“A deslocação do primeiro-ministro a Paços de Ferreira só pode ser entendida como um ‘puxão de orelhas’ [aos autarcas de Lousada, Paços de Ferreira e Felgueiras], que apenas peca por tardio, uma vez que esta é a região do país com mais casos por 100.000 habitantes e era público e notório, nos últimos dias, o pânico e o desnorte das autoridades sanitárias e municipais, quer pela adopção de medidas contraditórias, quer pelo discurso errante e incoerente”, sustenta um comunicado da distrital do Porto do PSD.

Em causa, a reunião de urgência realizada ontem, por António Costa, com os autarcas e autoridades de saúde locais, que os social-democratas vêm como “a prova inequívoca de uma descoordenação sem paralelo das autoridades de saúde local e da completa desorientação e inoperância dos presidentes das câmaras municipais, face ao desenrolar dos acontecimentos”.

O documento, assinado pelo presidente da distrital do PSD/Porto, Alberto Machado, salienta o aumento exponencial de casos Covid-19 na área geográfica do ACeS Tâmega III – Vale do Sousa Norte, que abrange estes concelhos, e que mostra que “o vírus está a circular na comunidade de forma descontrolada” deixando a população com “preocupação e medo” e os centros de saúde a debater-se com “dificuldades na resposta à população, quer no atendimento telefónico para marcação de consultas, quer no acompanhamento de patologias crónicas”.

Alberto Machado critica ainda as declarações do director executivo do ACeS Tâmega III, Hugo Lopes, caracterizando-as como “absolutamente irresponsáveis, sem nexo e negligentes”.

“Justificar o aparecimento de 944 casos, nos últimos sete dias, com ligações familiares, é uma justificação bizarra e, no mínimo, pouco séria, de alguém que é o responsável máximo pela gestão da situação pandémica na região e que, no meio de uma emergência, parece estar atarantado a gerir o caos. Também a falta de ação e a descoordenação dos municípios nesta matéria, face ao risco de contágio numa região fortemente industrializada, com milhares de trabalhadores, é confrangedora. Não há conhecimento de um plano de contingência articulado com o ACeS e as Associações Empresariais. Qualquer presidente de Câmara minimamente diligente teria acionado este mecanismo, senão antes, logo a seguir ao levantamento do estado de emergência”, aponta a Distrital do PSD.

Os social-democratas destacam o concelho de Paços de Ferreira, que teve um “crescimento abrupto e anormal” de casos, o 3.º maior de todo o país. “Paços de Ferreira já antes tinha sido notícia por uma situação caricata. O presidente da Câmara Municipal, Humberto Brito, responsável máximo pela Protecção Civil do concelho, foi indiciado numa investigação pelo Ministério Público, por alegado desrespeito da obrigação de isolamento, após lhe ter sido diagnosticado Covid-19”, lembra o PSD.

Em Lousada, “a Câmara Municipal também não tem tido, nem capacidade, nem iniciativa, para implementar as medidas preventivas e agilizar os procedimentos, entre entidades, perante uma situação de calamidade local verdadeiramente excepcional. Perante uma suspeita de infeção, tão depressa impõem o isolamento profilático, como logo a seguir aconselham o regresso ao trabalho, induzindo a confusão nas populações e semeando a descrença na autoridade de saúde local”, refere o comunicado, que terminava apelando ao Governo prioridade a esta região, para interromper as cadeias de transmissão e travar, de imediato, esta disseminação inusitada da Covid-19.

O Verdadeiro Olhar contactou as Câmaras de Lousada e Paços de Ferreira sobre estas criticas, assim como o ACeS em causa, mas não obteve resposta.

Entretanto, a Federação Distrital do Porto do Partido Socialista emitiu também um comunicado onde defende que “a pandemia não pode ser pretexto para ataques políticos” aos autarcas locais e aos responsáveis dos serviços de saúde e critica o “comportamento ignóbil do PSD” que “revela falta de solidariedade e de sentido de Estado”.

“Estamos a menos de um ano das eleições autárquicas e isso explica o nervosismo do PSD. Mas, neste momento particularmente difícil, a nossa principal prioridade é fazer chegar à população, aos autarcas, aos profissionais e aos responsáveis de saúde uma mensagem de solidariedade, disponibilizando todo o apoio necessário. Precisamos de todos para combater a pandemia e os seus efeitos sanitários, económicos e sociais”, sustenta a Distrital do PS Porto, que saúda a deslocação do primeiro-ministro à região e a procura de respostas para resolver a situação.

“Também por isso repudiamos a visão sectária do PSD, que faz provocações levianas que em nada ajudam ao esforço de contenção da transmissão da Covid-19. Esta pandemia atinge todos por igual. Não conhece ideologias políticas nem opções partidárias. O PS, os seus autarcas e dirigentes continuarão concentrados no trabalho em defesa de todos sem olhar à cor partidária de quem governa as autarquias”, conclui o documento enviado à comunicação social.