No contexto atual e considerando a situação global, há já uma série de impactos que poderemos esperar nos próximos meses e anos. Esta é a continuação do meu artigo anterior, cuja leitura aconselho.

  • A política de imprimir dinheiros dos Bancos Centrais, os constrangimentos que já se verificam nas cadeias de produção e a procura por bens de primeira necessidade, vai levar a uma inflação galopante, muito provavelmente similar àquela que Portugal sentiu nos anos de 70 e 80, ciclo que deverá ser iniciado ainda no final deste ano. Sim, isto significa que o seu dinheiro vai valer menos…
  • Em Portugal, caso falhe a emissão dos Eurobonds, os investimentos extraordinários que estão a ser realizados e terão de ser realizados no futuro no sentido de reativar a economia, considerando a recente crise da dívida soberana (2009-2015) e o facto de ainda estarmos a pagar os apoios da Troika, levará a um aumento dos Impostos diretos e indiretos;
  • No mesmo sentido, o esforço que agora será realizado pela Segurança Social, aumento do desemprego nos próximos meses e a diminuição das contribuições, exigirá um aumento destas e, muito provavelmente, a transferência de dotações do Orçamento de Estado, o qual terá de ser retificado este ano (provavelmente mais do que uma vez);
  • Caso os constrangimentos atuais no País e na Europa se mantenham por alguns meses, vamos assistir a um forte incremento do número de insolvências. No fundo, todas as empresas que estiveram no sistema e não foram competitivas o suficiente vão morrer. E com elas, muitos empresários verão a sua vida financeira ruir mercê dos avais, hipotecas e outras garantias que deram para contrair empréstimos de apoio e/ou investimento na atividade;
  • A China emergirá desta crise na liderança mundial em termos económicos e não me admiraria se fosse secundada pela Rússia. A falta de liderança política nos EUA ditará um problema sério para os sistemas democráticos e para os equilíbrios geopolíticos;
  • É cada vez mais provável a desintegração da UE. O Brexit foi o início e, provavelmente, Itália será o próximo país a abandonar o barco. Uma UE que não tenha por base um sistema federalista nunca terá a força e a dinâmica necessárias para enfrentar os desafios que se colocam ao mundo atualmente. E esta pandemia demonstrou, num ápice, o mesmo que o problema dos refugiados já vinha mostrando ao longo destes anos;

Há duas formas de olhar para estas minhas conclusões: de uma forma catastrofista ou, pelo contrário, vendo cada uma das oportunidades que emerge daqui. Estas mesmas conclusões estão à disposição dos políticos e, ao mesmo tempo que se combate a pandemia, é a altura de tomar decisões importantes para enfrentar o “pós-guerra”. Sim, a guerra é terrível mas já é altura de pensar no pós-guerra e, neste momento, é do pós-guerra que eu tenho medo!