Quatro atletas do Clube HPA Gym, secção de ginástica da Casa do Pessoal do Hospital Padre Américo, e a treinadora Paula Oliveira integraram a delegação portuguesa que participou nos Jogos Mundiais de Verão do Special Olympics, que se realizaram em Los Angeles, entre 25 de Julho e 2 de Agosto. Na bagagem trouxeram para a região 18 medalhas, sete delas de ouro, e muitas histórias para contar.

O “quarteto fantástico” não podia estar mais feliz com os resultados.

 

Medalhas são motivação extra

Sorrisos é com eles. E as medalhas que trazem ao peito são uma motivação extra que exibem com orgulho. Ana Rafael, Artur Silva, Hélder Moreira e Maria de Fátima Moreira conquistaram 18 das 44 medalhas que a delegação portuguesa trouxe para o país.

Ana Rafael é a mais jovem do grupo e a que conseguiu melhores resultados. Arrecadou três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze. Com resultados idênticos ficou Hélder Moreira, que conquistou também três medalhas de ouro e duas de bronze. Maria de Fátima Moreira teve o azar de, logo no primeiro dia, ter uma entorse no pé direito. Mas como competiram nos dois últimos dias dos jogos ainda teve tempo de recuperar e conseguir três medalhas, uma de ouro, uma de prata e uma de bronze. Artur Silva trouxe para casa cinco medalhas, quatro de prata e uma de bronze.

SONY DSCA ginástica artística é uma modalidade que exige o domínio de vários aparelhos. No caso das meninas, passa por exercícios de solo, trave, paralelas assimétricas e salto. Já para os rapazes são seis os exercícios, desde o solo, às argolas, barra-fixa, paralelas simétricas, cavalo com arções e saltos.

“Não estávamos à espera de ganhar tantas medalhas, eram muitos atletas, mas queríamos”, resume Ana Rafael. “As provas foram fáceis”, dizem Ana e Hélder. “Para mim foram difíceis”, assume Artur Silva. O grupo é no entanto unânime a afirmar ficou feliz em ganhar as medalhas.

Mostram-se unidos, amigos e cúmplices. Há familiares que os descrevem como o “quarteto fantástico”. Durante a conversa, fogem do tema para contar como deram comida a uma girafa, como o Artur teve medo de uma cobra ou como foi ver o Passeio das Estrelas em Hollywood. Resumem a viagem a Los Angeles em poucas palavras: “Foi bom. Passeámos, fomos à praia, dançámos, rimos, chorámos”.

Gostaram de conhecer os outros atletas ainda que a barreira da língua tenha sido difícil de ultrapassar. “Falámos com muitos brasileiros e com os ingleses a professora ajudava na tradução”, explicam.

Sonhos têm muitos, além de continuar na ginástica artística. Ana quer cuidar de crianças, Maria quer ser cabeleireira. Os rapazes sonham mais alto. Artur fala em ser bailarino e Hélder dá uns toques na bola para mostrar que pode vir a ser jogador de futebol.

SONY DSCNo ano passado já tinham conquistado 13 medalhas nos Jogos Europeus

Esta não é a primeira vez que o Clube HPA Gym participa nos jogos do Special Olympics, movimento criado há 50 anos por Eunice Kennedy para apoiar pessoas portadoras de deficiências intelectuais.

Em 2014, Ana, Artur e Maria participaram nos Jogos Europeus de Verão, realizados em Antuérpia, e conquistaram treze medalhas (cinco de ouro, cinco de prata e três de bronze). Este ano, estes atletas, aos quais se juntou Hélder Moreira, foram selecionados para integrar a delegação portuguesa que foi a Los Angeles, para representar a ginástica artística. Foram acompanhados pela técnica Paula Oliveira a uma competição que reuniu mais de sete mil atletas de 177 países, 30 mil voluntários, três mil treinadores e cerca de 500 mil espectadores. Até ao início dos Jogos ficaram em Palm Springs, onde tiveram acesso a várias actividades. Depois ficaram instalados na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), realizando as competições no ginásio da mesma universidade.

“Temos os quatro melhores atletas a nível nacional”, explica Paula Oliveira, uma das fundadoras do clube e professora de Educação Especial. “A modalidade é difícil para estes meninos. Somos um clube pioneiro nesta área. Em Portugal, há poucos inscritos nesta modalidade”, refere a ex-atleta e treinadora.

Os 138 inscritos na ginástica artística começaram por participar numa competição que os dividiu por grupos de acordo com as suas capacidades físicas e mentais. A segunda competição já permitiu uma disputa mais equilibrada. “Os resultados são sempre uma incógnita, nunca sabemos em que divisões vão ficar. Este ano competiram num nível técnico mais elevado. Tivemos uma boa prestação”, defende Paula Oliveira.

No total, a delegação portuguesa, composta por 53 atletas, competiu em nove modalidades e conquistou 44 medalhas: 14 de ouro, 18 de prata e 12 de bronze.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, já elogiou a participação de Portugal nestes Jogos Mundiais considerando o palmarés alcançado como “extraordinário”.

atletas special olimpics (3)Clube dá aulas gratuitas a estes jovens

Nestas provas, as despesas dos atletas são assumidas pela Federação de Ginástica de Portugal. Já o clube, não cobra mensalidade a estes quatro jovens que trabalham incluídos nas turmas já existentes. Os atletas integram o projecto “Ginástica Solidária”, que procura alargar a ginástica a crianças e jovens com necessidades educativas especiais.

Participar traz muitas mais-valias. “A ginástica permite um importante desenvolvimento motor e cognitivo. Trabalha o equilíbrio. E além disso é uma modalidade individual que permite a cada um trabalhar ao seu ritmo”, explica a professora. No clube, o trabalho é feito em ambiente familiar e a inclusão é objectivo primordial. “Eles não se sentem marginalizados porque trabalham com toda a gente. Os alunos são todos tratados de forma igual”, garante Paula Oliveira. Por outro lado, para estes jovens esta acaba por ser uma hipótese única para conhecer outros países e culturas.

SONY DSCGanhar medalhas, sustenta Paula Oliveira, é motivante. “Na véspera dizem sempre que é difícil, mas quando vêem os resultados já estão com vontade de trabalhar ainda mais no ano seguinte”, afirma. “E é uma grande satisfação chegar ao aeroporto e ver pessoas a bater palmas e a festejar. Não é comum. Mas nota-se que, cada vez mais, a sociedade dá valor a estas conquistas”, acrescenta a técnica.

A próxima prova internacional dos Special Olympics em que poderão participar acontece em 2017. O próximo ano será dedicado pelo clube à divulgação da modalidade, para que haja mais atletas e se consigam organizar competições nacionais.

Paula Oliveira defende que é preciso começar a estimular a prática de ginástica nas escolas para que as crianças se juntem, mais tarde, aos clubes. Para evoluir, o clube ia precisar também de melhores condições. “Penso que somos o único clube de Penafiel que paga uma renda para desenvolver a sua actividade. Trabalhamos em instalações alugadas à câmara, mas o espaço já é limitado para desenvolver a modalidade”, refere a docente.

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Os atletas medalhados 

Atletas medalhados no Special Olympics

Ana Rafael

Idade: 15 anos

Residência: Termas de São Vicente, Penafiel

Escola: EB 2,3 de Pinheiro

Medalhas: três de ouro, uma de prata e uma de bronze

 

 

Atletas medalhados no Special OlympicsArtur Silva

Idade: 25 anos

Residência: Rio de Moinhos, Penafiel

Escola: APADIMP

Medalhas: quatro de prata e uma de bronze

 

 

Atletas medalhados no Special OlympicsHélder Moreira

Idade: 22 anos

Residência: Rio de Moinhos, Penafiel

Escola: APADIMP

Medalhas: três de ouro e duas de bronze

 

 

Atletas medalhados no Special OlympicsMaria de Fátima Moreira

Idade: 16 anos

Residência: Rebordosa, Paredes

Escola: EB,3 de Rebordosa

Medalhas: uma de ouro, uma de prata e uma de bronze

 

 

O clube

O clube HPA Gym foi criado em 2008 pela mão de Paula Oliveira, Paulo Martinho e Luís Ferreira. Nasceu como secção de ginástica da Casa do Pessoal do Hospital Padre Américo. Os três professores, e antigos atletas, vieram de Paredes, da extinta Associação Juvenil Amigos 2000, e tinham um só objectivo: trazer a ginástica para Penafiel. Instalaram-se no Pavilhão de Feiras e Exposições de Penafiel e foram crescendo.

O Clube integra a Associação de Ginástica do Norte e a Federação de Ginástica de Portugal e conta actualmente com cerca de 50 alunos.

Através do projecto “Ginástica Solidária” tem vindo a dar aulas gratuitas a jovens com problemas cognitivos.