Os alunos do Conservatório de Dança do Vale do Sousa, Constança Lopes, Inês Alves e Tomás Ruão, que se notabilizaram na semi-final no Youth American Grand Prix, competição que decorreu em Itália e que contou com as melhores escolas internacionais, dizem querer continuar a trabalhar para fazerem uma carreira internacional na dança.

Ao Verdadeiro Olhar, os três jovens, com idades entre os 13 e 15 anos, confessaram que ter estado na semi-final, num dos maiores eventos internacionais da dança, permitiu-lhes ter uma noção da realidade de escolas escolas internacionais e mantê-los focados em prosseguirem com os seus objectivos.

“É bom sentir que o nosso trabalho foi reconhecido”

Tomás Ruão, de 13 anos de idade, aluno do ensino articulado que frequenta a Escola Secundária de Paredes, um dos mais premiados no  Youth American Grand Prix, que obteve o primeiro lugar na categoria júnior contemporâneo, e o segundo lugar em júnior clássico e Pas de Deux, com Inês Alves, reconheceu que singrar no mundo da dança é uma tarefa difícil e com muitos obstáculos por superar.

Fotografia: Conservatório de Dança do Vale do Sousa

“Quero seguir a dança. Sei que é uma área exigente, mas é algo que me complementa. Sei que para o conseguir o mais provável é ter de sair do país, porque em Portugal existe apenas uma companhia, mas não tem um nível alto, não tem uma escola associada e não existem muitas opções”, disse, salientando que a obtenção deste prémio foi algo de inesperado, mas que lhe poderá abrir portas para continuar a evoluir.

“Não estava nada à espera de ser premiado e obter as bolsas de estudo. Estamos a falar de uma competição que tem professores de escolas reconhecidas a nível internacional e onde estão os melhores executantes nas várias disciplinas da dança. É bom sentir que o nosso trabalho foi reconhecido”, salientou, frisando que além do primeiro lugar na categoria júnior contemporâneo, obteve várias bolsas de estudo nas conceituadas Princess Grace Academy (Mónaco), La Scala (Itália), John Cranko School (Alemanha), Berlin State Ballet School (Alemanha) e Ballet Theater Basel (Suíça).

Visivelmente agradado com a distinção, obtida em Itália, o jovem destacou que era um sonho poder estar em Nova Iorque na final do Youth American Grand Prix.

“Era um sonho que se concretizaria. Estamos a falar da final, uma competição que irá contar com os maiores executantes e cujo nível de exigência é ainda mais elevado. Do ponto de vista pessoal além do desafio seria uma forma de me valorizar e aprender com os melhores”, acrescentou.

Falando da sua ligação à dança, Tomás Ruão realçou que foi por influência da irmã, de 18 anos, que foi para o Conservatório de Dança.

“Desde muito novo que ingressei no Conservatório de Dança do Vale do Sousa, é uma instituição reconhecida na região e no país, que dispõe de excelentes professores com quem tenho aprendido e evoluído”, afiançou, salientado que além das actividades ligadas aos Conservatório, tem participado em eventos organizados pela Câmara de Paredes e ido a vários programas na televisão.

Mas o contacto com o mundo da dança não se resume ao Conservatório, Tomás Ruão confessou que já esteve num curso de ópera em Paris e que conciliar os estudos com a dança nunca foi um problema.

“Para mim nunca foi difícil conciliar os estudos com a dança. Pelo contrário, aprendi a organizar-me melhor, adquiri outras ferramentas que me permitem optimizar melhor o tempo e a obter melhores resultados. Está provado que os alunos do ensino articulado, regra geral obtêm melhores resultados”, garantiu.

“Danço desde os quatro anos e não me imagino a fazer outra coisa”

Fotografia: Conservatório de Dança do Vale do Sousa

Inês Alves, segunda classificada em “Pas de Deux”, com Tomás Ruão, mostrou-se igualmente radiante e orgulhosa pelo prémio conquistado, num dos maiores e mais disputados festivais de dança do mundo.

A aluna reconheceu que mais importante que ter participado na competição em Itália foi ter tido a oportunidade de privar com colegas de outras escolas com melhores condições e em que a dança é mais apoiada e encarada de forma diferente.

Sobre o festival internacional, Inês Alves, aluna do ensino articulado, a frequentar o 10.º ano, atalhou que a competição é, também, um veículo para os participantes encontrarem oportunidades de formação e competirem num patamar diferente.

Quanto às bolsas de estudo, Inês Alves realçou que são igualmente fundamentais uma vez que são uma oportunidade para os alunos poderem integrar escolas e instituições reconhecidas a nível internacional.

Falando do seu futuro, Inês Alves precisou que não se vê a fazer outra coisa que não seja a dança. “Danço desde os quatro anos e não me imagino a fazer outra coisa”, atalhou, assegurando que fazer carreira em Portugal nesta área é para já difícil uma vez que os apoios são escassos, as condições existentes nem sempre são as melhores e as oportunidades para singrar também são poucas.

“É impossível ficar em Portugal, não existem muitas alternativas. É fundamental fazer a formação no exterior para continuar a evoluir. Estive em Londres e em Paris a fazer um curso e a realidade destes dois países é completamente diferente”, garantiu.

“Ter estado em Itália permitiu-me abrir portas e novos horizontes”

Fotografia: Conservatório de Dança do Vale do Sousa

Já Constança Lopes, aluno do 10.º ano, também da Escola Secundária de Paredes, afirmou que ter estado em Itália  foi uma experiência nova, uma oportunidade para continuar a evoluir.

“Nunca tínhamos estado num concurso  com esta dimensão, com inúmeras escolas e bailarinos de qualidade.  Foi uma experiência diferente e apesar da pontuação de cada um, ter estado em Itália permitiu-me abrir portas e novos horizontes”, afirmou.

Tal como os seus colegas, Constança Lopes adiantou estar a ponderar deixar o Conservatório de Dança do Vale do Sousa, para onde entrou quando tinha apenas quatro anos de idade.

“Pretendo sair do país, integrar uma escola com mais nome e visibilidade de forma  a adquirir novas competências e aptidões. Em Portugal  é difícil singrar nesta área. Não existem escolas suficientes, não existem escolas ligadas a uma companhia que me permita evoluir”, anuiu, reiterando que o Conservatório tem sido determinante para a sua formação.

“É a minha casa. Há 12 anos que frequento a instituição.  Existe um bom ambiente de camaradagem, espírito de entreajuda e o corpo docente é igualmente excelente”, declarou, assumindo que a dança é uma área difícil, que exige uma entrega diária e uma disponibilidade mental e física grande.

“Treinamos seis horas por dia e à segunda-feira estamos cá o dia todo. Temos sempre actividades, fazemos  ginásio, temos Reabilitação e de Optimização de Performance”, acrescentou.

“O Conservatório está localizado  em Paredes, mas temos consciência do nosso valor, do nosso trabalho e do que se faz a nível nacional  e internacional”

Também a professora Bianca Tavares, do Conservatório de Dança do Vale do Sousa, referiu-se ao trabalho e aos prémios conquistados pelos alunos como um prémio pessoal e um reconhecimento para a escola.

“Existe sempre  desejo de dar o nosso melhor. Tínhamos expectativas que  poderíamos obter boas performances e isso confirmou-se. O Conservatório está localizado  em Paredes, mas temos consciência do nosso valor, do nosso trabalho e do que se faz a nível nacional  e internacional”, manifestou, assegurando que mais importante que as medalhas foram as bolsas de estudo atribuídas, neste caso, ao Tomás Ruão.

“Os prémios fazem jus ao trabalho que o Conservatório vem realizando. É um reconhecimento e o resultado de um conjunto de variáveis. Não é só o professor, a escola ou o aluno, são os pais, os encarregados de educação. É um prémio para todos quantos trabalham com eles”, acrescentou.

“Apesar da qualidade do nosso corpo doente, não dispomos de condições reais para proporcionar o mesmo que as escolas  internacionais proporcionam aos seus alunos”

Sobre o futuro profissional destes alunos, Bianca Tavares reconheceu que fazer dança em Portugal é algo ainda difícil.

“Apesar da qualidade do nosso corpo doente, não dispomos de condições reais para proporcionar o mesmo que as escolas internacionais proporcionam aos seus alunos. Fazemos tudo o que nos é possível até uma determinada faixa etária, mas a partir de determinada altura eles têm de sair para outras escolas para prosseguirem a sua aprendizagem”, garantiu, sublinhando que além das condições materiais e dos apoios é necessário investir para enveredar por esta área.

“Estamos a falar de um investimento significativo. A bolsa portuguesa tem de acompanhar o que se passa lá fora, pagar propinas no estrangeiro é muito complicado, é muito diferente que os custos que os alunos possam ter aqui”, recordou, confirmando que a dança é uma disciplina exigente, exige condições genéticas, uma predisposição física  e mental, psicológica elevadas.

Sobre o Conservatório de Dança do Vale do Sousa, Bianca Tavares informou que a instituição é hoje respeitada pela comunidade local, regional e nacional.

O Conservatório tem diferentes cursos a funcionar, alberga cerca de 300 alunos, tem participado em espectáculos conjuntos, em workshops, festivais, concursos, entre outras actividades.

Entre os espectáculos realizados pelo próprio Conservatório estão “O Quebra-Nozes”, “O Feiticeiro de OZ”, “Contrastes”, “Coppélia” e “Cinderella XXI”.

Além do ballet clássico, a escola ministra sapateado, hip-hop, danças clássicas, contemporâneo, jazz, entre outras modalidades.