No final de Março, escrevi sobre o que se ia falando nos bastidores políticos sobre a constituição das listas de deputados à Assembleia da República, para as eleições que vão decorrer no dia 6 de Outubro. Escrevi sobre a importância de assegurar a representação da região, de forma a conseguir uma proporcionalidade inter-regional mais justa, quer pelo número de deputados a incluir nas listas em lugares elegíveis, quer pela qualidade dos nomes propostos. Agora que os nomes indicados começam a ser conhecidos, importa tentar interpretar algumas das escolhas das concelhias.

Comecemos pelas escolhas mais polémicas do PSD.

Em Paredes, conscientes de que não terão qualquer nome em lugar elegível, a escolha do nome a indicar terá tido como critério ser aquele que se perfila para ser o próximo candidato à câmara municipal. Se o PSD vencer nas eleições de Outubro, o candidato tentará tirar dividendos; se perder, a culpa é de Rui Rio. A escolha caiu em Ricardo Sousa, o actual presidente da Comissão Política Concelhia. Se foi esta o razão, Alexandre Almeida deverá estar muito feliz com a escolha.

Bem mais agitado foi o processo em Paços de Ferreira, com Joaquim Pinto e José Manuel Soares a lutarem por um hipotético lugar a deputado. Este processo serviu para pôr a nu uma paz podre no PSD da Capital do Móvel, com José Manuel Soares a lançar duras críticas à Comissão Política Distrital e, pelo meio, umas bicadas a Joaquim Pinto.

Em Valongo, a escolha do nome a indicar foi pacífico, mas não deve ter qualquer efeito prático. Trindade Vale, a presidente da comissão política, indicou o seu genro e ainda deputado Miguel Santos. No entanto, o deputado foi director de campanha de Santana Lopes na eleição que este disputou contra Rui Rio e, desde então, está em rota de colisão com o presidente do PSD.

Quanto ao PS, os nomes ainda não são oficialmente conhecidos, mas há três situações que merecem destaque.

Em Lousada, Santalha, o presidente da comissão política, quer indicar a vereadora Cristina Moreira. Se a vereadora chegasse a deputada, Nelson Oliveira, genro de Santalha, chegaria a vereador. Tudo isto seria perfeito, não fosse Cristina Moreira saber do seu peso no PS de Lousada e a notoriedade junto da população e que, se não houver contratempos, será a mais do que natural sucessora do presidente Pedro Machado.

Por Penafiel, Nuno Araújo pretende indicar o nome de Fernando Malheiro, para evitar que o seu adversário interno André Ferreira, que é adjunto do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, chegue a deputado. Daqui a dias saberemos quem levou a melhor.

Quase 40 anos depois, Paredes pode voltar a ter um deputado eleito pelo Partido Socialista. José Carlos Barbosa deve ir em lugar elegível. A seu favor terá duas situações de peso: primeiro, porque deverá contar com o aval dos presidentes de Câmara de Paredes, Paços de Ferreira e Valongo, que vêem nele a única forma da Linha do Vale do Sousa não cair no esquecimento; segundo, porque deverá contar com o apoio de algumas figuras influentes do PS, uma vez que foi um dos principais responsáveis do projecto que levará à abertura das antigas oficinas ferroviárias de Guifões.

Independentemente dos nomes escolhidos, é preciso eleger gente competente e comprometida com a região. Se assim não for, prolongar-se-á a situação de irrelevância política da região na escala nacional, com as graves consequências que têm vindo a sentir na vida de todos os dias de quem aqui mora.