Pela primeira vez, PSD e CDS coligam-se para as eleições autárquicas em Paredes. Essa coligação não será “negativa”, mas quer acabar com as “mentiras” do executivo socialista, assumiram os responsáveis dos dois partidos na assinatura do acordo, realizada hoje.

A coligação será transversal a todos os órgãos autárquicos, desde as assembleias de freguesia à Assembleia Municipal e Câmara Municipal, mas ainda não é assumido o peso que o CDS terá nas listas ou se terá, por exemplo, lugar elegível na vereação.

Tanto Ricardo Sousa, presidente do PSD Paredes, como José Miguel Garcez, líder do CDS Paredes, frisaram que “o cartão partidário” não será o mais importante e que as portas estarão abertas a independentes. Serão sobretudo escolhidos os que tiverem “mais mérito” e forem “mais capazes”.

“A partir do momento em que há uma coligação não há cartão partidário, há o mérito das pessoas”

Nas eleições autárquicas de 2017, o PSD somou 18.601 votos em Paredes e o CDS 1.881 para a Câmara Municipal de Paredes. Mesmo somados, ficaram a mais de cinco mil votos de distância do PS, que venceu a eleição.

Questionados pelo Verdadeiro Olhar sobre o que faz acreditar que esta junção de forças nestas autárquicas possa levar a um resultado diferente, Ricardo Sousa salienta que vão ter “um melhor programa a apresentar aos paredenses e as pessoas mais capazes para implementar esse programa”. “Em terceiro, o que nos faz acreditar na vitória é o facto de as pessoas que ouviam falar de uma pseudo-mudança já têm a experiência do que é essa mudança”, acrescentou. Já José Miguel Garcez fala de uma postura diferente nos dois partidos. “Esta candidatura vai ter nova gente nova, pessoas que estavam na sombra e vêm para a ribalta. Novos rostos e protagonistas, mais juventude”, frisou o presidente da comissão política do CDS. Nas últimas eleições, defendeu, “houve um aumento de eleitores porque as pessoas quiseram pôr fim a um ciclo de 24 anos do PSD”. “A abstenção baixou. Com esta questão pandémica não sei se será assim”, referiu. Além disso, concordou, “as pessoas votaram e provaram, mudaram por mudar e mudaram para pior”. Outro motivo para acreditar que esta coligação vai sair vitoriosa é a análise que faz à inclinação política do concelho que, durante décadas, foi gerido primeiro por executivos CDS e depois PSD. “Paredes é um concelho tendencialmente de direita e o PSD e o CDS têm de saber dar uma alternativa a este projecto do PS”, frisou.

Ambas as estruturas partidárias dizem ter a concordância dos militantes. “O CDS pôs a questão à comissão política e foi aprovada de forma unânime, foi um processo pacífico”, disse José Miguel Garcez. Já Ricardo Sousa explicou que no PSD o acordo nacional e distrital permite às comissões políticas concelhias tomar essa decisão. “Foi esse o caminho feito para estarmos legitimados para este processo”, informou.

Nenhum dos responsáveis dos partidos quis comprometer-se com o peso que será dado ao CDS, partido que, nos últimos dois actos eleitorais autárquicos, em 2013 e 2017, reuniu apenas 3,7% dos votos, embora no passado já tenha tido lugares de vereação.

Quer Ricardo Sousa quer José Miguel Garcez sustentaram que mais que o “cartão partidário” será valorizado o mérito dos possíveis candidatos.

“A partir do momento em que há uma coligação não há cartão partidário, há o mérito das pessoas”, argumentou o líder dos social-democratas de Paredes e candidato à Câmara. Ricardo Sousa definiu este como “um momento histórico para o concelho”. “Não há discriminação em ser PSD ou CDS. A partir de hoje isso não existe nesta candidatura. Queremos deixar uma marca no concelho. As pessoas merecem mais e vão viver melhor”, afiançou.

“Isto não é uma lista de lugares, é uma candidatura que vai premiar o mérito, não se foca nos lugares, mas nas pessoas. As listas estão a ser trabalhadas, existe um acordo base que será acertado nas próximas semanas”, explicou José Miguel Garcez. “Queremos ter os melhores, os mais capazes e competentes, se o cartão estiver à frente é um problema”, defendeu Ricardo Sousa. O líder do CDS acrescentou que pode defender-se as pessoas independentemente de se estar “num lugar na vereação, na Assembleia Municipal ou nas assembleias de freguesia”.

A candidatura abre portas ainda a independentes. “Estamos disponíveis a abraçar todos. Nas nossas candidaturas estarão os melhores”, garantiram.

“Levar o concelho de Paredes à primeira divisão”

Em comum os dois partidos têm uma meta: “levar o concelho de Paredes à primeira divisão”.

“Construir um concelho melhor, com menos assimetrias entre freguesias de primeira e segunda, um concelho que se afirme a nível regional e nacional, colocar o concelho de Paredes no lugar que merece e é seu por direito e derrotar pessoas que por incapacidade ou por interesses pessoais não conseguiram afirmar-se no CDS e PSD e se refugiram na lista do PS”, premiando o mérito, a igualdade e a equidade são os objectivos do CDS.

Há plataformas de entendimento entre os dois partidos, afiançaram. Desde logo a crença de que é preciso uma solução para a Be Water diferente do resgate anunciado. “A Be Water pode ser o Novo Banco em Paredes. Perguntem ao presidente da Câmara que valor é que a Be Water já pediu”, desafiou Ricardo Sousa. “O CDS há muito que pergunta se o presidente da Câmara já recebeu o parecer da ERSAR e o que ele diz”, criticou José Miguel Garcez, dizendo que a meta é “fazer o melhor acordo possível que proteja a população de Paredes, que não permita que o preço da água suba e que melhore a qualidade de vida dos cidadãos”.

Questionados sobre o que levou a esta coligação, que dizem não ser “negativa”, ambos apontam erros ao actual presidente da Câmara. “A gestão de Alexandre Almeida tem tantos erros que nos permitiu ter uma plataforma de entendimento nas matérias estruturantes”, afirmou Ricardo Sousa. “As bandeiras usadas por Alexandre Almeida em 2017 não foram cumpridas”, entre elas baixar o preço da água, resolver problemas de saneamento ou baixar o IMI para o mínimo”, sustentou o líder do CDS, referindo que quer o CDS quer o PSD querem também uma estratégia para combater a pandemia mais “robusta”. São ainda críticos quanto à duplicação de obras praticamente com o mesmo fim, como o fórum cultural e auditório já lançados e os custos que daí advirão para o município.

Caso seja eleita, a coligação liderada por Ricardo Sousa já avançou que entre as apostas estará o apoio às famílias carenciadas e a habitação social.