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Enquanto escrevo o editorial desta semana, tenho a televisão da minha sala de trabalho sintonizada num canal de notícias onde se discute quem será o próximo Primeiro-Ministro. Confesso que na noite das eleições tudo isto parecia-me relativamente simples: ganhou a coligação de direita, seria esta a governar num contexto de maioria relativa.

Esta minha convicção não estava assente em nenhuma preferência “clubística”, mas sim em factos. Em 40 anos de democracia, houve governos minoritários e de esquerda em 22 anos. Em 1978, Mário Soares ganhou com maioria relativa e, em vez de se aliar aos comunistas, optou por um acordo com o CDS. Mário Soares voltou a fazer um acordo idêntico, desta vez com o PSD, quando em 1983 ganhou sem maioria. Em 1995 e 1999, António Guterres governou sem maioria absoluta, optando por ir fazendo acordos pontuais à direita. Em 2009, José Sócrates também venceu sem maioria absoluta e nunca tentou um acordo com os comunistas. Portanto, isto foi o comportamento durante 40 anos democracia que António Costa, em desespero, quer pôr em causa.

Mas, afinal, o Presidente da República vai indigitar como Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho ou António Costa? A resposta parece-me simples. Cavaco Silva vai convidar Passos Coelho a formar governo por um motivo simples: foi ele que ganhou as eleições. Até Domingo o novo governo vai tomar posse e passados 15 dias vai apresentá-lo no Parlamento. É aqui que se acabam as certezas.

Se António Costa tiver um acordo firmado com os comunistas do PCP e do BE que lhe permita governar num horizonte temporal razoável, vai derrubar o governo num instantinho. Se isso acontecer, e como o Parlamento não pode ser dissolvido até Abril, é provável que Cavaco Silva convide António Costa a formar governo.

Embora seja constitucionalmente legítimo que o PS forme governo juntamente com os comunistas, é moralmente e politicamente ilegal. Por isso, a estratégia de António Costa é suicida para ele e para o PS. É provável que depois de Abril o país volte a ir a votos. Nessa altura, os socialistas democráticos não irão perdoar António Costa, o eleitorado de centro, que umas vezes vota PSD outras PS, não arrisca a votar no PS e Passos Coelho fará um passeio tranquilo até ao governo.