exposta no Museu do Futebol Clube do Porto.

Foi recebido em Valongo como um herói, numa altura em que a população vibrava com o ciclismo e as provas eram “mais duras”. “Naquele tempo as vitórias tinham mais valor”, acredita Joaquim Leão.

Entre as imagens que guarda na memória estão, estimadas e frequentemente lembradas, as do cortejo que o trouxe desde o alto da serra até Sobrado por entre uma multidão de gente. “Estava tudo à minha espera, um mar de gente, e até tive direito a uma coroa de flores”, conta.

“É muito bom ser lembrado”, assume

“A minha pior classificação na Volta a Portugal foi um 8.º lugar”, diz com orgulho o ex-ciclista. Enquanto esteve ao serviço dos dragões, durante 12 anos, participou em 11 edições da Volta a Portugal. Os seus resultados fizeram dele um dos ícones azuis e brancos do ciclismo dos anos 60.

Foi campeão nacional por seis vezes e campeão de rampa por duas vezes. Participou na Volta à França do Futuro; na Volta à Suíça; na Volta ao Brasil; e três vezes na Volta à Espanha (duas delas pela selecção portuguesa). Integrou a equipa da selecção que esteve no Mundial de Estrada em 1965 e 1966. E, em 1966, venceu uma das provas mais importantes da altura, a Porto-Lisboa.

Chegou a ganhar “cinco contos” (cerca de 25 euros) por mês. “Naquele tempo era o ordenado de um ministro e depois ainda recebíamos mais cerca de 25 contos por fora”, dá como exemplo. Nunca quis deixar o seu clube, tendo recusado vários convites. Acabou por abandonar a competição em 1971 e foi treinar as camadas jovens dos dragões.

Quando abandonou de vez o ciclismo, há cerca de 40 anos, voltou à vida em Sobrado, assumindo a “Casa Leão”, estabelecimento comercial que já foi restaurante e que hoje é qualquer coisa entre a mercearia e o café. “Eu tinha sete anos quando o senhor ganhou a Volta tio Quim”, diz um cliente enquanto conversamos. “Oh senhor Joaquim, foi o senhor que ganhou aquelas medalhas da Junta e da Câmara. Está todo babado”, brinca outro, enquanto o ex-ciclista serve um café ou regista um euromilhões. Os seus dias fazem-se dessas boas recordações. “Vem cá muita gente que ainda se lembra da minha vitória”, salienta. Por isso, não esconde a satisfação de ter sido homenageado, pela Junta de Freguesia e pela Câmara Municipal, no domingo. “Gostei muito. E não é todos os dias que se recebe uma coisa destas ainda em vida”, comenta Joaquim Leão, que já tinha uma estátua na freguesia e se sente reconhecido pela sua terra.

“É muito bom ser lembrado”, assume o ex-atleta que foi o primeiro de três ciclistas de Sobrado a vencer a Volta a Portugal em Bicicleta – os outros são Fernando Moreira e Nuno Ribeiro.

 

Manteve a melhor média de velocidade da Volta por 30 anos

Em 1964, Joaquim Leão ganhou a Volta a Portugal em Bicicleta e a sua equipa do coração, o FCP, venceu também colectivamente.

Na prova participaram 103 ciclistas, mas só 60 chegaram ao fim das 20 etapas que os levaram a percorrer quase 2.400 quilómetros. Nessa Volta, a média de velocidade imposta pelo sobradense foi de 39,4 quilómetros por hora. O ciclista manteve-se por 30 anos com o recordista da melhor média de velocidade numa Volta a Portugal. A marca foi batida em 1995, por Orlando Rodrigues.